Baterias de grafeno já são realidade e podem ser fabricadas em massa
Por Felipe Junqueira |
“O grafeno é a tecnologia do futuro” é uma frase que muita gente ouviu ou leu nos últimos anos. E esse futuro, finalmente, está chegando. Ao menos de acordo com Samuel Gong, CEO da empresa Real Graphene,que afirma já ser possível utilizar baterias de grafeno em dispositivos móveis, inclusive em níveis comerciais.
“As pessoas sempre acham que grafeno é uma coisa do futuro, mas estou aqui para corrigi-las. Está aqui agora. Nós criamos uma bateria que carrega super rápido, é bem fria, e tem uma vida longa em termos de ciclos de carga”, garantiu o executivo, em entrevista ao site Digital Trends. E, de acordo com ele, já pode ser utilizada em qualquer dispositivo, até mesmo em um que já está no mercado.
Para isso, a companhia desenvolveu uma tecnologia que alia uma bateria de lítio ao grafeno. Isso resulta em um componente com carga mais veloz, mais tempo de uso e de vida útil. E é mais segura, porque emite menos calor, também. Além disso, a tecnologia da Real Graphene permite que uma bateria que já existe seja transformada em um componente misto de grafeno e lítio.
A recarga pode diminuir dos atuais 90 minutos (tempo médio) para apenas 20 minutos em uma bateria de 3.000 mAh da Real Graphene, usando um carregador de 60W de potência. Essa carga bem mais veloz é possível de realizar de maneira segura porque, como já mencionado, o grafeno gera menos calor. Isso vale tanto para a recarga quanto para o uso do dia a dia.
A nova tecnologia permite ainda mais recargas sem perder capacidade. Uma bateria de lítio aguenta entre 300 e 500 recargas, enquanto a de grafeno suporta até 1.500 ciclos para a mesma capacidade. E, de novo, uma vez que gera menos calor, é mais segura.
Mas esses benefícios são em comparação com uma bateria totalmente feita de grafeno. Por enquanto, sua idealizadora tem tecnologia para produzir somente um componente misto. Basicamente, a Real Graphene coloca uma fina camada de grafeno em uma bateria de lítio comum, o que já melhora bastante a longevidade, capacidade de recarga e tudo o mais.
“O grafeno é um incrível condutor de calor e eletricidade. O lítio não gosta quando você põe ou tira um monte de energia dele. Aplicamos o grafeno de duas maneiras diferentes. Misturamos em uma solução de lítio, e adicionamos uma camada composta, como uma folha dele na bateria de lítio. Ela age como um condutor para a eletricidade, e não gera tanto calor”, explicou Gong.
Fabricação imediata
Fabricar baterias envolvendo o grafeno, especialmente em finas camadas, não é um processo fácil. Nem barato. A Real Graphene já produz em quantidades suficientes para que as fabricantes façam testes com o novo componente. Mas garante que consegue fornecer o suficiente para, por exemplo, um lote de 100.000 smartphones. Mas a empresa não faz baterias só para celulares: o tamanho das mesmas pode ser adaptado para utilizá-las tanto em smartwatches, quanto em um carrinho de golfe elétrico, por exemplo.
Uma das vantagens do processo de produção é que, além da bateria em si, a empresa também fabrica os chips especiais necessários para a recarga. Isso simplifica o processo de fabricação do dispositivo no qual ela será usada. Além disso, a própria companhia produz o grafeno em si.
“É fácil aumentarmos a escala porque fazemos o grafeno”, disse o CEO, que ainda explicou que, para produzir os componentes em si, eles podem utilizar a unidade fabril da própria fabricante do dispositivo ou fazer uma parceria com uma empresa de baterias.
Transição facilitada
Para as fabricantes, a troca das baterias tradicionais de lítio pela versão melhorada com grafeno não seria um grande problema, ao menos no quesito estrutural da coisa. A camada de grafeno é tão fina que não chega a realmente alterar o tamanho da célula original. Uma folha tem espessura de um a cinco átomos, somente.
“Não altera as propriedades físicas de maneira nenhuma. É um plug-and-play simples, porque as células podem ter o mesmo tamanho e formato. Você consegue os efeitos imediatos do grafeno”, animou-se Gong.
Desvantagem
Mas, como nada é perfeito, não podemos pensar que amanhã teremos um smartphone com bateria mista de lítio e grafeno e que revolucionará toda a indústria. Isso porque, para além das limitações da escala de produção, existe a questão do preço.
Sim, a Real Graphene pode fabricar até 100.000 baterias em pouco tempo. Mas, para produzir o suficiente para um iPhone ou um Galaxy S, por exemplo (para citar os modelos mais conhecidos), o tempo de fabricação para atender à alta demanda poderia aumentar para até um ano.
E, claro, existe a questão do preço. O quilo do grafeno não é barato. Há alguns anos, chegou a custar cerca de US$ 300.000. O lado bom é que isso dá uma quantidade muito grande de camadas a serem produzidas, porque o material é leve. E o valor do produto caiu nos últimos anos, apesar de ainda estar em patamares absurdos.
Gong estima que uma bateria mista custaria cerca de 30% a mais do que uma bateria só de lítio. Não chegaria a aumentar tudo isso no preço final do produto, claro, mas o impacto seria significativo ainda assim. Para muitos usuários, é um aumento que compensa pelas vantagens que um componente melhor oferece.
Mas, antes de vermos baterias de grafeno em nossos dispositivos, teremos mais powerbanks com essa tecnologia. A Real Graphene mesmo já possui um à venda, e pretende iniciar um financiamento coletivo para produzir mais modelos ainda esse ano. Já seria um ótimo teste para checar se o lítio com o grafeno funciona mesmo, certo?
Fonte: Digital Trends