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DC: 9 mudanças que já notamos sobre o novo universo cinematográfico

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DC Comics
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Se você está lendo isso agora, provavelmente sabe que há um novo Universo Cinematográfico DC (DCU, na sigla em inglês) sendo desenhado pelos copresidentes James Gunn e Peter Safran. Os detalhes ainda são escassos, mas depois de tantas atualizações frequentes de pílulas de Gunn nas redes sociais, juntamente com o roadmap de filmes apresentado inicialmente e as notícias sobre os projetos em andamento, já dá para ter uma ideia de quais as maiores diferenças em relação à empreitada anterior e à ao Universo Cinematográfico Marvel (MCU).

Antes de falarmos sobre as mudanças, é necessário apenas resumir as similaridades com o Universo Extendido DC (DCEU) e ao MCU. A primeira delas, e a mais óbvia, é a escalação dos mesmos atores vivendo os mesmos personagens em diferentes projetos e mídias. 

Outra semelhança é a continuidade recorrente, ou seja, tudo estará acontecendo de forma conectada, de maneira que será possível acompanhar consequências e perspectivas distintas em uma narrativa que sempre trará alguma conexão entre os projetos. Assim como o MCU, o DCU contará suas histórias em fases, que Gunn prefere chamar de capítulos.

Para completar, a expectativa é de haja colaboração ampla e contínua entre todos os criadores e gerentes de cada mídia que envolve os personagens escolhidos para fazer parte do novo DCU, com a possibilidade de uma retroalimentação de ideias, como na Marvel Studios — ou seja, elementos bem adaptados podem influenciar os quadrinhos originais, que, depois de sincronizadas as propriedades com o cinema, podem voltar a oferecer estofo para outros projetos audiovisuais.

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Dito isso vamos às projeções que já conseguimos apontar.

1. Capítulo I vai abrir a paleta de tonalidades

Um dos maiores erros na construção do DCEU, também chamado de Snyderverse, foi a caracterização pouco fiel em relação aos principais elementos que definem a DC Comics, assim como falta de planejamento na distinção de cada núcleo e tonalidade.

Isso fez com que o Universo DC parecesse apenas algo mais “cru e sombrio”, sendo que, embora isso seja também uma característica, não é a única faceta da editora. É um baita equívoco acreditar que a DC tem que ser violenta e adulta apenas. Como bem frisou Geoff Johns, o grande charme de Batman, Superman, Mulher-Maravilha e outros, é notar como a presença desses personagens trazem amor, legado e esperança e múltiplas tonalidades para mundos originalmente monocromáticos.

Gunn já vem sugerindo isso no Capítulo I, chamado Deuses e Monstros. Veremos como é a Terra principal do DCU a partir de Superman, filme que mostrará como a humanidade reage à presença de heróis e vilões, entre eles alienígenas, populando o planeta. Isso foi também foi mostrado no DCEU, mas de um jeito muito limitado.

Supergirl: Woman of Tomorrow, por exemplo, pode apresentar os planetas e introduzir o cosmos do DCU, a partir da trama que mostrará Kara Zor-El crescendo em Krypton, em contraste com o órfão Kal-El que foi adotado na Terra.

Batman: The Brave and The Bold tem o papel de estabelecer um tom mais realista e cru se misturando com aspectos mais leves e bem-humorados. Embora Batman e Robin lidem com mentes insanas em um ambiente soturno e corrupto, eles ainda assim são divertidos juntos.

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Monstro do Pântano deve nos apresentar o cantinho mágico e sobrenatural, que também vai se conectar ao lado mais cafona e absurdo da DC em Creature Commandos e a nova temporada de Pacificador.

Também teremos a ficção científica de Lanterns, com Hal Jordan e John Stewart; a conexão da DC com a mitologia greco-romana e histórias épicas de fantasia em Paradise Lost, com a Mulher-Maravilha; a linha temporal futura com Booster Gold; e um dos aspectos mais peculiares da DC: os antagonistas que discutem autoridade e ética, em The Authority e Waller, com a presença de anti-heróis e anti-vilões.

2. Nova continuidade flexível baseada em personagens

A Saga do Infinito funcionou bem no MCU porque a Marvel Studios conseguiu pontuar em poucos projetos por ano, dois ou três lançamentos de filmes, uma história que fazia sentido por conta da trama que teve um início, meio e fim bastante claros. 

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Foram muitas histórias de origem que ganharam sequências individuais e que também tinham um posicionamento na cronologia do que estava sendo contado. Embora a sensação de tempo passando tenha sido maior apenas nos filmes do Homem-Aranha e dos Guardiões da Galáxia, era possível entender que cada novo longa era o capítulo seguinte da narrativa geral.

Gunn vem mostrando que não fará dessa forma, o Capítulo I do DCU deve mostrar várias histórias acontecendo em momentos diferentes da linha temporal. Por exemplo, enquanto Superman estará lidando com o começo da relação dos humanos com os heróis e vilões, Lanterns aparentemente será contado bastante tempo depois, com um Hal Jordan já mais velho.

