Cérebro pode ser permanentemente afetado após uma única dose de álcool
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para o cérebro, uma única dose de álcool pode causar alterações permanentes nas sinapses nervosas e no comportamento das mitocôndrias, segundo cientistas alemães. Além disso, este primeiro contato pode levar pacientes — com algum tipo de predisposição — ao vício, especialmente quando se tem menos de 18 anos.
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Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), o estudo sobre o impacto da exposição ao álcool e as alterações no cérebro foi liderado por pesquisadores da Universidade de Colônia, na Alemanha.
"Nossos dados sugerem que uma única exposição ao álcool induz mudanças plásticas [no cérebro] que, por sua vez, podem contribuir para a base da dependência ao álcool", afirmam os autores. No entanto, a descoberta ainda é preliminar e deve ser confirmada em testes com humanos, já que o estudo foi feito com moscas e roedores.
Como uma única dose de álcool afeta o cérebro?
Segundo os pesquisadores, a exposição do organismo ao álcool pode afetar o mecanismo responsável pela sensação de recompensa e provocar o vício, mesmo que tenha sido ingerida uma única dose. Isso porque, a partir dos testes com animais, foi possível observar alterações em dois principais pontos:
- Mudança na dinâmica mitocondrial;
- Alteração no equilíbrio entre as sinapses nos neurônios.
Para entender o impacto dessas alterações no cérebro, vale explicar que as mitocôndrias são as organelas que fornecem energia às células e, por isso, são fundamentais para a atividade das células nervosas. No processo de fornecimento de energia, elas se movem. Entre aquelas que tiveram contato com o álcool, o movimento foi alterado.
Além disso, o equilíbrio químico entre sinapses específicas também foi perturbado após uma única dose. Em ambos os casos, as mudanças permaneceram e, segundo os autores, causaram alterações comportamentais nos animais. As cobaias tinham maior propensão ao consumo do álcool e ao vício.
“Esses mecanismos podem ser relevantes para a observação em humanos de que a primeira intoxicação alcoólica em idade precoce é um fator de risco crítico para a intoxicação alcoólica posterior e o desenvolvimento do vício em álcool”, explica Henrike Scholz, professor da universidade e um dos autores do estudo, em comunicado. Agora, mais estudos são necessários para confirmar os efeitos em humanos e qual dose pode ser responsável por este impacto permanente.
Fonte: Pnas e Universidade de Colônia