Cientistas testam técnica de edição genética contra anemia falciforme
Por Rafael Rodrigues da Silva |
Na última semana, cientistas dos Estados Unidos utilizaram, pela primeira vez no país, uma técnica de edição genética chamada CRISPR para tentar curar uma doença genética em um ser humano. O caso ocorreu com a paciente Victoria Gray, uma mulher de 41 anos que sofre de anemia falciforme, uma condição genética que modifica o formato dos glóbulos vermelhos do sangue e causa diversos problemas aos organismo.
Os pacientes que nascem com essa doença genética não produzem a proteína beta-hemoglobina, responsável por deixar os glóbulos vermelhos do sangue redondos e lisinhos para garantir o pleno transporte de oxigênio pelo corpo. Em vez disso, as pessoas que sofrem de anemia falciforme produzem uma proteína chamada hemoglobina S, que torna os glóbulos vermelhos rígidos e em formato de “U”, o que faz com que essas células se prendam nas extremidades das veias e estourem prematuramente, impedindo que a quantidade correta de oxigênio seja distribuída e, assim, fazendo com que os portadores da doença se sintam sempre cansados.
Por enquanto, o único tratamento disponível é um transplante que só funciona em 10% dos pacientes. Mas o novo tratamento que está sendo tentado em Gray é o de efetuar uma alteração genética na própria medula óssea da paciente, corrigindo o problema de nascença e fazendo com que o organismo passe, aos poucos, a produzir glóbulos vermelhos no formato correto e suplante os de formato errado, curando-se sozinho da anemia. Caso dê certo, este tratamento poderá representar a cura que os portadores deste tipo de anemia esperam há anos, além de servir de “chute inicial” para que a técnica CRISPR seja usada também para a cura de outras doenças de origem genética.
Apesar de ser a primeira paciente nos Estados Unidos, Gray é a segunda pessoa no mundo a passar por um tratamento de edição genética. O primeiro paciente a passar por este tipo de tratamento não foi identificado, mas o procedimento ocorreu na Alemanha em fevereiro deste ano para tentar curar a Talassemia (outro tipo de doença genética do sangue que causa anemia) e, de acordo com informações recentes, este paciente tem se recuperado bem e não mais precisa receber transfusões de sangue.
Mas isso não quer dizer que o tratamento não seja arriscado. Isso porque essa modificação de gene é feita em apenas uma célula da medula, que é retirada do corpo enquanto os cientistas matam todas as outras células do tipo com radiação e quimioterapia antes de inseri-la de volta no organismo. Isso deve ser feito porque, caso apenas se insira a célula modificada, o corpo continuará produzindo os glóbulos vermelhos errados em um ritmo muito maior do que o correto.
A partir de então, deve-se esperar apenas que as células modificadas se multipliquem e produzam os glóbulos vermelhos corretos, enquanto aqueles no formato estranho vão naturalmente diminuindo em quantidade. Esse processo de adaptação pode demorar e ser bastante doloroso para o paciente; por isso, é necessário que se tenha absoluta certeza de que a técnica é 100% eficaz antes de torná-la uma alternativa para os portadores deste tipo de doença.
Mesmo que ainda estejamos muito longe de saber se esse tratamento realmente funcionará, a comunidade científica está otimista, confiante de que a alteração de genes pode ser uma ferramenta utilizada para tratar doenças até então consideradas incuráveis, o que possibilitará toda uma nova era na medicina.
Fonte: Popular Science