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Buser, Wemobi e Flixbus: a disputa dos "Ubers dos ônibus" engata a quinta marcha

Por| 24 de Agosto de 2021 às 09h15

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Envato / den-belitsky
Envato / den-belitsky

Se os aplicativos de mobilidade atingiram em cheio o monopólio dos táxis e fez os preços das corridas de carro despencarem em muitas cidades Brasil afora, as viagens intermunicipais e interestaduais de ônibus vão pelo mesmo caminho. E, para isso, diversas startups vêm operando há algum tempo nas estradas brasileiras, mas de forma um tanto tímida, principalmente devido às questões regulatórias de órgãos como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTN), além das agências reguladoras estaduais.

E, assim como aconteceu com o Uber em relação aos táxis, essas startups de viagens de ônibus também enfrentam a chiadeira das viações tradicionais. Isso porque algumas dessas companhias usam um sistema chamado de "fretamento colaborativo". Com isso, essas startups se definem como uma plataforma de tecnologia que conecta os passageiros a empresas de fretamento de ônibus. E todo o processo é feito via aplicativo.

Logo, o usuário não paga por uma passagem, mas, sim, por uma espécie de "vaquinha" (ou rateio). Se o número de passageiros mínimo que cubra os custos da viagem for atingido, ela ocorre. Caso contrário, nada feito e é preciso buscar alternativas de dias e horários no aplicativo. Mas, mesmo com algum grau de incerteza, esse sistema tem uma vantagem incontestável: o preço. O valor das viagens pode ser até 60% em comparação com as viações tradicionais.

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Mas, brigas à parte, o fato é que essas empresas — apelidadas de "Uber dos Ônibus" — se preparam para engatar a quinta marcha e crescer de verdade em um mercado de dimensões continentais, logo, bastante promissor. Conheça cada uma e veja o que elas estão oferecendo ao consumidor para isso:

A Buser aposta seu crescimento no "eu cheguei primeiro"

Em operação desde 2017, a Buser afirma já contar com quase 4 milhões de pessoas em sua plataforma digital e pode ser considerada a pioneira na modalidade de fretamento colaborativo.

A plataforma oferece viagens para 21 estados e o Distrito Federal, incluindo passagens para cama, leito e semileito (caso o ônibus ofereça essas opções, claro). O pagamento pode ser feito através de cartão de crédito, PIX ou boleto, e todo o processo de compra é realizado digitalmente. No dia da viagem, o passageiro precisa comparecer no horário marcado com documento com foto e a comprovação da compra por e-mail.

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Mas para além do fretamento colaborativo, a Buser agora passa a investir também no marketplace de passagens, que leva o nome de Buser Passagens. Lançado no início do ano, a companhia afirma que o serviço tem transportado, mensalmente, cerca de 20 mil passageiros, mas a meta para dezembro é bater a marca de 70 mil viajantes no mês.


Para avançar, a startup planeja dobrar o número de viações parceiras integradas ao Buser Passagens. Atualmente, são mais de 60 parceiras, como Expresso Adamantina, Grupo Roderotas e Expresso Transporte. Até o fim deste ano, a previsão é vender bilhetes para 100 companhias chegando a todos os estados do Brasil.

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Com esses dois modelos de negócios, a startup tem a meta de dobrar o faturamento no próximo trimestre. Segundo Savio Caríssimo, diretor da área Comercial na Buser“, a companhia planeja oferecer, em breve, descontos progressivos, graças à convergência da plataforma. “Quando a gente vende mais para a empresa parceira, ela aumenta a ocupação e consegue reduzir ainda mais o preço unitário do bilhete, aumentando também o faturamento”, ressalta o executivo.

A Buser afirma ainda que, para baratear o custo dos bilhetes no marketplace, ela não cobra nenhum tipo de taxa - como as taxas de serviço ou conveniência -, prática recorrente no mercado e que chega representar mais de 20% do valor da passagem entre as concorrentes. Assim, ela declara que consegue vender mais barato do que outras plataformas online, como Guichê Virtual, ClickBus e outras.

