Funcionários do Facebook estão acessando até posts privados para treinar IA
Por Rafael Arbulu | 06 de Maio de 2019 às 10h11
Uma nova reportagem da Reuters indica que o Facebook está permitindo que funcionários terceirizados e contratados temporários tenham acesso a dados publicados pelos usuários na plataforma. No intuito de categorizar conteúdo e treinar seus algoritmos, a mais popular rede social do mundo empregou os serviços da empresa indiana WiPro, que dedicou cerca de 260 funcionários à empreitada.
Segundo a agência de notícias, os funcionários da empresa averiguam e categorizam o conteúdo publicado (ex.: se trata-se de uma selfie, foto de comida ou post escrito); a ocasião do post (se é um acontecimento memorável, como um casamento ou aniversário de alguém) e a intenção do autor (o post é uma piada? É uma mensagem de inspiração ou organização de um evento?). Isso vale para todas as mídias: fotos, vídeos, posts escritos etc. O material é sempre verificado por duas pessoas, a fim de assegurar precisão na hora de marcar o tipo de conteúdo. São cerca de 700 posts analisados diariamente por cada dupla na WiPro, diz a Reuters.
As informações foram confirmadas pelo Facebook, que também informou que o acesso se estende a posts publicados por perfis “fechados” e que algumas das informações analisadas de fato apresentam dados essenciais, como nomes de usuário e localização. A empresa informa que promove esse “treinamento de inteligência artificial” com aproximadamente 200 empresas no mundo todo.
A visualização das informações e dados de usuários é uma prática crescente no setor tecnológico, que passa a adotar em grau cada vez mais elevado a inteligência artificial e os algoritmos de gestão e moderação em suas plataformas. O Facebook não está sozinho na prática: a Amazon admitiu recentemente que mantém estruturas e escritórios em diversos países com o objetivo de treinar a Alexa, sua assistente virtual presente nos alto-falantes Echo, para aprimorar a experiência do usuário. Para isso, a empresa “ouve” os arquivos de áudio das interações entre o usuário e a assistente virtual.
Entretanto, o caso do Facebook pode ter consequências mais severas, haja vista que a Amazon mantém estruturas próprias, enquanto o Facebook terceirizou o serviço.
A rede social defende a legalidade do trabalho, alegando que isso é o que torna os algoritmos da plataforma mais e mais inteligentes. O Facebook também informou à Reuters que todo o conteúdo tem de passar pelas áreas jurídicas e de privacidade da empresa, além de ter instituído sistemas de auditoria “para assegurar que as expectativas de privacidade estão sendo seguidas e parâmetros estipulados estão funcionando como se espera”.
A rotulação dos dados visualizados pela WiPro é, segundo o Facebook, usada para treinar os sistemas automatizados da rede social em sua interação com o usuário. Isso inclui recomendações mais inteligentes de produtos no Marketplace, descrições de fotos e vídeos para usuários com alguma deficiência visual e a separação correta de posts para certos anúncios não apareçam próximos de conteúdo político ou adulto.
Entretanto, há locais em que a legislação vigente condena tais práticas: na Europa, por exemplo, o recente Regulamento de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) limita o grau de acesso que as empresas devem ter em relação aos dados do seu usuário.
Fonte: Reuters