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Mark Zuckberg abre guerra contra seus funcionários ao não banir posts de Trump

Por| 03 de Junho de 2020 às 16h50

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Mark Zuckberg abre guerra contra seus funcionários ao não banir posts de Trump
Mark Zuckberg abre guerra contra seus funcionários ao não banir posts de Trump
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E eis que Mark Zuckerberg terá semanas agitadas pela frente no que se refere à administração de seus funcionários. Isso porque o CEO e co-fundador do Facebook afirmou na última terça-feira que não fará nada em relação aos posts inflamatórios do presidente Donald Trump em relação aos conflitos raciais que tomam conta dos EUA. As informações são do jornal The New York Times.

Em uma sessão de perguntas e respostas com funcionários da companhia, realizada por meio videochamada, Zuckerberg afirmou que a decisão de manter as declarações do presidente dos EUA nas redes sociais foi "muito difícil", mas que foi muito bem pensada". O fato levou o Facebook a uma a feroz discórdia interna, com centenas de funcionários realizando uma “paralisação” virtual na última segunda-feira (1º), usando o envio de mensagens automatizadas. como forma de protesto contra a definição.

Durate a teleconferência, Zuckerberg afirmou que "os princípios e políticas do Facebook que apóiam a liberdade de expressão mostram que a ação certa a ser tomada agora é deixar isso para lá", referindo-se às postagens de Trump. O áudio da ligação dos funcionários foi ouvido pelo Times.

Zuckerberg disse saber que a sua decisão chatearia em relação ao Facebook. No entanto, uma revisão de política da empresa corroborou sua decisão. Ele acrescentou que, depois de fazer valer sua determinação, recebeu uma ligação do próprio Trump. "Eu aproveitei a oportunidade para fazê-lo saber que eu sentia que este post era inflamatório e prejudicial e que ele soubesse onde estávamos", afirmou o executvio aos seus funcionários. Mas, embora tenha expressado descontentamento ao presidente, ele reiterou que a mensagem de Trump não quebrou as diretrizes da rede social.

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O CEO do Facebook se manteve firme enquanto a pressão sobre ele para rotular as mensagens de Trump se intensificava. Grupos de direitos civis disseram na última segunda-feira, depois de se reunir com Zuckerberg e Sheryl Sandberg, diretora de operações da companhia, que era "totalmente confuso" que a empresa não estivesse adotando uma posição mais rígida nas postagens de Trump, que geralmente são agressivas e aumentaram tensões sobre protestos contra a violência policial nos últimos dias. Em uma das publicações do mandatário norte-americano, feitas na última sexta-feira (29/5), ele escreveu que "Quando os saques começam, os tiros também". O conteúdo foi rotulado pelo Twitter como incitação à violência, mas o Facebook preferiu não fazer nada.

As justificativas para manter os posts de Trump

Durante a videoreuniao com seus funcionários na última terça-feira, Zuckerberg passou 30 minutos divulgando o que havia acontecido com as postagens de Trump. Ele disse que a mensagem que fazia referência a saques e tiros do presidente, divulgada na sexta-feira, foi imediatamente identificada pela equipe de políticas do Facebook. Logo pela manhã do mesmo dia, o executivo recebeu um e-mail sobre a publicação e seu time ligou para a Casa Branca, afirmando às autoridades de lá que a mensagem de Trump era inflamatória.

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Na sequência, Zuckerberg passou o resto da fatídica sexta-feira conversando com autoridades políticas e outros especialistas do Facebook. Ao final, ele decidiu que o post de Trump não violou as políticas da rede social. Para manter a sua decisão, ele disse que a publicação do presidente dos EUA se baseia em um apelo ao "uso estatal da força", o que é permitido sob as diretrizes do Facebook . Ele disse que, no futuro, a rede social poderá reavaliar essa política, dadas as fotos e vídeos do uso excessivo da força pela polícia que se espalharam pelas mídias sociais nos últimos dias.

Depois de explicar sua linha de raciocínio, Zuckerberg fez perguntas aos funcionários na reunião em questão. Um funcionário do escritório da empresa, em Nova York, expressou apoio à decisão do CEO. Mas a grande maioria das perguntas foi mais questionadora e a videoconferência se tornou cada vez mais tensa.

Entre as perguntas mais inquisidoras, Zuckerberg foi questionado se algum funcionário negro do Facebook foi consultado no processo de tomada de decisão. Ao nomear um, que trabalhana filial da rede social em Austin, Texas, o o mesmo afirmou que achava que a política da empresa não estava funcionando e precisava ser alterada.

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Outros funcionários também questionavam uma suposta subserviência do Facebook em relação ao presidente norte-americano: "Por que as pessoas mais inteligentes do mundo estão focadas em contorcer e distorcer nossas políticas para evitar antagonizar Trump?" um deles perguntou.

Ainda assim, a ligação não conseguiu acalmar os funcionários. Varios deles - entre atuais e antigos - disseram que a reunião virtual apenas aprofundou os atritos dentro da empresa."Hoje está claro que a liderança se recusa a ficar conosco", twittou Brandon Dail, engenheiro do Facebook, sobre a conversa.

No entanto, em um comunicado, uma porta-voz da rede social disse que "discussões abertas e honestas sempre fizeram parte da cultura do Facebook" e que Zuckerberg estava "grato" pelo feedback dos funcionários.

