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IA não vai substituir desenvolvedores, mas mudará o trabalho, diz CTO da Amazon

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Bruno De Blasi/Canaltech
Bruno De Blasi/Canaltech

A inteligência artificial não vai tomar o lugar dos desenvolvedores, mas impulsionará mudanças no trabalho. É o que conta o CTO da Amazon, Werner Vogels, nesta quinta-feira (4).

Durante sua keynote no AWS re:Invent 2025, o executivo levantou uma das perguntas mais frequentes da atualidade: “a inteligência artificial vai tirar meu emprego?”.

A resposta, para ele, é clara: não. A IA vai automatizar tarefas e exigir novas competências, mas o trabalho essencial continua nas mãos dos desenvolvedores.

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O executivo pontua que vivemos uma espécie de “novo Renascimento”. Nesta visão, ocorre o cruzamento de disciplinas, usando IA como alavanca e aplicando tecnologia para resolver problemas reais em escala global.

IA muda as tarefas, não o papel do desenvolvedor

Vogels lembrou que a profissão já passou por várias “ondas” de transformação: linguagens de baixo nível, orientação a objetos, migração do monolito para microserviços, depois para a nuvem. E, agora, para fluxos de trabalho com assistentes de IA.

Em todos esses momentos, uma coisa permanece: o papel central dos desenvolvedores nas decisões e na arquitetura. 

Ele reconhece que algumas atividades vão sumir ou encolher, como escrever trechos repetitivos de código ou lidar manualmente com parte da infraestrutura. Porém, isso não elimina a necessidade de gente qualificada.

“Nenhuma dessas ferramentas remove o trabalho que só você pode fazer. O trabalho é seu, não das ferramentas. É o seu trabalho que importa”, diz.

Em vez de substituir devs, a IA desloca o foco: menos tempo digitando código óbvio, mais tempo decidindo o que construir, por quê, com quais trade-offs de custo, desempenho e segurança.

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O “desenvolvedor renascentista”

Inspirado no Renascimento europeu, Vogels argumenta que os desenvolvedores de hoje precisam agir como os pensadores multidisciplinares daquela época, que transitavam entre arte, ciência, engenharia e filosofia.

Ele cita a convergência de várias “eras de ouro” simultâneas, como IA, robótica e exploração espacial, que se reforçam mutuamente. Nesse cenário, a principal habilidade é a curiosidade.

“A curiosidade é fundamental. Como desenvolvedores, vocês precisam estar em constante aprendizado, pois tudo muda o tempo todo”, afirmou. “A curiosidade leva ao aprendizado e à inovação."

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A pré-disposição para errar é outro fator desatacado. Em sua apresentação, o CTO compara o aprendizado de software com o aprendizado de um idioma: gramática ajuda, mas o que realmente ensina é “tropeçar na conversa” e ser corrigido.

No desenvolvimento, são os builds que quebram, as suposições erradas e os bugs que mostram como o sistema se comporta de verdade.

Vogels cita, ainda, a lei de Yerkes–Dodson: sem pressão, não engaja; com pressão demais, trava. O ponto ideal é onde curiosidade encontra o desafio, ambiente em que os desenvolvedores crescem mais rápido.

Aprendizado social e comunidade

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O executivo também destacou o papel do aprendizado social. Ele explica que ninguém evolui apenas ouvindo uma pessoa em um palco ou lendo documentação. É preciso trocar com outros desenvolvedores, participar de conferências, comunidades e projetos reais. 

Ele menciona suas viagens recentes a regiões como Amazônia e África Subsaariana para visitar clientes que aplicam tecnologia a problemas como:

  • Monitorar e reduzir a poluição plástica nos oceanos com sensores e modelos de IA;
  • Usar dados em tempo quase real para orientar políticas públicas de saúde;
  • Levar energia mais limpa e acessível a comunidades de baixa renda com soluções inovadoras.

Para Vogels, esses exemplos mostram que desenvolvedores não são apenas “escrevedores de código”, mas agentes diretos de impacto social. Característica que nenhuma IA substitui.

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Pensar em sistemas, não só em serviços

Vogels também destaca o pensamento sistêmico como característica-chave. Inspirado pelo trabalho da ecologista Donella Meadows, ele lembra que sistemas complexos, sejam ecossistemas naturais ou arquiteturas de software, têm vidas próprias e se comportam de forma não óbvia.

Neste sentido, o executivo da Amazon faz as seguintes observações:

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  • Cada serviço, métrica e cliente faz parte de um sistema maior;
  • Mudanças em um ponto podem gerar efeitos inesperados em outro;
  • Entender loops de feedback, pontos de alavanca e equilíbrios é essencial para construir sistemas resilientes.

Comunicação clara

Por fim, Vogels coloca comunicação no mesmo nível de importância que conhecimento técnico. Em um mundo em que interagimos com IA por linguagem natural, ser capaz de reduzir ambiguidade e explicar claramente o que um sistema deve fazer é tão crítico quanto saber a sintaxe de uma linguagem.

Ele lembra que grandes sistemas do passado, como o software de guiagem das missões Apollo, dependiam de especificações extremamente detalhadas para funcionar.

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Agora, com a IA generativa, algo semelhante acontece: quem sabe traduzir intenção de negócio em especificações claras, seja para humanos ou para modelos, tem vantagem.

IA como alavanca, não como ameaça

A IA generativa não marca o fim da carreira de desenvolvedor, mas marca um ponto de virada, na visão de Vogels. Ferramentas como assistentes de código e agentes de IA ampliam a produtividade, mas não substituem a criatividade, o julgamento e a capacidade de entender sistemas complexos. 

Na visão de Werner Vogels, os desenvolvedores que vão se destacar são aqueles que:

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  • Mantêm curiosidade agressiva e aprendem o tempo todo;
  • Experimentam, falham rápido e usam o erro como alavanca;
  • Participam de comunidades e aprendem em grupo;
  • Pensam em sistemas, e não só em componentes isolados;
  • Comunicam bem suas ideias, intenções e especificações.

Para esses profissionais, a IA não é uma ameaça, mas um multiplicador. Assim, o “desenvolvedor renascentista” é justamente quem sabe usar essas novas ferramentas para construir o próximo capítulo da tecnologia.

Última keynote no re:Invent

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A conferência desta quinta-feira (4) também marcou um momento de despedida: esta foi a última keynote de Vogels no AWS re:Invent, depois de participar de 14 edições do evento, após considerar a importância de abrir espaço para novas vozes dentro da companhia.

“Há tantos engenheiros incríveis na Amazon que têm ótimas histórias para contar, para ensinar, para ajudar e educar vocês, e acho que é hora de essas vozes mais jovens e diferentes da AWS estarem aqui na frente de vocês”, explicou. “Não estou saindo da Amazon.”

O Canaltech participou do AWS re:Invent 2025 a convite da AWS.

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