3. Liberdade para colaboração de artistas e diretores

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Ao separar as tramas em épocas ou cantos diferentes do Universo DC, Gunn pode oferecer mais liberdade criativa para os diretores e artistas. Isso porque um novo filme não precisará continuar a cronologia temporal da narrativa do anterior.

Uma das maiores críticas e problemas que o MCU enfrentou foi justamente porque tinha uma trama engessada como pano de fundo com as histórias de cada personagem ou grupo. Gunn é diretor e sabe como isso pode incomodar, principalmente os cineastas autorais, como ele, que podem contribuir bastante para o sucesso da DC Studios.

Então, provavelmente veremos menos dificuldade da DC Studios na hora de contratar e lidar com os artistas. Além disso, os autores poderão deixar sua assinatura em filmes únicos dentro de uma trama maior. 

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4. Grandes sagas podem ser como nos gibis

Ao tornar os projetos mais independentes e os roteiros menos “engessados”, Gunn também mostra que os grandes eventos devam acontecer como nos quadrinhos da DC: com uma ameaça construída naturalmente ao longo de cada filme, mas que não necessariamente esteja se apresentando e crescendo no pano de fundo, como Thanos na Saga do Infinito.

Assim, pode ser que tenhamos, por exemplo, um filme que apresente a grande ameaça e a resposta inicial, e, depois, outros filmes com os personagens-títulos comandando as ações de acordo como o desenrolar do evento. 

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E, ao final, uma conclusão com um filme reunindo os participantes em uma perspectiva que pode facilitar a compreensão de cada elemento presente na narrativa. Ou seja, depois de acompanhar as motivações pessoais e os acontecimentos de cada longa ligado ao evento, todo mundo vai saber de onde saiu cada integrante, quais suas funções na trama e como tudo levou ao encerramento.

5. Sem histórias de origem

Olha, a essa altura do campeonato, com heróis quase centenários que já foram reapresentados exaustivamente para o público nos cinemas, a exemplo de Batman e Superman, está na hora de mandar as pessoas que ainda são leigas procurar o nascimento dos ícones clássicos nos gibis — está faltando leitura, gente, e nada pode substituir os detalhes que os quadrinhos apresentam sobre as propriedades mais famosas.

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Uma das razões de a “fadiga dos super-heróis” acontecer recai justamente no fato de as tramas começarem a se repetir em projetos formulaicos. Isso ocorre na Saga do Multiverso na Marvel porque a Marvel Studios notou apenas agora que depende demais das histórias de origem: tudo o que deu certo com os personagens introduzindo diferentes tonalidades vem sendo reproduzido em lançamentos que deveriam desenvolver as propriedades com a sensação de maturidade e mudança.

Não adianta ficar fazendo derivados da linha do Capitão América, como Viúva Negra e Capitão América: Admirável Mundo Novo, com a exata mesma estrutura de Capitão América: Soldado Invernal. Ou tratar cada parte de Homem-Formiga como uma mesma história sendo feita mesmo jeito com “remendos” para “esticá-la”.

Ao mostrar heróis e vilões em diferentes fases, Gunn pode oferecer um repertório muito mais variado, surpreendente e autêntico.

6. Multiverso já estabelecido 

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Muita gente se esquece que o Multiverso DC, que existe desde os anos 1960 e vem sendo construído com muito estofo, já foi apresentado e também muito explorado em animações, série de TV, games, livros e nos quadrinhos.

Até a chegada do derradeiro filme The Flash, o mais recente, que faz parte do DCEU, nunca tínhamos visto um filme da Warner Bros/DC apresentando o Multiverso da DC no cinema. Então, Gunn pode montar seus capítulos e sagas já com Terras e variantes muito bem estabelecidos.

Ele pode, por exemplo, ter um lançamento que faça parte da continuidade oficial e que esteja conectado à cronologia mesmo fora da Terra principal. Simultaneamente, eventos do cinema podem se conectar com animações, filmes e séries do passado, ou de linhas diferentes, a exemplo de The Batman e Coringa, como parte do Multiverso.

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Para quem não sabe, na DC, o conceito de Multiverso é amplamente conhecido por todos os personagens das histórias, até mesmo pela população da Terra. Ninguém estranha dois Batmen de mundos ou épocas diferentes atuando juntos em uma trama, por exemplo.

7. Planejamento executivo e criativo em sincronia

Uma das melhores decisões da Warner Bros foi desmembrar a DC Studios como uma parte autônoma da DC Entertainment. A empreitada anterior, a DC Films, ainda era comandada por executivos de uma empresa centenária com centenas de filmes por ano. Era necessário algo mais específico.