A FlixBus aposta no conforto

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Operadora de rotas rodoviárias controlada pela startup alemã FlixMobility, a FlixBus começa a atuar no Brasil no fim do ano, aproveitando a abertura do mercado de ônibus interestaduais no país. E para bater de frente com a Buser, a companhia aposta no conforto, com maior quantidade de ônibus leito e semileito, além de facilidades como Wi-Fi gratuito a bordo. Sem contar a parte sustentável, onde alguns veículos são dotados de painéis solares e alguns movidos a biogás. Tudo isso combinado com promoções e preços agressivos.


Sua controladora não possui praticamente frota própria de ônibus, mas opera por meio de uma rede de empresas parceiras que exploram as rotas usando uma única plataforma. A FlixBus tem uma tecnologia própria para roteirização de destinos, gestão de frotas, otimização de preço de passagem e captação de clientes por meio de uso de inteligência artificial entre outras tecnologias que tornam o processo de marketing e vendas muito mais eficiente para o operador. Além disso, ao contrário da Buser, a FlixBus quer se instalar em pontos localizados em terminais rodoviários, além de construir guichês para vendas físicas, permitindo a compra de passagens entre aqueles que não têm acesso à internet.

Em junho deste ano, a FlexMobility recebeu um aporte de US$ 650 milhões de fundos de investimento. Desse total, US$ 100 milhões para as operações da FlixBus no Brasil para estruturar a operação. A longo prazo, a companhia espera contar com 10 milhões de usuários de seu serviço.

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A Wemobi aposta na tradição

Por fim, a Wemobi é uma espécie de resposta das viações mais tradicionais às startups como a Buser e a FlixBus, consideradas por entidades que representam as empresas do setor como "um serviço clandestino" por não seguir uma série de regulamentações, promovendo a concorrência desleal (veja mais abaixo).

Discussões à parte, a Wemobi é uma plataforma digital pertencente ao Grupo JCA, proprietário de diversas viações peso-pesado de ônibus, como 1001, Cometa e Expresso do Sul. Com isso, a companhia opera viagens interestaduais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, tanto nas capitais, quanto nas cidades do interior. Sem contar que outros 16 novos trechos entre esses estados entram em funcionamento em setembro.

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O modelo de negócios da Wemobi tem diversas similaridades com a Buser e, futuramente, a FlixBus. As passagens são vendidas apenas de forma online, via app ou site, os pontos de embarque não se restringem apenas às rodoviárias, mas também em locais mais estratégicos e acessíveis das cidades onde opera e, claro, as passagens têm preços mais baixos se comparados com as viações tradicionais.

A diferença para os outros dois concorrentes é que a Wemobi conta com uma frota própria de ônibus — hoje na casa de 18 veículos (de dois andares) e com planos de expansão para 28. Além disso, segundo a companhia, todos trazem Wi-Fi, tomadas USB individuais e playlist personalizada no Spotify e Deezer.

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Para completar, as passagens são vendidas em duas categorias: na Comfort Plus, o usuário adquire uma cabine exclusiva, com somente 16 assentos, separados por cortina para dar mais privacidade. Além disso, os assentos têm maior reclinação da poltrona (135°) e maior espaçamento para pernas, apoio de pés e pernas. Já o Comfort conta poltronas reclináveis no piso superior do ônibus, espaçamento de 45cm, apoio de pés e pernas, ar condicionado, luz individual.

Outro lado

Mas se empresas como Buser e FlixBus se preparam para crescer, é fato que isso não acontecerá sem luta, principalmente a Buser, que já vem enfrentando batalhas jurídicas no setor há anos. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (Anatrip), a companhia atua de forma irregular.

"O motivo é o fato de ela se esquivar da fiscalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os riscos dessa expansão serão um efeito de bola de neve em que uma empresa que desrespeita a legislação brasileira aumenta a quantidade de passageiros transportados enquanto se esquiva da fiscalização e passa a oferecer cada vez mais riscos aos passageiros. Destacamos a sonegação de imposto que a empresa sempre praticou com o lucro obtido fora das diretrizes impostas pela ANTT e pela Constituição Federal", diz comunicado oficial da entidade.

