Mulheres crescem na tecnologia, mas ainda enfrentam barreiras culturais
Por Elisa Fontes • Editado por Bruno De Blasi |

A representatividade feminina no setor de tecnologia registrou um crescimento de 4,6% no último ano, de acordo com um estudo da Serasa Experian. Apesar do índice positivo, a análise aprofundada dos números revela que a equidade de gênero no mercado de trabalho técnico ainda é um objetivo distante.
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O avanço percentual, quando comparado ao total populacional, representa a entrada de apenas 0,08% das mulheres na área, enquanto a proporção masculina é de 0,34%.
Além da disparidade numérica, dados financeiros correlatos indicam um perfil comportamental específico dessas profissionais: cerca de 50% das mulheres que atuam em tecnologia possuem um score de crédito alto (entre 601 e 1.000), o que sugere competências de planejamento e comprometimento valorizadas corporativamente.
O cenário e as estatísticas foram debatidos no Podcast Canaltech, que entrevistou Fernanda Guglielme, gerente de diversidade, equidade e inclusão da Serasa Experian. Para a especialista, os números evidenciam a necessidade de esforços contínuos.
"Temos um desafio de trazer mais pessoas para a área de tecnologia como um todo, mas quando a gente olha homens e mulheres, ainda é mais desafiador pensando em público feminino", afirmou.
Intencionalidade e estratégias de retenção
Para alterar o quadro de desigualdade, a especialista aponta a "intencionalidade" como fator chave na gestão de recursos humanos. A Serasa Experian, por exemplo, alcançou a marca de 27% de cargos de TI ocupados por mulheres através de metas específicas e ações afirmativas.
A estratégia inclui o foco na base, resultando na contratação de 69% de mulheres no último programa de estágio da empresa.
A sustentabilidade dessa inclusão depende de programas de desenvolvimento e monitoramento de métricas. Iniciativas como mentorias de liderança e plataformas de capacitação interna, como a "Todas Academy", buscam combater o turnover (rotatividade) e garantir a ascensão profissional.
A gestão baseada em dados monitora não apenas a entrada, mas a equidade salarial e os motivos de desligamento, tratando a diversidade como um imperativo ético que impacta diretamente a produtividade e os resultados financeiros das organizações.
Barreiras culturais e caminhos para ingresso
A dificuldade de inserção feminina na tecnologia possui raízes históricas e culturais. O direcionamento educacional de mulheres para áreas de cuidado e saúde, em detrimento das ciências exatas, soma-se a obstáculos como a dupla jornada de trabalho doméstico e a falta de representatividade em cargos de liderança.
Esses fatores criam um ambiente onde muitas profissionais sentem a necessidade de adaptar comportamentos para serem aceitas.
Para quem busca romper essas barreiras e ingressar no setor, a recomendação é a busca por qualificação contínua e redes de suporte. Existem comunidades e instituições voltadas especificamente para o público feminino, como o Reprograma e a Programaria, que fomentam a troca de experiências e o aprendizado técnico, de acordo com a especialista.
"Busquem redes de apoio [...] pesquisem sobre mulheres em tecnologia, tem algumas instituições, tem alguns programas [...] que são espaços que permitem mais troca", indica.
Para conferir a análise completa e outros detalhes sobre o mercado de trabalho, ouça o episódio na íntegra e siga o Podcast Canaltech na sua plataforma de áudio favorita.
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