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O que a ciência diz sobre o amor?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 16 de Agosto de 2022 às 08h30

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Alexandru Acea/Unsplash
Alexandru Acea/Unsplash

Você já se apaixonou por alguém? Sentiu frio na barriga ao encontrar uma determinada pessoa, ou apenas ao se deparar com aquela mensagem que alegrou o seu dia? Já sentiu o coração acelerar ao sentir o toque de uma pessoa amada? Tudo isso é ciência! Por isso, conversamos com especialistas de diversas áreas para entender como o corpo humano reage ao amor.

Esse tema de atração entre pessoas e o que existe por trás disso é um dos campos de estudo da neurociência, e quando se busca uma referência científica sobre o assunto, há uma divisão entre o que está relacionado ao amor (como a criação de laços) e a paixão (como a luxúria, o desejo).

De acordo com o psicólogo clínico Matheus Santacroce, apresentador do podcast Sala de Espera, o amor é definido pela psicologia como uma emoção complexa e envolve fortes sentimentos de afeição e cuidado com o outro. "Talvez mais universal na psicologia, seja a noção de estender a noção de amor para além de ser simplesmente sentimento, mas que diz respeito a uma complexa rede de comportamentos que temos em relação ao outro, a forma como tratamos e como somos tratados", afirma.

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Nesse sentido, o especialista sugere que as pessoas experienciam diferentes formas de amar e serem amadas. " Como é até mesmo de senso comum, as experiências que temos no começo da vida impactam/predizem parte de nosso funcionamento psicológico mais tarde, quando adultos. Amar e ser amado é uma possibilidade que existe em todos nós e está intimamente ligada com necessidades básicas que temos enquanto humanos e seres altamente sociais", pondera o psicólogo.

Uma teoria muito popular que traz um pouco dessa noção é a Teoria do Apego (Bowby, 1958), que propõe que a forma como estabelecemos nossas primeiras relações — como a relação inicial que um bebê estabelece com sua mãe — passa a servir como modelo de como nos relacionaremos mais tarde. Eventos críticos como pais negligentes, punitivos, ausentes ou certos contextos familiares influenciariam negativamente a forma como nos relacionamos com o amor ou a possibilidade de amar, por exemplo.

Por sua vez, Santacroce ressalta que a paixão tem muito a ver com excitação, ansiedade, idealização, não depende de uma grande intimidade para acontecer, é intensa e extremamente prazerosa. "Definitivamente é possível amar e ter momentos em que essa paixão reaparece na relação. Relacionamentos saudáveis podem vivenciar situações de intensa paixão pelo outro, como em uma viagem especial com a pessoa amada ou no vislumbre dos pequenos momentos e gestos do cotidiano", analisa.

Conforme podemos perceber do ponto de vista da psicologia, é natural que a pessoa amada passe a ocupar diversos espaços em nossa vida. "Quanto mais espaço e tempo dedicamos a uma relação, mais difícil é estar longe. Sentir saudades da pessoa amada, por assim dizer, é um bom sinal sobre o tipo de intimidade e relação que as pessoas possuem. Mas também é algo para se ficar de olho, pois se no processo de aproximação, nosso mundo todo vira uma pessoa só e nos afastamos de todo o restante — isso pode ser um fator de risco para muito sofrimento psicológico", alerta o profissional.

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Química do amor

Enquanto isso, Maria Clara Godoy — especialista em neuropsicologia e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) — aponta que as emoções são, de maneira geral, subsidiadas pela ação de diferentes neurotransmissores e hormônios no nosso corpo.

Segundo a especialista, a paixão dura até dois anos. Depois desse período, o amor romântico entra em outra fase, que é denominada de amor companheiro, caracterizada pela parceria, pela estabilidade da relação e por um nível maior de intimidade e companheirismo. Cada uma dessas fases possui alterações específicas no nosso cérebro.

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"Durante a paixão, notamos um aumento de alguns hormônios e neurotransmissores que estão geralmente relacionados a manifestação de alguns comportamentos mais característicos", aponta. Percebe-se, por exemplo, um aumento da ocitocina, que é um hormônio que favorece o apego, e é estimulado quando nasce uma criança. A ocitocina envolvida no apego traz aquele sentimento de conexão entre as pessoas, aquela ideia de que a pessoa é única, insubstituível.

"Outro hormônio que vemos ter um aumento grande é a dopamina, que é um neurotransmissor envolvido na motivação, no aumento de energia, na nossa propensão a realizar determinadas atividades. Quando pensamos na pessoa apaixonada, ela está muito motivada em encontrar seu objeto de paixão, em se dedicar à pessoa", aponta a especialista.

