Apagão na AWS: quem paga quando a nuvem cai?
Por Marcelo Fischer Salvatico | •

A Amazon Web Services (AWS) enfrentou uma falha generalizada na manhã desta segunda-feira (20). Mais de 500 empresas ao redor do mundo que dependem do serviço foram afetadas, como Mercado Livre, Duolingo e a própria Amazon.
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O apagão nos servidores na nuvem levanta a questão: quem arca com os prejuízos – potencialmente bilionários – causados pelo incidente?
O Canaltech conversou com especialistas para entender se a conta fica com a empresa que oferece o serviço, com as empresas afetadas ou com as pessoas físicas que dependem de toda a cadeia.
Quem paga o prejuízo?
A resposta varia de acordo com quem está na ponta da relação, como explica Alexander Coelho, sócio responsável pela área de Direito Digital no Godke Advogados.
"Para o consumidor final, responde quem presta o serviço a ele", explica Coelho. Ou seja, no caso do Mercado Livre, se o cliente não conseguir finalizar uma compra na plataforma, é o marketplace quem responde, e não a AWS.
Mas, a empresa afetada pode ir atrás de compensação. "Essa empresa, por sua vez, pode buscar o que é conhecido como direito de regresso contra a AWS, conforme o contrato", afirma Coelho.
O que ocorre é que os contratos com empresas que fornecem serviço de nuvem, normalmente, limitam as responsabilidades. "Geralmente, esses contratos preveem créditos em serviço e limitações de danos, sem cobrir perdas imediatas”, explica Alexander.
Na prática, empresas maiores conseguem contratos mais vantajosos. "Os grandes players do mercado têm um corpo jurídico mais forte e não aceitam aquele primeiro contrato imposto".
Já as pequenas empresas e empreendedores individuais ficam mais vulneráveis a prejuízos sem compensação adequada.
O que os afetados podem fazer?
Pessoas físicas, como consumidores, devem acionar diretamente a empresa da qual consomem ou utilizam os serviços. Mas com as empresas afetadas o caminho é diferente, e é necessário agir com rapidez em duas frentes.
Primeiro, precisam comunicar os clientes. "Transparência é uma boa prática sempre, principalmente em relação de consumo", orienta Coelho.
"A comunicação clara sobre indisponibilidade é um dever de informação”.
Depois dos avisos, devem notificar as autoridades, principalmente se houver risco relevante. "Pela Lei Geral de Proteção de Dados, no artigo 48, incidentes que podem acarretar algum risco relevante aos titulares precisam comunicar os clientes e comunicar a autoridade", explica o advogado.
No caso, a autoridade em questão é a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). E, em setores com maior regulação, como o financeiro, de saúde e de telecomunicações, há obrigações adicionais e agências reguladoras específicas.
A falha no sistema da AWS
Por volta das 8h, a AWS informou que os serviços começaram a se normalizar, mas as instabilidades persistem até o momento. Esta foi a primeira grande interrupção desde o problema com a CrowdStrike em julho de 2024, que afetou hospitais, bancos e aeroportos globalmente.
Segundo o professor Júlio César Chaves, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas, o problema ocorreu na região Norte do estado de Virgínia, nos Estados Unidos – a mais utilizada mundialmente.
"Essa região tem a menor taxa [cobrada pela hospedagem do serviço de nuvem], menor valor do mundo", explica. Por ser até 30% mais barata que outras regiões, concentra grande volume de usuários.
Chaves explica que a falha envolveu serviços essenciais, e é muito provável que tenha ocorrido um problema de “resolução do servidor de domínio”, o sistema que traduz endereços da web em IPs.
Serviços como Lambda (funções sem servidor) e DynamoDB (banco de dados) foram especialmente afetados. "Como essas funções são as mais baratas de se usar, foi um efeito em cascata, tudo foi caindo, porque está todo mundo usando", completa o professor.
A AWS é líder global em computação em nuvem, o que amplifica o impacto de qualquer instabilidade.
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