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Microsoft irá investigar casos de corrente de e-mail viral sobre assédio sexual

Por| 04 de Abril de 2019 às 17h27

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Microsoft irá investigar casos de corrente de e-mail viral sobre assédio sexual
Microsoft irá investigar casos de corrente de e-mail viral sobre assédio sexual
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A Microsoft é uma empresa que já inovou a informática em diversos sentidos, e agora está entrando nas manchetes de todos os principais jornais, revistas e sites do mundo por ter sido a primeira a conseguir viralizar uma corrente de e-mails de envio exclusivo pela ethernet da empresa. Infelizmente, o resto desta história está longe de ser tão curioso ou inocente quanto essa introdução.

No total, todos os emails viralizados somam mais de 90 páginas, sendo todos de funcionárias da empresa contando histórias sobre os casos de discriminação e assédio moral e sexual que sofreram no ambiente de trabalho.

A corrente começou no dia 20 de março deste ano, quando uma funcionária da empresa enviou e-mail para todas as mulheres que conhecia na Microsoft perguntando o que era necessário fazer para ser promovida na empresa, já que ela já trabalhava há seis anos no mesmo cargo e nunca viu seu chefe dar a ela qualquer possibilidade de ao menos disputar um cargo melhor. Essa pergunta acabou fazendo com que dezenas de mulheres respondessem à pergunta revelando suas frustrações pessoais com a empresa, e revelando diversas histórias absurdas de assédio que sofreram dentro da companhia, que não fez nada para punir seus abusadores.

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O conteúdo desses e-mail foi verificado pela equipe da revista Quartz e confirmado como verdadeiro por duas funcionárias da Microsoft que participaram dessa corrente. Por motivos de segurança, a identidade de todas as pessoas envolvidas não foi revelada pela revista.

Ao ficar sabendo da existência dessa corrente em 29 de março, Kathleen Hogan, chefe do departamento de recursos humanos da Microsoft, fez questão de também deixar sua mensagem na corrente de e-mails, revelando ter achado um absurdo o fato de todas essas histórias terem sido ignoradas por seus funcionários e nenhuma delas ter chegado até ela, e que a partir de agora ela passaria a cuidar pessoalmente deste problema. Na lista de e-mails para quem Hogan enviou essa resposta constam ainda o endereço de Satya Nadella, CEO da Microsoft, e de Brad Smith, responsável por todo o departamento jurídico da empresa.

Segundo foi confirmado por um porta-voz da Microsoft, Hogan agendou uma reunião na manhã desta quinta-feira (4) com cada uma das funcionárias que contaram suas histórias de abuso no e-mail, para que elas pudessem revelar mais detalhes sobre seus abusadores e a empresa tomar medidas para conter esse problema.

Inferno corporativo

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Entre as diversas histórias contadas no e-mail, algumas se destacam pelo absurdo das situações. Em uma delas, uma funcionária da Microsoft revela que, em uma viagem de negócios, foi ameaçada de morte por um representante de um dos parceiros comerciais da companhia caso ela não aceitasse fazer sexo com ele. Ela ainda revela que, ao ouvir a ameaça, correu imediatamente para levar o caso ao RH, mas o gerente do setor dela (um homem) falou que tudo não tinha passado de um “flerte inocente”, e que ela deveria superar isso. Já o RH da empresa lavou as mãos, falando que não podia fazer nada sobre o caso, já que não havia provas (ela deveria ter previsto que ia ser ameaçada por um parceiro de negócios e já deixar um gravador ligado, pelo jeito). Como a pessoa não era um funcionário da empresa mas sim de uma parceira da Microsoft, não havia nada que eles poderiam fazer por ela.

Outra funcionária conta que já foi chamada de “p*ta” diversas vezes por seus colegas de trabalho, e contou que isso é uma prática comum em diversos setores da empresa. Esta funcionária revela que, quando ela trabalhava na divisão do Xbox, fez uma reunião com todas as outras mulheres do setor e descobriu que, com exceção de apenas uma, todas as outras eram constantemente chamadas de “p*tas” pelos seus colegas de trabalho do sexo masculino. Ela ainda completa falando que, antes que as pessoas venham justificar esse tipo de comportamento falando que é “coisa da molecada do Xbox”, ela afirmou que já trabalhou também nas divisões de engenharia da Azure e do Windows, e em todos esses locais passou pelo mesmo tipo de situação — o que mostra que isso não é um problema específico de um setor, mas algo que faz parte da cultura de toda a Microsoft.

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Uma terceira funcionária da empresa também conta sua história absurda, de quando ela foi convidada a sentar no colo de um de seus colegas de trabalho no meio de uma reunião. Ela conta que o caso aconteceu em uma reunião da Microsoft com um de seus parceiros comerciais, e que o pedido foi feito pela pessoa na frente de diversos executivos do alto escalão da empresa e de supervisores do departamento de RH. Ela fala que, ao ouvir o pedido, ela não só o rejeitou publicamente como ainda lembrou a todos das regras contra assédio sexual que fazem parte da política de trabalho da Microsoft. A pessoa não apenas ignorou tudo aquilo, como ainda falou que não tinha obrigação de ouvir nada do que ela falava, e teve a audácia de pedir novamente para que ela sentasse em seu colo — e ninguém dos que estavam na reunião fez nada para ajudá-la ou condenar o abusador.

Ainda que o fato da corrente de e-mails ter chegado ao conhecimento da imprensa e tornado a história pública possa ter sido um problema para a imagem da companhia, as funcionárias que revelaram suas frustrações na corrente de e-mails acreditam que isso é o melhor que pode ter acontecido para elas, pois isso obrigará a companhia a finalmente tomar uma atitude sobre a cultura de machismo extremo que existe na Microsoft, muitas falando que, pela primeira vez em anos, se sentiram empoderadas em seus locais de trabalho.

Essa não é a primeira vez que a Microsoft vira tema na imprensa por causa de problemas de abuso moral e assédio sexual no ambiente corporativo. Em março de 2018, um grupo de funcionárias e ex-funcionárias moveu uma ação conjunta contra a empresa, pedindo reparação por 238 casos de assédio sexual que ocorreram entre 2010 e 2016 e que foram ignorados pelo RH da empresa.

Fonte: Quartz