Publicidade

Quase colapso do campo magnético da Terra ampliou formas de vida

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

Compartilhe:
ESA
ESA

A vida pode evoluir de formas surpreendentes e se aproveitar até de mudanças estruturais do planeta, como o enfraquecimento e “quase colapso” do campo magnético da Terra, que ocorreu entre 591 a 565 milhões de anos. Paralelamente, os primeiros fósseis de “animais” complexos aparecem próximos a este período, apontando para uma ligação até então desconhecida da evolução das espécies com o campo geomagnético. 

Neste mesmo período geológico do planeta, ocorreu um aumento significativo nos níveis de oxigênio na atmosfera e nos oceanos, o que teria proporcionado este salto evolutivo para a vida na Terra, segundo uma equipe internacional de cientistas, incluindo membros da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Os maiores beneficiados pelo incremento nos níveis de oxigênio e no enfraquecimento do campo magnético da Terra foi a biota ediacarana, no período Ediacarano. No mar, estes seres multicelulares podiam medir mais de um metro e eram móveis, o que indica a necessidade de um consumo maior de oxigênio — isto em comparação com as formas de vidas anteriores, como espécies microscópicas ou estacionárias (tipos de esponjas).

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

“Hipóteses anteriores para o aparecimento da espetacular biota ediacarana incluíam fatores genéticos ou ecológicos, mas o momento próximo com o campo geomagnético ultrabaixo nos motivou a revisitar as questões ambientais e, em particular, a oxigenação atmosférica e oceânica”, afirma John Tarduno, professor da universidade norte-americana e um dos autores do novo estudo, em nota.

Campo magnético da Terra

Embora o enfraquecimento do campo magnético da Terra há milhões de anos tenha sido aparentemente positivo para a evolução das formas de vida, este episódio poderia ter consequências drásticas. Afinal, é a existência deste campo que diferencia nosso planeta de Marte e de Vênus, por exemplo.

Inclusive, se este enfraquecimento tivesse durado mais tempo, a realidade seria outra. “Se o campo extraordinariamente fraco tivesse permanecido após o Ediacarano, a Terra poderia parecer muito diferente do planeta rico em água que é hoje”, afirma Tarduno. Com os altos níveis de radiação (e calor), a água teria evaporado também e ido embora

Enfraquecimento do campo magnético

Para sustentar toda a hipótese do quase colapso do campo geomagnético, o aumento do oxigênio e a evolução das espécies, a pesquisa, publicada na revista Communications Earth & Environment, se baseia na análise de rochas extraídas no Sul do Brasil.

Os cientistas analisaram as propriedades magnéticas de 21 cristais de plagioclásio, um mineral comum na crosta terrestre, extraídos de uma formação rochosa com aproximadamente 590 milhões de anos. Segundo os autores, estes cristais contêm minerais magnéticos que preservam a intensidade do campo magnético do momento da formação, como uma assinatura. 

Continua após a publicidade

Através dessas assinaturas, a equipe concluiu que o campo geomagnético daquele momento é o mais fraco já registrado na história do planeta. Em comparação com o atual, ele era 30 vezes mais fraco.

Como ocorreu o aumento dos níveis de oxigênio?

Com o campo magnético enfraquecido, os cientistas entendem que isso pode ter facilitado o escape de grandes quantidades de hidrogênio para o espaço, aumentando os níveis de oxigênio na atmosfera, com as implicações já conhecidas.

Em termos da física, a ideia é que um campo magnético enfraquecido permite que as partículas carregadas do sol retirem átomos leves, como o hidrogênio, da atmosfera e os disperse para o espaço, de forma mais simples. Ao longo de milhões de anos, essas reações levaram ao acúmulo de oxigênio identificado.

Continua após a publicidade

A seguir, veja como eram os organismos da biota ediacarana:

Fonte: Communications Earth & Environment e Universidade de Rochester