Imunidade cruzada contra zika e dengue dura mais do que se pensava
Por Redação | Editado por Luciana Zaramela | 23 de Novembro de 2021 às 10h30
Pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC), Universidade de Michigan e do Instituto de Ciências Sustentáveis em Manágua, descobriram que os anticorpos de proteção cruzada da dengue e do zika duram mais tempo do que se pensava anteriormente. O estudo foi feito com mais de quatro mil crianças da Nicarágua e os resultados foram publicados na Science Translational Medicine.
Durante 11 anos, Leah C. Katzelnick, da divisão de doenças infecciosas e de vacinas da UC, EUA, liderou a equipe de pesquisa. Em 2015, os pesquisadores do estudo conseguiram identificar os primeiros indícios sobre a proteção de anticorpos com reatividade cruzada. Isso aconteceu durante a epidemia que atingiu vários países do Caribe, América Central e do Sul, incluindo o Brasil.
À medida que os países lutavam contra a epidemia, o número de casos de dengue caiu drasticamente. Ambas doenças são causadas pelo vírus da mesma família (flavivírus) e transmitidas pelo Aedes aegypti. Dessa forma, aqueles que se recuperaram das infecções por dengue, teriam anticorpos de proteção cruzada capazes de neutralizar tanto uma quanto outra inflamação.
Imunidade cruzada
O sistema imunológico tem dois mecanismos de combate a um agente infeccioso: a imunidade inata e a adaptativa (também chamada de adquirida).
A inata é a primeira proteção que o corpo tem, nasce com a gente, porém, não gera uma resposta duradoura e de memória e serve para qualquer micro-organismo. Já a imunidade adaptativa produz uma proteção específica para cada corpo estranho que entra em contato com o corpo e é responsável pela memória imunológica.
Os linfócitos T, que identificam e matam células infectadas, e os linfócitos B, que fabricam anticorpos, são as células responsáveis por esse processo. Quando há o primeiro contato com qualquer corpo estranho, as células da imunidade inata vão entrar em ação para tentar barrá-lo e, ao mesmo tempo, enviam um sinal para que a imunidade adaptativa produza anticorpos e uma defesa mais eficiente e duradoura para combatê-lo.
Semelhança vantajosa para o sistema imune
Há proteínas semelhantes nos vírus que compõem a família da dengue e do zika, e essa semelhança faz com que os anticorpos se "encaixem" em mais de um deles. Quando há um segundo contato, as células e anticorpos da imunidade adquirida estarão prontas e a resposta do sistema imunológico será mais eficaz.
Descobertas
Para que isso fosse possível, os pesquisadores analisaram vários exames de sorotipos de dengue (vírus em circulação), definidos na análise como 1, 2, 3 e 4. Katzelnick explicou que os anticorpos perdiam sua potência neutralizante em cerca de dois anos e, nesses casos, as pessoas poderiam ficar vulneráveis a doenças causadas por outros sorotipos da dengue.
Contudo, uma infecção secundária com um sorotipo diferente induz anticorpos protetores de sorotipos cruzados estáveis, sendo que a proteção cruzada permaneceu estável por até 11 anos. Os cientistas usaram um exame de enzima chamado iELISA que mede os anticorpos associados à proteção contra a dengue e o zika.
Katzelnick disse que os títulos gerais do vírus da dengue iELISA se estabilizaram oito meses após a infecção primária da doença para uma meia-vida mais longa do que a vida humana, e depois diminuíram.
Segundo a pesquisa, essa meia-vida foi estimada em 130 mil anos. Além disso, os pesquisadores observaram que anticorpos de proteção cruzada que eram mais estáveis em crianças infectadas com o vírus Zika. Apesar disso, a quantidade de células de defesa de proteção cruzada difere entre as crianças, algo que indica que a quantidade de anticorpos determina o grau de proteção.
Com a descoberta, os pesquisadores esperam ampliar a compreensão sobre imunidade natural e a induzida pela vacina.