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Por que Alan Moore doou royalties de Watchmen para o Black Lives Matter?

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Lex Records
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Bem, se você clicou nessa notícia, provavelmente não sabe, sabe pouco ou quer confirmar por que Alan Moore detesta tanto a indústria dos quadrinhos que adaptou suas obras sem consentimento; e quer também saber sobre as razões que o levaram a reconsiderar os royalties que têm direito sobre Watchmen, direcionando-os para o Black Lives Matter, movimento ativista contra a violência direcionada às pessoas negras. As respostas estão aqui, e com declarações bem recentes do autor.

Ok, nada mais justo, então, do que fazer um breve resumo sobre as tretas de Moore com a indústria dos quadrinhos. Como todos sabemos, ele teve uma bela carreira com nesse setor, assinando obras clássicas de super-heróis famosos, como Superman: O Que Aconteceu Com o Homem de Aço e outras mais convencionais, até obras mais provocativas como Saga do Monstro do Pântano, Watchmen, V de Vingança, Do Inferno e A Liga Extraordinária.

Mas, com o tempo, a verdadeira opinião de Moore sobre os super-heróis estava cada vez mais clara: para o autor, os gibis com superseres vestindo colantes coloridos “encoraja a infantilização, que muitas vezes pode ser um precursor do fascismo”.

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“O que mais me atraiu nos quadrinhos não existe mais, e esses personagens de super-heróis inocentes, inventivos e imaginativos dos anos 1940, 1950 e 1960 estão sendo reciclados para um público moderno como se fossem comida adulta”, disse recentemente, em entrevista concedida ao Telegraph nesta quarta-feira (13).

E ele mesmo admite que Watchmen foi quase um “experimento que saiu pela culatra”, pois seus esforços para explorar temas mais sombrios e um alcance emocional mais amplo, em sua visão, foram distorcidos. “Eu não queria que meus experimentos com quadrinhos fossem imediatamente considerados algo que toda a indústria deveria fazer. Quando eu estava fazendo coisas como Watchmen, eu não estava dizendo que personagens psicopatas sombrios são muito legais, mas essa parece ser a mensagem que a indústria levou para os próximos 20 anos”, contou.

Quando azedou de vez entre Alan Moore e as editoras

Alan Moore já havia sido “vocal” sobre interferências editoriais e uso de propriedades que criou para outros fins sem seu consentimento nos anos 1990 e começo de 2000. Mas foi somente com a adaptação de V de Vingança é que ele “soltou o verbo”, mais especificamente em uma matéria do New York Times, em 2006.

Na matéria Moore considerava que obras como Watchmen e V de Vingança lhe foram roubadas pela DC, com uso de uma cláusula contratual — aparentemente, os direitos dessas HQs voltariam a Moore e os respectivos desenhistas, quando sua tiragem fosse esgotada, o que nunca teria acontecido. Vale lembrar que ambas continuam vendendo bem, e nunca saíram de catálogo.

Moore saiu da DC em 1989, e, em resposta ao artista na época da veiculação da matéria, Paul Levitz, publisher da editora quando o autor deixou a empresa, afirmou que Moore estava satisfeito com o acordo; e só ficou descontente anos depois.

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Posteriormente, Moore passou a escrever para um pequeno selo do estúdio Wildstorm de Jim Lee, o America’s Best Comics, criado pelo próprio artista, que produziu A Liga Extraordinária. Acontece que o Wildstorm foi adquirido pela DC Comics, e A Liga Extraordinária foi adaptada sem seu consenso, o que levou a uma batalha judicial extenuante para Moore.

A partir daí, ele nem quis saber de ver seu nome nos créditos de adaptações ou quaisquer novos projetos envolvendo V de Vingança e Watchmen, duas obras a que teria direito de royalties — mas, devido aos problemas que teve com as empresas, simplesmente abriu mão ou direcionou para outros artistas participantes das ideias originais.

Depois disso, ele se recusou a vender qualquer coisa que escrevesse em HQs, até simplesmente parar de fazer HQs, e se dedicar à literatura e outras formas de expressão.

Por que Alan Moore doou os royalties de Watchmen ao Black Lives Matter

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Moore vem de um lugar cinzento, pequeno, formado pela classe operária da pequena cidade inglesa de Northampton. Desde que passou a escrever apenas livros e se dedicar a outras expressões, como webcomics, pintura e até teatro, o artista tem mostrado que o dinheiro significa cada vez menos para ele.

O artista sempre defendeu valores liberais em seus quadrinhos, e deprecia, em especial, o trabalho de Frank Miller, famoso autor de Batman: O Cavaleiro das Trevas, e Sin City. Segundo palavras que ele deu recentemente ao Telegraph, Moore considera as obras de Miller como “uma visão bastante subfascista, mesmo desde os dias de O Cavaleiro das Trevas; É a ideia de um homem, talvez a cavalo, que possa resolver essa bagunça – isso é um pouco demais”.

O próprio Telegraph, então, tirou a dúvida que todos ainda tinham: é verdade que ele recusa todo o dinheiro a que têm direito das empresas cinematográficas, pedindo que seja dividido entre os roteiristas e outros criativos do filme? E é aí que Moore explicou a razão de doar para o ativismo contra a violência direcionada às pessoas pretas, algo que faz todo o sentido para o que sempre pregou e acreditou.

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“Não desejo mais que isso [o dinheiro de royalties] seja compartilhado com eles [com quem trabalhou nas obras adaptadas]. Eu realmente não sinto, com os filmes recentes, que eles tenham mantido o que eu assumi serem seus princípios originais. Então, pedi à DC Comics que enviasse todo o dinheiro de quaisquer futuras séries de TV ou filmes para Black Lives Matter.”