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Além disso, a Anatrip aponta que a Buser não paga o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nem cumpre outros requisitos exigidos em lei. Acompanhe a explicação da associação:

"A baixa de preços se deve à sonegação tributária por não pagar ICMS, e também ao fato de a Buser não conceder gratuidades (para idosos, jovens de baixa renda e pessoas com deficiência). Essas gratuidades representam custos adicionais com que as empresas regulares arcam e a Buser não. Além disso, a Buser não oferece segurança aos usuários ao não utilizar plataformas rodoviárias em grande parte de suas operações. Seus usuários precisam esperar o embarque em locais improvisados em vários locais, como em Brasília (DF), em que a empresa usa a área de estacionamento de um hotel. As empresas regulares buscam seus passageiros nos terminais rodoviários com segurança, em local com banheiros, lanchonetes, carrinhos para malas, bancos para espera e outros. Para oferecer esse conforto aos passageiros, pagam uma taxa significativa. As empresas regulares são obrigadas a ter garagens espalhadas pelo Brasil para que, se seus veículos tiverem uma pane na estrada, o resgate dos passageiros seja feito imediatamente. Isso representa mais um custo, mas garante a segurança aos passageiros. Como a Buser não atua assim, deixa de considerar esses aspectos do transporte rodoviário de passageiros com os quais as empresas regulares arcam." Para concluir, a Anatrip diz que a inovação proposta pela Buser é a mesma já oferecida por plataformas como Guichê Virtual, ClickBus e outras que seguem a legislação. "A Buser sonega impostos e atua fora da legislação brasileira e do escopo fiscalizatório da ANTT. Com isso, diminui custos sem oferecer segurança aos passageiros nem cumprir as gratuidades em nome de uma publicidade de preço baixo que, na realidade, tem um custo muito alto. Ele é pago com a insegurança dos usuários e a atuação na ilegalidade, ao não cumprir os demais requisitos previstos em lei."

A Buser responde a Anatrip

A área de comunicação da Buser entrou em contato com o Canaltech para rebater as acusações da Anatrip. Em comunicado, a startup afirma que:

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"Maior plataforma digital de intermediação de transporte rodoviário por ônibus no País, a Buser esclarece que seu modelo de negócios é legal, justo e necessário para a moderna cadeia de mobilidade urbana no país.  Tanto a startup quanto suas parceiras de fretamento possuem todas as licenças necessárias e fazem o recolhimento de tributos. Todas as viagens dentro do modelo que chamamos de “fretamento colaborativo” recolhem IRPJ, PIS, COFINS, ICMS e IPVA. Diferentemente do que foi afirmado pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (Anatrip), não há qualquer sonegação ou isenção no recolhimento do ICMS, que são de responsabilidade das empresas de transporte. O fretamento turístico recolhe IPVA sobre a frota e não se beneficia de isenções estaduais aplicáveis ao setor regular e outros modelos de fretamento. Além disso, a Buser, como empresa de tecnologia, recolhe ISS sobre a atividade de intermediação. Além dos diferenciais em relação aos preços das viagens, a empresa reafirma seu compromisso em investir fortemente em tecnologias inovadoras de segurança. Uma das principais iniciativas nesse sentido é a câmera com sensor de fadiga, um equipamento que é capaz de detectar níveis de cansaço dos motoristas e hoje está sendo instalado em todos os ônibus parceiros da plataforma. Em mais de um ano de uso do sistema, nunca houve registro de acidentes envolvendo veículos equipados com essa tecnologia. Os veículos contam ainda com sistema de telemetria, ferramenta que permite o controle em tempo real da velocidade. Para a Buser, é natural haver questionamentos sobre seu modelo de negócio, pois ele de fato inova e traz mais liberdade de escolha aos consumidores. Mas o que as associações ligadas aos grandes grupos de ônibus estão fazendo é tentar misturar empresas legalizadas com irregulares, o que não se aplica ao nosso negócio. É a mesma história vista num passado recente com a Uber e a 99 – que hoje compartilham as ruas com os táxis, seus antigos desafetos. Nosso papel continuará sendo sempre o de oferecer viagens de qualidade e com segurança a preço justo, sem deixar de cumprir as licenças necessárias e fazendo o devido recolhimento de tributos."