Demissões em protesto

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A decisão de Zuckerberg em manter as publicações de Trump no Facebook resultou no pedido de demisão de vários funcionários, em protesto. Um deles, inclusive, disse publicamente que a empresa "acabaria no lado errado da história".

A dissidência interna começou a surgir na última semana, depois que o Twitter das rotulagens do Twitter nos posts de Trump, o que, como já foi dito, acabou não ocorrendo no Facebook, onde os mesmos conteúdos foram pubicados. Essa decisão enfureceu os funcionários do Facebook, sendo que muitos argumentaram que era impossível ignorar o fato de que as mensagens de Trump incitavam violência. Eles disseram que Zuckerberg estava se curvando aos republicanos por medo de que o Facebook fosse regulamentado ou desmembrado.

Com o aumento no volume das críticas, Zuckerberg e Sandberg se viram obrigados a passar os últimos dias se reunindo com funcionários, líderes de direitos civis e outras partes igualmente revoltadas, para explicar a posição da empresa. O CEO afirmou que o Facebook não quer ser um "árbitro da verdade". Ele também disse que defende a liberdade de expressão e que o que os líderes mundiais postam online é de interesse público e digno de nota.

Ainda assim - ou por causa delas - as justificativas de Zuckerberg não acalmaram quase ninguém. Os funcionários do Facebook continuaram a criticar sua empregadora não apenas em suas páginas pessoais na plataforma, mas também no Twitter e LinkedIn. Houve até mesmo petições online pedindo a remoção das postagens de Trump e mudanças nas políticas da empresa.

Entre os protestos públicos que chegaram a níveis mais extremos, está o de Timothy Aveni, engenheiro de software do Facebook. Ele pediu demissão da companhia após a decisão de Zuckerberg em manter as postagens de Trump. A decisão, inclusive foi divulgada em sua página pessoal no próprio Facebook na segunda-feira. Segundo sua postagem, a empresa não estava aplicando suas próprias regras de proibir o discurso que promove a violência.

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"O Facebook continuará movendo os postes sempre que Trump escalar, encontrando desculpas após desculpas para não agir diante de uma retórica cada vez mais perigosa", afirmou o engenheiro.

Para além dos funcionários do próprio Facebook, a decisão de Zuckerberg também gerou protestos externos. Na última segunda-feira, Vanita Gupta, que lidera a Conferência Nacional de Liderança sobre Direitos Civis e Humanos, participou de uma ligação de uma hora com Zuckerberg, Sandberg e outros funcionários da rede social. Após a conversa, ela disse que Zuckerberg "traiu a falta de entendimento" e comparou a inação da rede social nas postagens de Trump à inação em Mianmar e nas Filipinas, onde líderes militares e governamentais usaram a mesma plataforma para espalhar desinformação e provocar violência .

Mais tarde, naquela noite, Sandberg publicou um posicionamento da conversa com os líderes de direitos civis no quadro de mensagens interno do Facebook. Lá, ela descreveu o diálogo como “duro, mas significativo”. Para completar, manifestantes apareceram na última segunda-feira no bairro onde Zuckerberg mora, em Palo Alto, na Califórnia, e também foram para a sede da rede social na vizinha Menlo Park para protestar.

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Melhor não brigar?

Na visão de muitos, a decisão de Zuckerberg em manter as postagens de Trump foi para evitar maiores atritos com o presidente norte-americano, depois que, na última semana, ele ameaçou as empresas de redes sociais com o endurecimento de uma lei federal, que, há muito tempo, protege não apenas o Facebook, mas também Twitter e Google (principalmenteo YouTube), de serem responsabilizados pelo material publicado pelos seus usuários.

Na última quinta-feira (28/5), Trump cumpriu a ameaça. Ele assinou uma ordem executiva que exige que a Comissão Federal de Comunicações (FCC) revise o significado da Seção 230, presente na chamada Lei de Decência das Comunicações, de forma que deixaria as redes sociais muito mais vulneráveis a processos judiciais - e, claro, um belíssimo aumento nos gastos dessas empresas.

Em outras palavras, Donald Trump quer retirar a proteção da Seção 230 de todas as plataformas que ele considera anti-conservadoras, responsabilizando-as por aquilo que seus usuários publicam. Considerando que todas as decisões da FCC são submetidas à votação - cuja comissão é de maioria republicana - dificilmente uma plataforma alinhada à visão política do presidente sofreria os mesmos efeitos de Facebook, Twitter e cia.

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A parte boa de todo esse absurdo é que a ordem executiva de Trump serve mais para pressionar as empresas de mídia social, do que ter um efeito legal prático. Isso porque a FCC não tem autoridade jurídica para fazer cumprir a Seção 230 e também pode se negar a elaborar as regras do mandatário norte-americano, por ser uma agência independente. Além disso, a Eletronic Frontier Foundation (EFF), uma entidade que defende os direitos na internet, afirmou em seu site que, além do decreto ser um ataque à liberdade de expressão online, "o pedido final de Trump não sobreviverá a um escrutínio judicial".

O fato é uma interpretação da FCC sobre a Seção 230 também não teria um efeito legal, já que o Congresso dos EUA nunca concedeu à entidade nenhuma autoridade. Com isso a lista de práticas que a agência criar poderia ser solenemente ignorada pelas plataformas.

Fonte: The New York Times