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Inspiradores | Conhece algum influencer surdo? A gente te mostra alguns

Por| 07 de Maio de 2020 às 17h39

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Inspiradores | Conhece algum influencer surdo? A gente te mostra alguns
Inspiradores | Conhece algum influencer surdo? A gente te mostra alguns

Um ponto positivo da era digital é que um público que normalmente não tem a oportunidade de se expressar em outras mídias, como a televisão, passa a ter a chance de conquistar o próprio espaço em meio às redes sociais, compartilhando um pouco de sua realidade e chegando a não apenas impactar pessoas que normalmente não têm o costume de ver essa realidade no dia a dia, como também trazer identificação naqueles que se enquadram na vivência em questão. E esta matéria do Canaltech faz parte de uma série especial sobre influencers inspiradores, que trabalham essa questão da inclusão.

Nesse caso, apresentamos influencers com surdez, que em meio a um conteúdo pouco presente nas redes sociais, conquistam cada vez mais espaço para expor detalhes de seu cotidiano, que normalmente as pessoas ouvintes não param para pensar. Um exemplo disso é a falta de legendas em vídeos do YouTube.

Mas antes de tudo, a equipe do Canaltech conversou com o Dr. Fausto Nakandakari do Hospital Sírio Libanês, especialista em Otorrinolaringologia pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, para entender melhor sobre a surdez que, segundo ele, é um termo que engloba muitas causas. “Basicamente, a gente precisa diferenciar aquele paciente que teve uma perda profunda e já falava, e aquele paciente que nasceu surdo. Existe uma diferença muito grande, porque se você tem audição e por algum motivo teve uma perda auditiva profunda, não vai deixar de falar. Você já aprendeu a falar. E existe outra situação, na qual o paciente nasceu surdo e não aprendeu a falar”, explica.

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O profissional conta que, muitas vezes, ainda hoje em dia, o paciente acaba tendo um diagnóstico tardio, o que retarda o aprendizado da linguagem, gerando um paciente considerado pela área da Otorrinolaringologia como surdo-mudo. “Hoje em dia, há uma lei na qual a criança precisa sair do hospital como uma triagem auditiva neonatal, na qual faz um exame para investigar se ela pode ou não apresentar a surdez. Então, uma fonoaudióloga faz esse exame e detecta [ou não surdez]. Alguns pacientes não passam nesse exame e acabam passando no otorrino, que faz um diagnóstico mais preciso para ver se vai encaminhar para uma cirurgia para evitar que a criança em questão tenha um atraso de linguagem", afirma.

De acordo com o otorrino, por conta dessa lei federal, o diagnóstico é muito mais precoce e isso também ajuda no que diz respeito à evolução do paciente. Ele conta que aqueles pacientes que são reabilitados até os 2 anos têm chance de levar uma vida com a audição praticamente intacta, e com o aprendizado da linguagem. Por sua vez, pacientes que são identificados a partir dos 2 anos acabam tendo mais dificuldade.

Um fato muito importante quando se trata desse assunto é que o caso da pessoa surda é diferente do caso da pessoa com deficiência auditiva. “Deficiente auditivo está relacionado a qualquer tipo de perda: desde aquela senhora que pelo envelhecimento acabou com uma perda auditiva, até aquele paciente com surdez. A surdez em si a gente usa como sinônimo para perda auditiva profunda. Já a deficiência auditiva pode ser qualquer grau”, explica Fausto.

O especialista afirma que primeiro é preciso identificar o grau dessa perda auditiva, pois existem graus variados. O exame mais realizado é a audiometria, na qual o paciente entra numa cabine e o grau da deficiência auditiva é avaliada. Dentro desse tipo de exame, a ideia é que os profissionais possam compreender o porquê desse paciente ter a perda. "Então pode ser uma infecção, uma alteração no martelo, bigorna ou estribo [ossículos do ouvido], ou propriamente uma operação no funcionamento da via auditiva. Pode ser líquido dentro do ouvido também, por exemplo", conta.

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Influencers surdos ganham espaço nas redes sociais

Certo. Agora que você está um pouquinho mais a par de como funciona a surdez e a diferença entre uma pessoa surda e uma pessoa com deficiência auditiva, apresentamos alguns digital influencers que mostram um pouco mais dessa realidade para as pessoas. É o caso de Léo Viturinno, por exemplo, especialista em Libras e atualmente professor de Libras na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.

