Imagens de satélite mostram lagos "brotando" no Saara após alagamento
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

O deserto do Saara é conhecido por ser o maior deserto quente do mundo, mas, em episódios muito raros, suas características viram do avesso, como mostram imagens de satélite da NASA. Nesta região do norte da África (entre Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia), um ciclone extratropical provocou fortes tempestades no final de setembro. Após o fenômeno, o escoamento das águas fez com que lagos efêmeros "brotassem" do solo arenoso e seco.
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Com o ciclone extratropical, choveu o equivalente a mais de um ano inteiro em apenas alguns dias. Nas imagens de satélite do antes (12 de agosto) e depois (29 de setembro), é possível ver como um lago efêmero da Argélia, conhecido como Sebkha el Melah, foi preenchido por águas muito raras na região desértica.
Após a análise das imagens de satélite, uso de mapas tridimensionais e de cálculos matemáticos, a conclusão é de que este lago da Argélia ainda está um terço preenchido pelas águas do "dilúvio" que caiu no Saara.
A seguir, veja o antes e o depois:
Como aponta Moshe Armon, professor sênior da Universidade Hebraica de Jerusalém, a área coberta por água é de 191 quilômetros quadrados e, nos pontos mais profundos, há uma profundidade máxima de 2,2 metros.
Na história recente desta região da Argélia (desde os anos 2000), apenas duas outras chuvas históricas conseguiram ser fortes o suficiente para alimentar o lago, com os alagamentos. Isso ocorreu em 2008 e 2014. Entretanto, os efeitos do ciclone e da tempestade recentes foram sentidos em áreas nas quais não chovia há mais tempo ainda.
Imagens de satélite feitas pela Agência Espacial Europeia (ESA) revelam o impacto das chuvas em Marrocos. Em Erg Chebbi (ou Dunas de Merzouga), uma área tomada por dunas estelares no Saara, lagos também se formaram por causa das fortes chuvas. Este também é um registro atípico e histórico:
Ciclone extratropical no Deserto do Saara
Há pouco mais de 10 mil anos, o Deserto do Saara tinha outro aspecto. Era muito provavelmente mais úmido e verde, com algumas plantas, algo próximo de um pântano. Este passado oposto da atualidade é sugerido por uma série de evidências geológicas e arqueológicas.
De lá para cá, quase tudo mudou e as formas de vida quase desapareceram. Agora, as chuvas e os ciclones extratropicais são eventos muito raros. Entretanto, a água que faz os lagos “brotarem” demora a evaporar. Segundo Armon, a “cheia” de 2008 só acabou por completo em 2012.
“Se não tivermos mais eventos de chuva, com esta profundidade de 2,2 metros que temos agora, levaria cerca de um ano para [a água] evaporar completamente”, sugere o professor, em nota.
Inclusive, estes episódios (ainda esparsos, mas mais comuns) podem ser um indicador de mudanças significativas na região do gigantesco deserto, conforme o planeta se transforma.
Saiba mais:
Longe do Saara as chuvas são muito mais comuns, como as que afetam grande parte do Brasil desde a última semana. Aproveite para descobrir a origem daquele "cheiro de chuva", que pode ser sentido antes mesmo do início das precipitações:
Fonte: NASA, Copernicus