Coronavírus x H1N1: por que não dá para comparar as duas pandemias?
Por Natalie Rosa |

Já se passaram mais de 10 anos desde a última pandemia, a do H1N1, mas já estamos presenciando uma nova, como classificou a OMS (Organização Mundial de Saúde). Dessa vez, quem chegou para aterrorizar o mundo é um novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença COVID-19 que, apesar de ser um pouco menos grave que a gripe suína, tem um contágio muito mais fácil e rápido.
A COVID-19 conta com uma taxa de mortalidade menor, e os sintomas, na maioria das vezes, são sentidos de forma leve, sendo mais pesados e letais para pessoas que estão dentro de um grupo de risco que conta com idosos (acima dos 60 anos), portadores de doenças respiratórias ou cardíacas, diabetes, ou quem está se tratando de câncer.
Lá em 2009, a H1N1 preocupou todo o mundo pela sua gravidade, mas não foi preciso estabelecer medidas tão extremas de isolamento à toda a população, ao contrário do que está acontecendo no cenário atual. A pandemia de quase 11 anos atrás, no entanto, é um pouco diferente da que estamos vivendo neste momento, seja em relação ao vírus e à doença, quanto ao impacto econômico. Para entender melhor esses dois cenários, conversamos com alguns profissionais do assunto, como a economista Nadja Heiderich, que nos contou algumas diferenças sobre essas duas pandemias e como isso impactou na saúde do país.
Nadja destacou que não há nenhum tipo de imunidade contra o novo coronavírus, fazendo com que ele seja mais transmissível que o H1N1. Além disso, em 2009 já existia um medicamento comprovado no combate à gripe suína, o Tamiflu. "No caso do novo coronavírus, ainda não há medicamento comprovadamente eficaz, e a vacina deve demorar ainda mais de um ano para ser produzida em larga escala depois da comprovação do testes em humanos", conta a economista.
Conversamos ainda com a Dra. Fabianne Carlesse, infectologista do GRAACC, que também destacou as principais diferenças entre as doenças. “O poder de transmissibilidade do vírus H1N1 é menor que o da COVID-19. Um paciente com H1N1 infecta 1,5 a 2 outros, enquanto a COVID-19 pode infectar até 3,5 pessoas por paciente. Fora isso, temos a gravidade dos casos e o acometimento de pessoas mais velhas com COVID-19, o que sobrecarrega os sistemas de saúde; por isso as medidas de isolamento são tão necessárias atualmente”, explica.
Até o momento, Nadja conta quais foram as medidas adotadas pelo Governo Federal:
- Pagamento de R$ 600,00 a informais;
- Antecipação do 13° de aposentados e pensionistas;
- Adiamento do recolhimento do FGTS e pagamento dos Simples Nacional por três meses;
- Reforço do Bolsa Família em 3,1 bilhões e novos saques do FGTS, R$ 21,5 bilhões;
- R$ 40 bilhões em crédito para pagamento de folha de salários por 2 meses;
- Crédito a pequenas e micro empresas para capital de giro em R$ 5 bilhões;
- O Banco Central do Brasil vem fazendo esforço para injetar liquidez no mercado por meio de medidas que liberam R$ 1,2 trilhão para a economia, como por exemplo, a redução dos depósitos compulsórios.
Isolamento absoluto
Muito vem se falando sobre a necessidade de um isolamento absoluto, mesmo levando em conta os problemas econômicos e sociais que virão como consequência, e por isso questionamos os entrevistados sobre suas opiniões como profissionais. Dra. Fabianne diz apoiar a medida, afirmando que é preciso ficar em casa para impedir a propagação do vírus até que tenhamos condições de lutar contra ele. Nadja também diz ser a medida mais adequada, mas que o isolamento deve ser feito de forma mais ordenada e planejada "para evitar efeitos de manada pela desinformação, acarretando em falta de produtos, como aconteceu com o gás de cozinha".
A economista ressalta ainda que a questão logística é importante e que os equipamentos de saúde precisam chegar ao seu destino com agilidade, assim como os alimentos. "Não podemos ter crise de abastecimento, pois agravaria todo o cenário", alerta.
Dr. João Prats também diz acreditar que é preciso de uma melhor organização na questão do isolamento total para que os fatores econômicos e sociais não sejam prejudicados, citando que estudos sobre o contágio não chegam a mostrar esse problema. "É uma medida que funciona. Mas como, por quanto tempo, e quais são os impactos econômicos-sociais são fatores mais difíceis para se formar uma opinião. [O isolamento] É muito complexo, precisa ser usado de maneira criteriosa, de acordo com a situação de cada região no país", finaliza.