Por que a Meta cortou 600 vagas de IA depois de investir US$ 70 bilhões?
Por Marcelo Fischer Salvatico |

A Meta enviou uma carta de demissão para 600 funcionários do setor de inteligência artificial (IA) na terça-feira (21). A empresa, que deve investir cerca de US$ 70 bilhões em IA neste ano, considerava a área “inchada” e havia relatos de equipes competindo por infraestrutura.
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E quem assinou o comunicado do layoff foi Alexandr Wang. Atual chefe de IA da Meta, o executivo é uma das figuras que representa o investimento da companhia, já que foi contratado em junho após a Big Tech adquirir a Scale AI por US$ 14,3 bilhões, startup da qual era CEO.
Mas por que, depois de criar um laboratório interno para desenvolver uma super IA, buscar talentos de empresas concorrentes e investir dezenas de bilhões, a Meta decidiu demitir em massa?
O Canaltech conversou com especialistas para entender o movimento da empresa de Mark Zuckerberg e se o layoff dá indícios de uma “bolha da IA” prestes à estourar.
Por que a Meta demitiu 600 no setor de IA?
De acordo com a CNBC, a unidade de IA da Meta era considerada “inchada” internamente.
Pedro Burgos, consultor em IA e professor do Insper, explica que a disputa interna por recursos pode explicar as demissões, e que elas "têm mais a aparência de uma reorganização interna, até natural depois desse monte de contratações e nova liderança”.
“O que diferentes fontes dizem é que havia disputa por 'compute' (tempo de uso das GPUs mais parrudas) entre diferentes times de IA, e isso estava atrasando alguns desenvolvimentos", analisa.
Para Burgos, times menores e mais focados podem até acelerar o desenvolvimento. "Como a empresa não tem infra suficiente para rodar todos os experimentos que quer com IA, ter times menores, mais ágeis e mais focados, pode até acelerar o desenvolvimento", explica.
Como o dinheiro não parece ser problema para a Meta, que deve investir entre US$ 66 bilhões e US$ 72 bilhões em IA neste ano, o layoff se apresenta mais como um ajuste de rota, como explica Rafael Coimbra, editor-executivo da MIT Technology Review Brasil.
"As grandes empresas de tecnologia ainda estão tentando validar seus modelos de negócio no campo da inteligência artificial. Sendo que a pressão para liderar o segmento é grande, num mercado extremamente competitivo, com novidades sendo anunciadas todos os dias", afirma.
As demissões não afetaram o TDB Lab, grupo de pesquisadores de elite que inclui muitas das contratações de alto nível da Meta nos últimos meses. Estes funcionários, liderados por Wang, foram poupados, e reforçam a aposta de Zuckerberg na “caça de talentos” de IA.
Após o realinhamento, a força de trabalho do Superintelligence Labs da Meta ficou com pouco menos de 3 mil funcionários, segundo fontes ouvidas pela CNBC. A empresa mantém sua agressiva estratégia de investimentos, com expectativa de gastos entre US$ 114 bilhões e US$ 118 bilhões em 2025.
Bolha da IA parece longe de estourar
O conceito de “bolha da IA” tem ganhado força nos últimos meses, inclusive com falas de Sam Altman, CEO da OpenAI, e Jeff Bezos, cofundador da Amazon, reforçando a possibilidade.
O termo se refere a um fenômeno econômico similar à bolha da internet no início dos anos 2000, quando investimentos massivos em tecnologia superaram os retornos reais.
Apesar da demissão em massa da Meta após grandes investimentos caminhar numa direção parecida, especialistas discordam de um indício de estouro da bolha.
Coimbra avalia que "é claro que existe euforia, com mais investimentos do que retornos concretos no setor”, mas reafirma que, no caso da Meta, o ocorrido fala mais sobre estratégia.
Burgos segue a mesma linha. “Acho que há motivos para se preocupar com uma possível bolha, mas este não seria um deles”. O consultor destaca que a Meta anunciou um investimento de US$ 27 bilhões na construção do megadatacenter Hyperion, na Louisiana, como sinal forte do compromisso da empresa.
John Paul Hempel Lima, diretor dos cursos de graduação on-line da FIAP, concorda que não se trata de uma bolha estourando, mas de uma fase de maturação. Para ele, estamos saindo da fase do "crescimento a qualquer custo" e entrando em um momento de eficiência e resultados concretos.
“Quando começam a surgir relatos de times disputando recursos de computação, como no caso da Meta, é sinal de que o crescimento foi acelerado demais — e agora chega a hora de reorganizar”, completa.
Burgos também relativiza o tamanho das demissões. "O Zuckerberg está no que o povo do Vale do Silício chama de 'Founder Mode', de aceleração de decisões, com menos burocracia. É totalmente plausível que no fim do ano tenhamos mais pessoas trabalhando em IA na Meta que no início", avalia.
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