Um hormônio que também aumenta tipicamente em resposta ao cérebro apaixonado é o cortisol, muito conhecido por ser relacionado ao estresse. "Em situações estressantes, o organismo te prepara para lutar ou para fugir. Nesse caso, estamos falando em respostas de ansiedade, de hipervigilância, até uma certa insegurança, uma euforia. E a pessoa apaixonada, na presença do outro, sente isso", explica a neuropsicóloga.

Uma outra alteração que vemos no cérebro apaixonado é a redução da serotonina, um neurotransmissor relacionado a comportamentos obsessivos, compulsões. "A pessoa apaixonada só tem olhos, ouvidos e interesse na pessoa pela qual ela se apaixonou e isso parece ter relação com essa queda drástica de serotonina. É como se a pessoa fosse constantemente invadida por pensamentos relacionados ao seu objeto de paixão", acrescenta.

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Além disso, existem circuitarias cerebrais mais envolvidas nesse processo, como o córtex pré-frontal, que é uma região responsável pela inibição de determinados comportamentos, pela ponderação, e também os circuitos dopaminérgicos, que estão na área frontoestriatal, relacionada à motivação. "Notamos uma hipoativação do pré-frontal, ou seja, nosso comportamento de inibição, de ponderar, de tomar decisões mais racionais diminui, a pessoa apaixonada se torna mais impulsiva e a região dopaminérgica, responsável pela motivação, fica hiperativada, a pessoa fica muito motivada e impulsiva", disserta a neuropsicóloga.

Coração acelerado

Por que o coração acelera quando a pessoa está apaixonada? Segundo Francisco Maia da Silva, cardiologista, mestre e doutor em Ciências da Saúde e professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é preciso primeiramente entender que o coração é definido como um órgão involuntário, não depende do nosso cérebro, das nossas ordens.

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O professor explica que o coração funciona de forma diferenciada, por ter comandos involuntários. Está relacionado ao sistema nervoso central, através de dois nervos que conectam o coração ao nosso cérebro. Um desses nervos pertence ao sistema nervoso simpático e o outro ao parassimpático. O primeiro é categorizado como acelerador, enquanto o segundo é classificado como o freio, mediado pela acetilcolina.

Para que tenhamos uma harmonia e que o coração funcione bem de 50 a 100 batimentos por minuto, devemos ter uma integração, um equilíbrio entre o acelerador e o freio, isso serve para mantermos a nossa pressão arterial em torno de 120 por 80 (mmHg).

"Tendo em vista que o coração tem movimentos involuntários, mas está conectado ao sistema nervoso central, resulta sim na aceleração dos batimentos quando a pessoa está apaixonada. É uma aceleração muito prazerosa. A paixão mexe com o coração e ao mexer com esse órgão preconiza uma hiperatividade simpática, ou seja, aciona o acelerador. Muito comum nos começos de relacionamentos, quando chega perto da sua paixão, é muito comum as extremidades ficarem mais frias e sentir que o coração palpita", explica o cardiologista.

Além disso, em situações de amor e paixão teremos, além das palpitações, das extremidades frias, um aumento da pressão arterial.

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Existem os momentos que marcam o coração para raiva e os que marcam para paixão. "Para que haja o equilíbrio do funcionamento do coração, o simpático e o parassimpático devem estar alinhados. Em situações de grandes euforias com situações de alegria, essas ações estimulam o sistema nervoso simpático, quando temos situações negativas, também estimulam o simpático e temos palpitações e suamos frio", pontua o médico.

Frio na barriga

Quanto ao frio na barriga, a dra. Andressa Heimbecher, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), tem a resposta: "A norepinefrina é um hormônio liberado pela nossa supra-renal, que dá essa sensação de lutar ou fugir, liberada durante um gatilho emocional muito grande. Por isso sentimos frio na barriga".

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A especialista também afirma que a sensação de bem-estar acaba auxiliando o equilíbrio do organismo. "A gente vê que as pessoas que têm equilíbrio nas suas relações e estão felizes formam laços de amor, afeto, e isso ajuda a reduzir comportamentos impulsivos, irracionais, estabiliza o humor, o sono melhora. Se existe equilíbrio na área emocional, consequentemente existe equilíbrio na área física", opina.

A ciência ainda está longe de compreender por completo esse grande mistério chamado amor, mas o conhecimento que se tem atualmente já é de suma importância para entender nossos comportamentos.