Mulheres devs ganham espaço na América Latina, mas IA muda o jogo
Por Bruno De Blasi |

A presença de mulheres no mercado de desenvolvimento de software na América Latina cresceu, mas ainda está longe do ideal. Ao mesmo tempo em que novas comunidades e programas de capacitação se multiplicam, a chegada da inteligência artificial generativa e de agentes de IA traz novas exigências aos profissionais da área.
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Em conversa com o Canaltech, as líderes de comunidade de desenvolvimento ligadas ao ecossistema da Amazon Web Services (AWS) Sary Libreros, da Colombia, e Vanessa Santos, do Brasil, traçaram um panorama desse cenário e apontaram caminhos para quem quer entrar neste mercado.
A seguir, confira:
- Comunidades: porta de entrada e rede de apoio
- Avanços e lacunas na participação feminina
- Como começar: transição de carreira e primeiros passos
- IA não elimina, mas muda o jogo
- Se preparando para o mundo da IA
Comunidades: porta de entrada e rede de apoio
Libreros veio da engenharia química e trabalhava na indústria tradicional antes de migrar para a área de tecnologia. A mudança começou quando ela descobriu grupos de tecnologia durante a pandemia de COVID-19 e, principalmente, comunidades formadas e lideradas por mulheres.
“Vi muitas mulheres criando comunidades, criando espaço, falando de tecnologia, e pensei: ‘meu Deus, isso é incrível’. E eu comecei a pesquisar muito mais sobre isso”, conta.
Santos trilhou um caminho parecido. Sua jornada começou durante o seu trabalho no campo da comunicação, enquanto acompanhava a operação.
“Conforme eu sentava junto com a equipe de operações para aprender mais sobre o dia a dia para poder comunicar, eu fui criando um amor, porque eu me senti tão abraçada por essas pessoas, e eu sempre tive muita curiosidade de montar, desmontar coisas”, afirmou.
As desenvolvedoras destacam que comunidades de tecnologia viraram um dos principais motores de inclusão, com eventos gratuitos, meetups, Community Days e grupos específicos para mulheres, que criam ambientes de aprendizado contínuo, networking e troca de experiências.
Avanços e lacunas na participação feminina
Hoje, a comunidade de desenvolvedores da América Latina dentro do ecossistema conta com mais de 90 mil desenvolvedores participando ativamente, e registra um alcance de mais de 200 mil pessoas na região. Essa aproximação ocorre por meio de eventos, capacitações e conteúdos, organizados por construtores voluntários sem vínculo profissional com a AWS.
Desse montante, quatro em cada dez são mulheres.
“Avançamos bastante, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Precisamos de mais mulheres e de mais espaços não apenas para desenvolvimento técnico e interação com a indústria, mas também espaços que inspirem”, afirmou Libreros.
Ela cita a criação de user groups de mulheres por país como um passo importante. Esses grupos são menores que os mistos e, muitas vezes, têm a missão básica de apresentar o que é nuvem, IA e desenvolvimento para quem sequer sabia que essa carreira existia.
No Brasil, Santos destaca o crescimento de encontros focados em mulheres, com eventos que já reúnem centenas de participantes em cidades como São Paulo e novas edições previstas em outras capitais.
“Existimos, precisamos nos conectar mais, motivo pelo qual reforço a importância da comunidade não apenas na perspectiva de gênero, mas a diversidade em múltiplas perspectivas de etarismo, de história de vida”, pontua.
Como começar: transição de carreira e primeiros passos
Para quem quer entrar em tecnologia, especialmente pessoas em transição de outras áreas, o recado é pragmático: não abandonar a história anterior, mas usá-la como base.
Libreros afirma que formações em áreas como saúde, educação, comunicação ou engenharia são um diferencial. “São suas bases. Você não começa do zero”, explica.
Confira algumas dicas para iniciar uma jornada no mundo da programação:
- Escolher uma trilha clara para começar: o importante é escolher um caminho inicial em vez de tentar abraçar tudo de uma vez;
- Combater a síndrome de impostor: as desenvolvedoras reforçam que ninguém domina tudo e que aprender em público faz parte do processo;
- Se mostrar ao mercado: é importante se expressar nas redes, em comunidades, em pequenos grupos ou mentorias;
- Aproveitar comunidades como ambiente seguro: para pessoas mais tímidas, começar on-line em workshops, treinamentos e grupos de estudo pode ser o primeiro passo antes de ir a encontros presenciais.
IA não elimina, mas muda o jogo
Uma das principais preocupações com o avanço da IA é a “substituição do desenvolvedor”. Afinal, através de ferramentas como o ChatGPT, Gemini e afins, é possível gerar códigos de um software com simples prompts que atendam diversas necessidades.
Essa visão, no entanto, não é unânime. CTO da Amazon, Werner Vogels destacou no AWS re:Invent 2025 que vivemos uma “era do Renascimento”, uma transformação no mercado de tecnologia com o avanço da inteligência artificial que requer uma evolução dos profissionais.
Para Libreros e Santos, a IA aumenta a exigência de fundamentos e de visão humana, em vez de substituir totalmente o trabalho.
“O mercado é muito competitivo e está avançando a passos largos”, explica ao destacar a importância das certificações. “Fundamentos são necessários para entender todas as novidades que estão sendo desenvolvidas, como os agentes funcionam, o tema da automação, pipelines, APIs, todas essas soluções.”
Neste sentido, ferramentas de IA aceleram testes, prototipação e desenvolvimento, mas não resolvem sozinhas questões como viés, impacto social ou aderência real ao problema de negócio.
A capacidade de questionar o resultado de um modelo, entender suas limitações e conectá-lo ao contexto do usuário final vira diferencial.
Santos ressalta, ainda, que, mesmo com modelos cada vez mais sofisticados, o mercado continuará precisando de pessoas capazes de errar, aprender, ajustar e escolher a ferramenta certa para cada problema. Algo que a IA, por si só, ainda não entrega.
Se preparando para o mundo da IA
Quando o assunto é se preparar especificamente para o mundo da IA generativa, a dupla recomenda uma combinação de formação estruturada e prática constante. Confira:
- Certificações como guia de estudo;
- Re-certificar e se atualizar sempre;
- Praticar com demonstrações, workshops e laboratórios;
- Pensamento crítico para avaliar soluções sugeridas por IA;
- Capacidade de traduzir necessidades de clientes e áreas de negócio em requisitos técnicos;
- Comunicação clara para trabalhar em times multidisciplinares e compartilhar conhecimento na comunidade.
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