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Infomania: você sofre desse mal do século?

Por| 10 de Setembro de 2016 às 23h23

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Infomania: você sofre desse mal do século?
Infomania: você sofre desse mal do século?

Nos metrôs e elevadores é difícil não encontrar alguém com o celular na mão vendo o feed do Instagram ou do Facebook. Em aeroportos, também existe uma grande quantidade de pessoas utilizando iPads e tablets para ler notícias sobre a bolsa ou o novo escândalo político do momento. Antes de dormir e entre refeições, já é hábito dar uma olhada nos e-mails ou em algum site no computador.

"Infomania" é o termo utilizado para descrever o crescente distúrbio enfrentado por grande parte da sociedade: a dificuldade de se desconectar da internet e o consumo irrefreado de informações indistintas. Com o aumento da oferta de informações disponíveis na rede, assim como a facilidade de entrar em contato com elas, a dificuldade de deixar o celular de lado, mesmo que por alguns minutos, se torna imensa para muitas pessoas.

Atualmente, o total de informação criado e compartilhado por pessoas em aparelhos eletrônicos já ultrapassa o zettabyte (número composto por 22 dígitos). O impulso de obter novas informações é constante, mesmo que muitos nem saibam de onde essa necessidade surge. E o pior: nem sabem o que fazer com tanta informação.

Enchente de informações

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Pode parecer que esse fenômeno de overdose de informações é algo recente e atrelado à tecnologia, mas, na verdade, o buraco é bem mais embaixo. O problema com o excesso de informação é observado na sociedade há bastante tempo, e um dos primeiros casos notórios foi no século XV com a invenção da escrita, que permitiu que muito mais fatos fossem registrados para a posteridade, aumentando a oferta de livros para o povo. Até mesmo na época de Jesus Cristo existiam reclamações, com uma passagem da Bíblia datada do século III falando de uma oferta de "livros sem fim".

Você pode até pensar que essa problemática é um exagero, mas o psicólogo Roberto Debski afirma que o problema é gigantesco. "Vemos que a infomania é presente e crescente em todo o mundo, e pode gerar prejuízos na vida pessoal, social e profissional. Ainda não temos dados para saber as consequências nas gerações de crianças e jovens que estão em crescimento e desenvolvimento de seu sistema nervoso, mas podemos imaginar que estas gerações terão uma maneira diferente de lidar com a informação, com o pensamento e com o conhecimento", explica ele.

No livro "The Shallows" (Os Rasos, em tradução livre), do pesquisador Nicholas Carr, o leitor pode ver que Carr se preocupa com as mudanças de hábito que ocorrerão por conta da enorme quantidade de informação que recebemos. Efeitos a longo prazo ainda não podem ser observados na sociedade atualmente, mas já estamos perdendo nossa habilidade de manter a atenção total em algo, refletir profundamente sobre assuntos levantados ou mesmo nos lembrar do que acabamos de ler.

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Colocando de outra forma, as pessoas estão ficando mais burras. O ato de pegar uma revista e ler uma matéria do começo ao fim sem problemas hoje em dia é uma odisseia, já que entre a primeira linha e a última, um leitor conectado checa sete vezes o WhatsApp e para pra dar uma espiada na rua ou na conversa ao lado. Ao utilizar o computador, a atenção total em uma mesma página não existe por muito tempo, e o subconsciente força o usuário a abrir mais abas no navegador, ou descer a barra de rolagem até o final para descobrir quanto mais de texto uma página tem. Se você se identificou com esse relato, fique tranquilo, pois não é só você.

Outros sintomas também podem ser observados nas pessoas afetadas por infomania: mente cansada, criatividade comprometida e pensamento mais lento. Após um dia todo acessando sites, aplicativos e todo tipo de comunicação, é comum que as pessoas se sintam esgotadas, mas mesmo assim, a capacidade de recusar novos conhecimentos não cessa, mesmo que a pessoa não consiga reter nenhum conteúdo aprendido.

Causa e efeito

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Para entender a infomania podemos dividi-la em dois: por um lado existe a necessidade humana por novas informações, enquanto também existe a progressão acentuada da tecnologia, o que facilita a obtenção de novos dados. De acordo com uma escala feita pelo psicólogo Abraham Maslow (chamada de "escala de necessidade humana") e que elenca as coisas que são necessárias às pessoas, existem cinco estágios de necessidades. Dois desses estágios são intitulados "conexão social" e "auto-atualização", o que em outras palavras pode ser interpretado como a necessidade de perseguir conhecimento.

Atualmente, a internet satisfaz ambos os estágios ao colocar ao alcance das pessoas uma conexão ilimitada à amigos e conteúdos diversos sem fim. Junte tudo isso à alta mobilidade da internet (presente nos bolsos, mochilas, casas, trabalho e escolas) e o vício por informação se torna intrínseco facilmente em nossas vidas, muitas vezes sem que ninguém perceba.

"Uma pessoa que seja adicta à internet geralmente tem dificuldade em perceber sua dependência. Comportamentos repetitivos que geram prazer e estimulam o 'circuito de recompensa cerebral' podem gerar vício, criar hábitos que são complexos e muitas vezes quase impossíveis de reverter. No caso da internet e das redes sociais isto ocorre pois os gatilhos para o início do comportamento, que podem ser os sons que avisam que chegou alguma mensagem, ou que tem atualizações ou post novo, desencadeiam estímulos e respostas de grupos de neurônios que causam estímulos excitatórios que levam à repetição do hábito", afirma Debski.

Toda informação acrescenta?

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De acordo com o site World Wide Web Size, atualmente a internet conta com 4.2 bilhões de páginas, e falando só das quatro grandes (no caso Google, Amazon, Facebook e Microsoft), existe uma troca de 1.2 milhões de terabytes entre elas. É verdade que a internet possui conteúdo educativo e informativo sobre virtualmente tudo que existe por aí? Sim, ao mesmo tempo que também é verdade que não é possível aproveitar tudo o que ela oferece.

Segundo pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, não é possível absorver todo o conteúdo da internet, e nem utilizar de forma significativa todas as coisas vistas na rede mundial de computadores. Segundo eles, as experiências pelas quais passamos chegam ao cérebro mais rápido do que ele é capaz de assimilar. Mesmo levando em conta que um cérebro humano tem capacidade de guardar um milhão de gigas, ele não é capaz de reter todas as informações a que ele é exposto no dia a dia.

Na opinião de Debski, um bom primeiro passo para tratar o problema do excesso de dados é entender que a infomania existe e que não é possível abraçar o mundo das informações por completo. Diferentemente do vício das drogas ou do fumo, que necessita da total interrupção, temos o problema de que, hoje em dia, é praticamente impossível viver sem estar conectado.

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Mas não desanime, é possível se "desintoxicar" mesmo assim, como mostra o passo a passo do psicólogo. "Obrigar-se a desconectar em períodos do dia, como em horário de trabalho, ou de reuniões, ou estudos, na hora das refeições, e quando se está junto a outras pessoas", relata ele. Estabelecer horários para acessar a web também pode ser uma boa estratégia para enfrentar a enxurrada de informações, além de tentar buscar atividades esportivas, sociais e outros hobbies que não demandem o uso de tecnologia.

O podcast Infomagical Note To Self, da rádio pública norte-americana WNYC, também pode contribuir nessa jornada. Com episódios em áudios que estimulam a mente e oferecem exercícios para diminuir o hábito de tentar obter o máximo de informações de todas as fontes, o usuário pode voltar a se focar em tarefas individuais e utilizar a internet com mais parcimônia.

E então, está pronto para utilizar a internet de maneira mais consciente?