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Saiba como os superfilhos de Batman e Superman mudaram a DC Comics

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Batman e Superman — Batalha dos Superfilhos, animação da Warner, chegou recentemente ao streaming do HBO Max e tem feito um tremendo sucesso. A aventura junta o Robin Damian Wayne, filho de Bruce Wayne e Talia al Ghul, e Jonathan Kent, filho de Clark Kent e Lois Lane, em uma aventura que mostra como os pequenos, embora parecidos com seus pais, têm personalidades bem distintas de seus pais. E como essa dupla se uniu nos quadrinhos, até chegar à adaptação?

Os bastidores dessa história é que, na verdade, tornam essa união tão interessante, pois mostram como a DC Comics superou limitações editoriais e judiciais em um conflito interno sobre a revitalização de suas propriedades. Damian Wayne e Jonathan Kent ilustram como a companhia foi obrigada a rever conceitos para dialogar com uma nova geração de fãs e voltar a brilhar.

As HQs e os conceitos que uniram Damian e Jon mostram que, para fortalecer o legado e conquistar novos leitores, as editoras e autores precisam seguir o mantra do escritor Michael Chabon: “não temos que bolar histórias que achamos que os jovens vão gostar; temos que contar histórias que gostávamos de ler quando tínhamos a idade deles”.

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Superboy nos tribunais norte-americanos

Embora Jonathan Kent fosse chamado de Superboy quando criança, o personagem cresceu rapidamente nos quadrinhos e logo abandonou essa nomenclatura. Ele atualmente é conhecido como Superman Jon Kent, após o amadurecimento com a Legião dos Super-Heróis no futuro. É a DC Comics e a Warner Bros. agindo com cautela e deixando de lado problemas do passado recente, por conta de um litígio complicadíssimo.

Em resumo, as famílias de Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Superman, sempre lutaram na Justiça norte-americana pelos pagamentos de royalties sobre o personagem — o valor pago pela Warner Bros e pela DC Comics nas décadas passadas nem chega perto do que a editora lucrou com o herói ao longo de quase 100 anos.

E a entrada do Superboy na história deixou o caso ainda mais complicado, pois, na visão dos familiares, o jovem herói seria mais uma propriedade pela qual deveriam receber montantes nunca pagos. A alegação é de que se trata de um derivado da criação dos autores originais.

Esse caso sempre causou conflito entre os familiares e a companhia, e se arrastou nos tribunais durante as duas últimas décadas — até mesmo afetou a série Smallville e várias HQs da DC Comics. Afinal, como usar uma propriedade consumida por milhares de pessoas enquanto o processo estava em andamento, com a possibilidade de ter seus direitos autorais revogados?

Enfim, em 2015, as partes entraram em um acordo, mas há tantas reviravoltas e justificativas legais de ambos os lados que nem mesmo a Justiça estadunidense conseguia chegar a uma decisão definitiva — outro dia falamos sobre isso com todos os detalhes.

Assim, mesmo com a Warner Bros. e sua subsidiária DC Comics podendo usar a nomenclatura Superboy novamente, as companhias discretamente optaram deixar isso de lado — até porque há várias versões do Superboy, incluindo o jovem Clark Kent, o que tornou tudo muito confuso, inclusive para os leitores veteranos.

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Guardem essas informações, porque as mudanças na editora têm a ver com o uso de Damian Wayne também.

Damian Wayne bastardo no cânone da DC

O caso de Damian Wayne é bem mais simples, mas também envolveu uma mudança de postura da DC Comics. Em 1987, a editora lançou uma graphic novel chamada Batman: Filho do Demônio, em que o Homem-Morcego enfrenta o vilão Ra’s al Ghul e se relaciona com sua filha, Talia al Ghul. A trama sugere um filho entre Bruce Wayne e Talia, mas o então suposto bebê nem mesmo tinha nome ou apareceu na publicação, que sequer era considerada canônica.

Contudo, em 2006, o escritor Grant Morrison revisou a mitologia do Homem-Morcego e introduziu Damian Wayne oficialmente no cânone da DC Comics. O personagem fez tanto sucesso que, aos poucos, foi conquistando mais espaço nas histórias. Nessa época, Bruce Wayne estava desaparecido, e a editora ainda tentava encontrar uma forma de revitalizar as franquias clássicas para vencer a escassez de novos leitores.

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Depois que Wayne retornou, Damian passou a ser um Robin como nenhum outro, e Batman passou a ter que lidar com um lado fraternal nunca visto com os sidekicks que antecederam seu próprio filho. E aí é que o fracasso dos Novos 52 abriu os olhos da DC Comics.

O fracasso dos Novos 52 e o retorno do legado

No começo dos anos 2010, a Marvel Comics, que já vinha revitalizando com sucesso suas franquias, ganhou o impulso dos filmes da Marvel Studios para compreender melhor ainda a nova audiência. As produções cinematográficas ajudaram a editora a entender a nova geração de leitores, retroalimentando suas ideias entre suas mídias.

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A DC Comics ainda pensava em reboots que pudessem rejuvenescer suas franquias, ajustando suas propriedades de acordo com a cultura dos jovens leitores. Mas fez isso de um jeito todo torto nos Novos 52: como a direção pensava que filhos ou equivalentes podiam envelhecer seus ícones, a editora acabou com os casamentos e rebentos, e até mesmo com vários personagens de legado. De quebra, alguns heróis ficaram mais agressivos e impulsivos, como o próprio Superman — como se isso dialogasse com o comportamento de uma nova geração de fãs.

Embora algumas linhas, como a do Batman, não tenha sofrido as mesmas intervenções, os conceitos primordiais da DC Comics, que envolvem legado e esperança em um mundo misterioso, soavam deturpados. Para piorar, os filmes de Zack Snyder davam sempre a impressão de que o Universo DC sempre tinha que ser mais violento e sombrio, independente da qualidade das produções.

Eis que, com Rebirth, as coisas começaram a voltar aos trilhos. E com a minissérie Relógio do Juízo Final, o legado voltou. E, a partir daí, a DC Comics passou a se reestruturar com a ideia de que é possível ter um Batman, um Superman, uma Mulher-Maravilha, enfim, que a melhor saída seria usar seu vasto Multiverso, e sua principal assinatura, o legado, para conversar melhor com a nova geração, sem deixar de lado os veteranos.

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E, assim, em 2017, os superfilhos passaram a ser um bom exemplo de como a DC Comics vem fazendo isso nos últimos anos — a editora usou o conceito de como seriam os rebentos de Batman e Superman, a partir de uma ideia de 1973, mas com um direcionamento orientado para o legado, dentro e fora das revistas. Várias aventuras de Damian e Jon na mesma idade mostraram as diferenças que ambos têm com seus pais, assim como os problemas que eles herdaram; e de que forma conseguiram se apoiar para serem melhores do que a geração anterior, saindo da sombra dos mais velhos — ou seja, assim como todos nós na vida real.

Em vez de “rejuvenescer” seus ícones ou de criar cópias mais jovens dos heróis, a editora voltou a olhar para os elementos clássicos, adicionando a função de tutores para os ícones, de forma mais adequada: dedicando-se também para as crianças, para os novos personagens, construindo-os com suas próprias questões e comportamentos, mais alinhados com os leitores de gerações recentes.

É claro que esse processo ainda está em andamento. Mas o sucesso da união dos superfilhos tem tudo a ver com o mantra de Michael Chabon: “não temos que bolar histórias que achamos que os jovens vão gostar; temos que contar histórias que gostávamos de ler quando tínhamos a idade deles”.