50 transplantes de face já foram feitos no mundo, e isso é maravilhoso
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •

Os transplantes de face ainda são cirurgias altamente complexas e restritas a alguns poucos centros médicos no mundo. De 2005 até 2021, foram registrados apenas 50 procedimentos do tipo. Embora o número total seja baixo, os avanços já alcançados são maravilhosos e o risco de rejeição é similar ao de outros transplantes de órgãos.
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Nesses quase 20 anos, 39 homens e nove mulheres passaram por um transplante de face — a soma é menor que 50, porque dois pacientes realizaram o procedimento duas vezes. É o que afirma uma equipe internacional de cientistas, após revisar os dados sobre o tema.
A maioria das cirurgias de transplante de face ocorreram na Europa, totalizando 29 procedimentos do tipo. América do Norte (19), China (1) e Rússia (1) também realizaram procedimentos do tipo, segundo estudo recém-publicado na revista revista JAMA Surgery.
Primeiro transplante de face da história
Os transplantes de face dão um passo além dos limites da cirurgia reconstrutiva facial mais tradicional. Afinal, esses procedimentos pioneiros podem envolver o transplante de pele, de ossos e até de olhos inteiros, dependendo da necessidade do paciente. Às vezes, a cirurgia dura quase um dia.
O primeiro dessa série histórica é o transplante de face parcial de Isabelle Dinoire, em novembro de 2005. Ela perdeu parte do rosto após ser atacada por um cachorro. Durante o procedimento feito na França, os médicos transplantaram novos lábios, nariz e queixo. Desta vez, ocorreram eventos de rejeição e de perda parcial do enxerto. A paciente morreu em consequência de um câncer em 2016.
Outros casos envolvem o transplante de rosto do bombeiro Patrick Hardison, nos EUA, após uma longa cirurgia de 26 horas, em 2015. Também chama a atenção o primeiro transplante combinado de rosto e de mãos bem-sucedido do mundo, em 2020, também feito por norte-americanos. O caso envolveu Joe DiMeo que sofreu um grave acidente de carro associado a uma explosão.
Muito mais recente, o norte-americano Aaron James passou por um transplante facial, incluindo o transplante de um olho inteiro (este não é funcional, mas as células respondem em testes). A cirurgia ocorreu após perder parte do rosto em um acidente envolvendo eletricidade. Como a cirurgia de 21 horas, com 140 médicos, foi no ano passado, o caso não entrou no recente estudo.
Taxa de sobrevivência após transplante
Considerando os 50 casos analisados, "a sobrevida de 5 e 10 anos dos transplantes de face, levando em consideração as perdas de transplante e as mortes de pacientes, foi de 85% e 74%, respectivamente”, afirmam os autores, em artigo.
O resultado é bastante próximo e até superior ao de alguns transplantes de órgãos mais convencionais. Em caso de transplante de rins, a taxa de sobrevivência de 10 anos é de até 56%.
“A maioria dos pacientes com problemas faciais graves pode ser tratada com métodos convencionais, mas há aqueles cuja condição é muito complexa para isso”, explica Pauliina Homsy, pesquisadora do Hospital Universitário de Helsinque (Finlândia) e autora do estudo, em nota. É para estes casos bastante específicos que os transplantes de face são indicados.
Inclusive, “a taxa de sobrevivência encorajadora do transplante facial sugere que a cirurgia pode ser uma opção reconstrutiva de longo prazo para esses pacientes”, completa Homsy.
Fonte: JAMA Surgery, EurekAlert