Qual foi o primeiro anti-herói da Marvel?
Por Claudio Yuge |

O conceito de anti-herói não tem exatamente uma data de origem certa, pois evoluiu ao longo de milhares de anos em diversas culturas, mitologias, narrativas e diferentes mídias. Quando a humanidade passou a compartilhar personagens e história de maneira ampla, alguns arquétipos se destacaram como uma referência na cultura pop mundial. Uma das figuras mais conhecidas é o Justiceiro, que usa seu talento para ser açogueiro humano em prol dos "mocinhos" — embora isso seja questionável na maioria das vezes. Contudo, Frank Castle não foi exatamente o primeiro a ser reconhecido como um herói com ímpeto vilanesco.
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A Marvel já havia estabelecido esse tipo de personagem décadas antes, com o chiliquento Namor, o Príncipe Submarino — as primeiras aparições do atlante mostram que a Casa das Ideias estava à frente de seu tempo. Ele é um dos mais antigos da editora, e engana-se quem acredita que ele tenha estreado dessa forma em Motion Picture Funnies Weekly, de abril de 1939.
Embora fosse diferente do heroísmo tradicional, seu papel com antagonista e anti-herói começou mesmo em 1965, na edição Daredevil #7. A edição, escrita por Stan Lee com arte de Wally Wood, traz Matt Murdock, um herói ainda em construção, frente a frente com Namor, um dos personagens mais poderosos da Marvel naquela época.
Anos depois, o próprio Stan Lee comentou em entrevista que esse foi um momento-chave: embora o Homem Sem Medo tenha perdido o confronto, isso acontece de forma heroica, com o Príncipe Submarino elogia a coragem e o valor do defensor da Cozinha do Inferno, de modo que ambos saem, de certa forma, vitoriosos.
Essa ambiguidade moral, esse limiar entre herói e antagonista, aponta para algo que viria a ser uma marca registrada do anti-herói moderno. Desde seu início, Namor não se encaixava no molde simples de “bem vs. mal”. Ele era herói, dependendo do ponto de vista; vilão, em outros momentos; e isso já trazia uma complexidade que só viria a se tornar comum muito depois nos quadrinhos.
Justiceiro e Namor: diferentes conceitos de anti-heroísmo
Quando o Justiceiro aparece em Amazing Spider-Man #129 (1974), um dos momentos em que o anti-herói moderno realmente cristaliza-se. Mas ainda assim, sua popularidade só veio depois, à medida que seus criadores exploraram seu potencial heróico mesmo dentro de seus métodos extremos.
A diferença fundamental é que o Justiceiro foi concebido num contexto já aberto para esse tipo de personagem. Namor nasceu já com essa ambiguidade, não foi reformulado ou adaptado para e encaixar-se; esse conflito era parte de sua essência.
Se por um lado o Justiceiro trouxe visibilidade, ícone visual (como o símbolo de caveira), e ajudou a popularizar a figura do anti-herói entre o grande público, por outro Namor foi pioneiro em incorporar essa tensão moral, esse contraste entre culturas (atlantes vs. humanos, mar vs. superfície).
Histórias como Daredevil #7 e as primeiras edições de Marvel Comics #1 mostram que é possível, mesmo em narrativas mais antigas, trabalhar ação de super-herói com dilemas morais profundos, sem abrir mão da aventura. Namor, portanto, merece lugar de destaque como o primeiro anti-herói da Marvel — aquele que “nasceu” assim, e sim evoluiu para tal.
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