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Isso até veio no começo dos anos 2010, quando Geoff Johns foi convocado para ser o chefe da DC Films. Só que Johns nunca teve muito trânsito nos corredores da Warner Bros. e nem mesmo em Hollywood. Então, enfiaram um cacique para ser “babá” dele, o que o deixou insatisfeito e abriu caminho para Snyder apenas continuar fazendo o que vinha planejando. 

Isso fez com que algo inicialmente concebido para fazer parte de uma trama conectada em uma narrativa maior se tornasse um universo inteiro. É por isso que ficou monocromático e sem conexão com Shazam, por exemplo. Ao montar um estúdio independente, a Warner Bros. deixa Gunn criar uma identidade própria que só pode ser esculpida adequadamente com um parceiro que saiba lidar com necessidades específicas de administração, finanças e gerenciamento.

8. Projetos sustentáveis

Justamente pelo que foi apontado no item anterior é que Peter Safran se torna tão importante para Gunn. Safran é um experiente advogado corporativo que também tem visão criativa e conhece muito bem o mercado de uma forma bastante ampla.

Ele não somente compreende as direções criativas, como também pode ajudar a refinar as ideias, de maneira que possa enxugar atividades, contratações e gastos. Além disso, Safran conta com um repertório invejável de profissionais de logística, fornecedores de várias áres, e, principalmente, atores — sua cartela de mais de 200 clientes conta com nomes do patamar de Brad Pitt, Adam Sandler, Jennifer Lopez Jennifer Aniston, entre outros.

Nenhum projeto da DC Studios sai do papel sem um roteiro pronto e uma janela de lançamento. Pode parecer algo óbvio para o início de uma produção, contudo, antes de Walter Hamada tomar as rédeas para remendar a DC Films e iniciar o DC Studios, muita coisa estrapolava o orçamento ou se perdia em uma adaptação tosca por conta disso.

Lanterna Verde sofreu porque o diretor, os atores e os produtores envolvidos não foram escolhidos porque sabiam bem que não dá para encaixar conversões de quadrinhos em gêneros tradicionais, a exemplo de drama, comédia, ficção científica ou sejá o que esses executivos que nunca abriram um gibi pensam; as HQs têm naturalmente a capacidade de misturar tudo em um segmento próprio.

No filme com Ryan Reynolds, os profissionais envolvidos eram o "da vez" dentro da Warner Bros. e o roteiro todo torto e mal-resolvido tinha uns absurdos como Hal Jordan sair de um boteco, passear no centro do universo, e depois voltar no mesmo dia para tomar um cafezinho em casa — isso funciona nos quadrinhos porque existe uma explicação e um tipo de manipulação de tempo que exige a mente do leitor; no cinema isso tem que ser verossímil e sem preguiça.

Safran é também produtor de filmes, e tudo isso no currículo o torna um “canivete suíço”, capaz de resolver qualquer problema de bastidores. Dessa forma, Gunn pode trabalhar muito mais em paz para manter a consistência no seu papel de construção de mundos, continuidade, cronologia e desenvolvimento de personagens.

9. Gunn nem quer brigar com a Marvel

Uma coisa que nunca entendi é essa falsa “briga” entre decenautas e marvetes no Brasil. Aqui costumamos ler desde sempre ambos os universos da mesma maneira e fonte. Uma editora ajuda a outra porque são referências dos dois lados. Nos Estados Unidos, essa rivalidade até faz sentido, porque há realmente uma oferta e uma cultura distinta criada em torno de cada companhia — o fato de alguém se incomodar simplesmente porque não consegue lidar com opiniões divergentes é algo infantil e burro demais.

A rivalidade é interessante pelo ponto de vista comercial e intelectual, já que promove discussões interessantes e divertidas interações e conversas. Mas no Brasil isso muitas vezes se dilui em algo ridículo, fabricado por fãs que não leem muito. São os tipos que acreditam que ofender e desrespeitar opiniões diferentes vão preencher o vazio de suas personalidades e/ou mascarar a ignorância e a falta de conhecimento.

Gunn está tão ciente disso que nem responde a comentários de pessoas que fazem questão de comparar, reduzir ou polarizar Marvel e DC. O verdadeiro fã, como o cineasta, gosta de ambos os universos, porque cada um brilha de um jeito diferente sem a necessidade de ofuscar o sucesso do outro.

Então, Gunn está muito mais preocupado em adaptar as boas histórias que só a DC pode contar na forma de algo fiel, complementar aos quadrinhos, emocionante, divertido e autêntico — da mesma forma que fez com Guardiões da Galáxia, um filme que até mesmo tem referências sobre personagens da “rival”. 

Assim, teremos a certeza de que o DCU está sendo construído para quem ama e lê seus personagens e mundos favoritos, em vez daqueles que preferem dizer que não gostam da Marvel simplesmente porque não querem admitir a falta de leitura e conhecimento — asnos como esses preferem “destruir” coisas que nem sabem do que estão falando simplesmente por que nem leram.

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