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Molécula do carrapato pode se tornar remédio anticoagulante

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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 LanaSweet/Envato Elements
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Cientistas do Brasil e da Tunísia identificaram uma molécula na saliva dos carrapatos com propriedades anticoagulantes. No futuro, a descoberta pode ser usada em novos remédios para quem tem distúrbios da coagulação sanguínea, como pessoas com problemas cardíacos.

Publicado na revista científica Toxins, o estudo investigou as propriedades de uma molécula encontrada nas glândulas salivares da espécie Hyalomma dromedarii. Popularmente, o artrópode — que não é um inseto, mas sim um aracnídeo — é conhecido como carrapato de camelos do Deserto do Saara.

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A pesquisa contou com a participação de cientistas do Instituto Butantan, da Universidade de Tunis El Manar e do Instituto Pasteur, sendo os dois últimos localizados na Tunísia.

Por que pesquisar os carrapatos?

Pode parecer estranho um grupo de pesquisadores se interessar pelas propriedades da saliva de um carrapato, mas, na verdade, isso faz muito sentido e pode ser explicado pelos seus hábitos alimentares. Afinal, eles se alimentam de sangue e este não pode coagular.

“Para que possam se alimentar, eles precisam que o sangue do hospedeiro esteja fluido, por isso possuem moléculas com ação anticoagulante em sua saliva. Nós buscamos identificar essas moléculas para encontrar candidatos para o tratamento de doenças cardiovasculares, por exemplo”, explica Fernanda Faria, diretora do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Butantan e coordenadora do estudo.

Entenda a descoberta do possível anticoagulante

A molécula analisada no estudo se chama dromaserpina e é capaz de inibir o principal fator da coagulação no sangue, a trombina — uma proteína que atua na formação dos coágulos e interfere na agregação das plaquetas.

“Após selecionar a molécula para a pesquisa, nós fizemos a clonagem e a expressamos em bactérias. Depois, purificamos a molécula para caracterizar a sua estrutura e verificar a sua atividade em testes globais de coagulação sanguínea e seus fatores”, detalha a pesquisadora.

Em paralelo, o grupo de cientistas testou atividade da molécula na presença da heparina — um anticoagulante disponível há anos no mercado. “Existem evidências de que alguns inibidores de coagulação podem ser potencializados pela heparina. Foi o caso da dromaserpina: com a presença desse fármaco, a molécula apresentou uma atividade anticoagulante muito mais importante”, conta Faria.

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A partir do mês de março, o objetivo do grupo será investigar a atividade da molécula do carrapato em células no laboratório (in vitro). Caso os resultados da próxima etapa sejam positivos, os testes em animais (pré-clínicos) devem começar no próximo ano.

Fonte: Toxins Instituto Butantan