Publicidade

Como produtos químicos banidos foram parar nos locais mais profundos da Terra?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

Compartilhe:
NOAA/Wikimedia Commons
NOAA/Wikimedia Commons

Cientistas encontraram traços de PCB — bifenilas policloradas, produtos químicos com produção proibida desde 2001 — em um dos locais mais profundos da Terra. A equipe de pesquisadores europeus detectou a substância na Fossa do Atacama, a 8.000 metros de profundidade, no Oceano Pacífico.

Produzidos majoritariamente entre os anos 1930 e 1970, os PCBs são químicos que foram aplicados como isolantes em equipamentos elétricos, em tintas e em refrigeração. Com a descoberta de seus impactos ao meio ambiente e seu potencial cancerígeno, diversos países iniciaram sua proibição ainda na década de 1970, sendo que um acordo da ONU baniu totalmente a produção das substâncias — e mais diversas outras — em 2001.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

A longa vida útil dos PCBs, porém, faz com que eles ainda estejam presentes nos mais variados ambientes, inclusive longe daqueles onde o químico era empregado. É o que confirma um estudo das universidades de Estocolmo e do Sul da Dinamarca, mostrando que não há lugar na Terra livre de poluição.

PCBs nas profundezas

A equipe coletou amostras de sedimentos em cinco locais ao longo da Fossa do Atacama, localizada a 160 quilômetros da costa do Peru e do Chile e se estendendo por quase 6.000 km. Os sedimentos foram retirados de profundidades diferentes, variando entre 2.500 a 8.085 metros. Em todas elas, os pesquisadores encontraram PCBs.

A explicação para isso está na forma com que os nutrientes circulam pelo oceano. Nesta região, correntes marítimas trazem para a superfície as águas frias os nutrientes depositados no fundo do oceano, criando condições para o plâncton — minúsculos organismos aquáticos — se reproduzir. Quando eles morrem, suas células são depositadas novamente no leito oceânico, mas, até lá, eles têm a chance de interagir com os PCBs.

As moléculas dessas substâncias não se ligam bem com a água, preferindo se ligarem às moléculas orgânicas das células do plâncton pelo mesmo motivo que óleo e água não se misturam: PCBs são apolares e a água é polar. Dessa forma, poluentes como esse acabam sendo carregados para as profundezas do oceano com a morte de microrganismos marinhos.

O que acontece na Terra fica na Terra?

Não foi somente a concentração de PCBs na Fossa do Atacama que surpreendeu os cientistas. A pesquisa revelou que o acúmulo de sedimentos nos locais mais profundos da Terra guarda registros detalhados da chegada de diferentes poluentes através do tempo.

Continua após a publicidade

É fato que as concentrações nestes locais tão distantes da superfície são muito menores do que em áreas mais próximas a ocupações humanas, como é o caso do Mar Báltico, por exemplo. Lá, a concentração dos PCBs é cerca de 100 vezes maior do que na Fossa do Atacama.

De qualquer forma, a descoberta relembra a máxima de que na natureza nada se cria e nada se perde — tudo se transforma. Os poluentes que a humanidade já produziu ainda estão pelo mundo e alguns deles vão demorar muito tempo para se degradar.

Fonte: Nature Communications Via: The Conversation