Além das redes sociais onde costuma compartilhar seu conteúdo, Léo tem o canal no YouTube desde 2016. "Eu tinha vergonha de mostrar minha condição de ser surdo e 'assumir' a minha língua (Libras) publicamente nas redes sociais. Quando eu decidi levar a sério o trabalho de YouTuber, em 2016, tive suporte dos meus amigos ouvintes mais próximos. Não fiz nenhum curso pra ser designer ou marketing digital. Isso veio depois com o aprimoramento e o reconhecimento dos meus seguidores e da própria plataforma", conta. Léo chegou a ser um dos participantes do YouTube NextUp 2018.

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Questionado sobre como a surdez é encarada pelas pessoas em geral, Léo disserta: "A sociedade já estigmatiza a minha surdez como deficiência. Essa coisa de dizer que o surdo não fala, que é 'mudo' está muito equivocada. Eu sou professor universitário e me posiciono frente aos ouvintes para afirmar que, nós, surdos, temos uma cultura e identidade própria. Recuso-me a ter essa visão de resumir a minha personalidade à surdez, porque isso dá créditos a me perceberem como deficiente. Não sou deficiente. Sou surdo, nada me falta, é a sociedade que cria a deficiência".

Nesse sentido, Léo acrescenta que o público que o acompanha desde os primeiros vídeos no canal consideram-no não apenas como surdo, mas como pessoa única que tem personalidade própria, sem reduzi-lo a essa condição. "O que eu vivo no mundo dos surdos é muito diferente do mundo dos ouvintes. Para entender melhor: eu vivo com as experiências visuais, enquanto os ouvintes, com as auditivas", explica.

Os vídeos de Léo costumam ter legendas em português e até mesmo dublagens, pois o objetivo do canal é transmitir conhecimentos para o público – independente de condições linguísticas – para conhecer o mundo dos surdos e entender melhor como é essa vivência. "Meu canal é acessível para todos com ou sem a condição. A minha responsabilidade é manter o acesso às informações sobre Surdez, Libras e LGBT+ e disseminar o conhecimento a todos os espectadores que tenham interesse em conhecer o nosso mundo. O mundo dos surdos. No meu canal tem várias opções para quem prefere assistir, por exemplo, aos meus vídeos legendados em português e para pessoa com deficiência auditiva que não dominam a LIBRAS", conta.

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Léo acrescenta que os vídeos mais recentes com a dublagem oral permitem acessibilidade à pessoa com deficiência visual e cega, e também para aqueles que têm dificuldades e não se acostumam com legenda. A dublagem também ajuda os ouvintes que preferem assistir escutando, aprendendo os sinais que ele faz durante o vídeo. Com isso em mente, o influencer ainda faz um alerta para uma questão que tem pouca repercussão: as legendas nos vídeos do YouTube. "Infelizmente, até hoje ainda insisto para que os YouTubers ouvintes legendem os seus vídeos/conteúdos para que outros surdos e eu tenhamos o direito de acesso à comunicação na rede, e não fiquemos tão excluídos", afirma.

Mesmo com essa insistência, 95% dos canais não legendam os vídeos. "Só para constar: legenda automática não ajuda muito por causa dos erros, logo perdemos a confiança nessa legenda artificial e confusa. A nossa condição de surdez ainda é muito invisível para a sociedade, que não imagina, segundo o IBGE, que o Brasil possui quase 10 milhões de pessoas surdas e com deficiência auditiva. Imaginem…", aponta o rapaz.

Para Léo, a grande questão é ser visto como uma pessoa comum. "É fundamental entender que, nós, surdos, podemos fazer tudo o que quisermos assim como os ouvintes. Sempre reafirmo meu discurso: “Temos limitações, sim. Mas não significa que isso nos impede de viver e ter uma vida digna só porque somos surdos”. Surdez é uma diferença, uma condição. Um exemplo simples, que gosto de citar, é sobre aqueles que usam óculos de grau, mas nunca se consideram pessoas com deficiência visual, por que será? Quero que eles nos vejam como pessoa, que nem eles", o influencer conclui.

Os influencers Andrei e Tainá Borges também utilizam as redes sociais como um espaço não apenas para mostrar a realidade das pessoas surdas, como inclusive ensinar Libras por meio de vídeos e outros conteúdos. Juntos, eles protagonizam o canal Visurdo, que conta com mais de 180 mil inscritos. Os dois já chegaram a dar entrevistas em programas televisivos.

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Outro influencer que traz à tona essa realidade é o designer gráfico Gabriel Isaac que possui, assim como vários vídeos de Léo, um conteúdo com a presença de dublagens e/ou legendas. O canal de Gabriel se chama Isflocos, e ele foca bastante na questão do entretenimento, com direito a assuntos como a acessibilidade dos cinemas e a questão da música na comunidade surda.