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Existe relação entre sono profundo e zumbido no ouvido?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Maio de 2022 às 22h00

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jcomp/Freepik
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Cientistas acreditam ter encontrado ligação entre o sono profundo e o zumbido (ou tinnitus, no termo médico) no ouvido, condição que afeta cerca de 15% da população mundial, caracterizada pela audição de um som contínuo sem fonte externa. Incurável, a doença é frequentemente associada à perda do sentido auditivo, e pode afetar a saúde mental, causando estresse ou depressão, por exemplo.

A nova pesquisa, liderada por pesquisadores da Universidade de Oxford, investigou o sono e sua ligação com o zumbido. A condição em si é uma percepção fantasma, ou seja, um engano do cérebro que nos faz identificar coisas que não estão ali. Grande parte das pessoas só tem esse tipo de experiência quando está dormindo.

Algumas áreas do cérebro ficam mais ativas quando o zumbido acontece, como as envolvidas com a audição, ou seja, a doença altera a atividade cerebral. O mesmo acontece durante o sono, o que explica as percepções fantasmas. No estudo, publicado na revista Brain Communications, os mecanismos que regem o zono e o zumbido foram identificados e seguiram para maiores investigações.

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A relação entre zumbido e sono

Há múltiplos estágios do sono. Um dos mais importantes é o sono de ondas curtas, ou sono profundo, quando mais descansamos. Nele, a atividade cerebral manda ondas para várias áreas diferentes, ativando grandes porções do cérebro de uma só vez, incluindo as ligadas à memória e processamento de sons. Acredita-se que isso permite a recuperação dos neurônios do cansaço do dia, nos fazendo sentir descansados e ajudando com a memória.

Mas não é toda área do cérebro que recebe essas ondas — elas ocorrem mais nas áreas mais ativas quando estamos acordados, como as responsáveis por funções motoras e visão. Às vezes, certas áreas do cérebro acabam ficando hiperativas durante essa fase do sono, causando problemas como sonambulismo. Aparentemente, é o que acontece com quem tem o zumbido.

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Isso pode explicar porque alguns pacientes com zumbido têm distúrbios do sono e terrores noturnos com maior frequência do que pacientes sem a condição. Quem tem o zumbido também fica no sono leve por mais tempo, o que levou os cientistas a concluir que a doença impede a atividade de ondas curtas do cérebro necessárias para o sono profundo, facilitando o despertar.

A pesquisa também englobou a percepção reversa: em algumas situações de sono profundo avaliadas, o zumbido não as afetou, sendo possível que a atividade cerebral durante o sono mais profundo, na verdade, suprime o zumbido. Acredita-se que, após longas horas acordado, o cérebro coloca os neurônios em atividade de ondas curtas para se recuperar. Quanto mais neurônios nesse modo, mais forte é o impulso para que outras áreas do órgão façam o mesmo.

E como o impulso para dormir costuma acontecer mais nas regiões mais ativas durante a vigília, os cientistas acreditam que o zumbido possa estar sendo suprimido como resultado desse processo. As ondas curtas também interferem na comunicação entre áreas do cérebro: no sono profundo, isso pode impedir regiões hiperativas de afetar outras áreas e interromper o sono. Isso explica porque algumas pessoas com zumbido ainda entram em sono profundo e porque a condição é suprimida durante o processo.

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E o tratamento?

Agora, a ideia dos pesquisadores é estudar uma maneira de manipular o sono para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com zumbido, como, por exemplo, reduzir interrupções no sono e aumentar a atividade de ondas lentas no cérebro. Isso pode ser feito quando o paciente é induzido a dormir apenas quando está cansado.

O sono profundo é o principal suspeito, mas há outras etapas sendo estudadas para tentar identificar sua relação com o zumbido, mesmo que tenham menor influência na condição. Para isso, registros da atividade cerebral serão realizados, segundo os cientistas. Já se sabe que a intensidade do zumbido pode mudar ao longo do dia — é hora de investigar como ele muda durante o sono para entender essas flutuações.

Fonte: Brain Communications