IA acha lesões cerebrais ocultas que médicos não veem em crianças com epilepsia
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Em estudo publicado na revista Epilepsia, pesquisadores australianos desenvolveram uma ferramenta de inteligência artificial (IA) capaz de identificar pequenas lesões cerebrais em crianças com epilepsia que muitas vezes passam despercebidas em exames tradicionais.
A novidade na área médica promete acelerar diagnósticos com tecnologia e permitir cirurgias mais precisas, oferecendo esperança para pacientes com crises de difícil controle.
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A epilepsia afeta aproximadamente uma em cada 200 crianças, e cerca de um terço dos casos não responde aos medicamentos disponíveis. Em muitos desses pacientes, a causa está ligada a displasias corticais, que são pequenas malformações no cérebro que desencadeiam as crises.
O problema é que essas lesões podem ser minúsculas e ficam escondidas em dobras cerebrais. Por isso, até 80% dos exames de ressonância magnética (MRI) acabam não revelando alterações, atrasando a possibilidade de cirurgia e prolongando o processo de tratamento.
Como a IA auxilia os médicos
A equipe do Murdoch Children’s Research Institute (MCRI) e do Royal Children’s Hospital, em Melbourne, treinou um sistema de IA para analisar imagens de ressonância magnética como um “detetive digital”, destacando áreas suspeitas do cérebro para que médicos e radiologistas possam confirmar a anomalia. Assim, o tempo entre o início dos sintomas e a definição do tratamento cirúrgico pode ser reduzido de forma significativa, fazendo toda a diferença.
Nos primeiros grupos de teste, que envolveram 71 crianças e 23 adultos com epilepsia focal, a IA detectou lesões invisíveis a olho nu em exames anteriores. Entre os pacientes pediátricos, 12 passaram por cirurgia e 11 estão atualmente sem crises, representando uma taxa de sucesso impressionante.
Casos como o de John, um menino de 11 anos que conviveu com múltiplas convulsões diárias por anos, ilustram o impacto da tecnologia. Após a detecção precisa da lesão e a cirurgia guiada pelas informações da IA, ele não apresentou mais crises, recuperando sua qualidade de vida.
Próximos passos e perspectivas
Apesar dos avanços, especialistas destacam que a ferramenta não substitui a análise humana. De qualquer forma, o próximo objetivo dos pesquisadores é validar o uso da tecnologia em hospitais pediátricos de diferentes regiões, avaliando a eficácia clínica e a percepção de pais, crianças e médicos em relação à introdução da inteligência artificial no diagnóstico.
A pesquisa com a IA abre caminho para que mais crianças com epilepsia resistente a medicamentos possam ter acesso rápido a cirurgias curativas.
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