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Com as mudanças climáticas, 99% das tartarugas nascidas na Flórida são fêmeas

Por| Editado por Rafael Rigues | 10 de Agosto de 2022 às 17h15

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Jeremy Bishop/Pexels
Jeremy Bishop/Pexels

Na Flórida, cerca de 99% de todos os filhotes de tartarugas marinhas nascem fêmeas, nos últimos anos. Essa não é uma decisão da natureza, mas sim uma consequência direta das mudanças climáticas, de acordo com cientistas dedicados à espécie.

Ao contrário da maioria das espécies animais do planeta, o sexo dos filhotes de tartarugas e jacarés é determinado após a fertilização, e o principal fator é a temperatura dos ovos em desenvolvimento. Ou seja, é o clima que decide se a prole será macho ou fêmea. Essa característica é chamada de “temperature-dependent sex determination”, ou “determinação do sexo dependente da temperatura”.

Os ovos são afetados pela temperatura em que são incubados durante certo período do desenvolvimento embrionário, chamado período termosensível. No caso das tartarugas, pesquisas mostram que se os ovos incubarem abaixo de 27,7° Celsius, os filhotes serão machos. Se os ovos incubarem acima de 31° Celsius, os filhotes serão fêmeas. Temperaturas entre estes dois pontos produzirão uma mistura de filhotes de tartarugas machos e fêmeas.

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Quanto mais quente a areia, maior será a proporção de tartarugas fêmeas. Por isso, a preocupação com a população de tartarugas já é de longa data — à medida que a Terra passa por mudanças climáticas, o aumento crescente de temperatura levar a um desequilíbrio perigoso para a espécie.

Agora, o estado da Flórida já encara essa realidade. "O assustador é que os últimos quatro verões na Flórida foram os verões mais quentes já registrados", disse Bette Zirkelbach, gerente do Turtle Hospital em Marathon, uma cidade localizada em uma cadeia de ilhas tropicais. Nos últimos quatro anos, apenas filhotes fêmeas de tartarugas foram encontrados.

“Ao longo dos anos, você verá um declínio acentuado na população [de tartarugas] porque simplesmente não temos a diversidade genética”, disse Melissa Rosales Rodriguez, cuidadora de tartarugas marinhas do hospital de tartarugas no zoológico de Miami. "Não temos a proporção macho-fêmea necessária para haver reprodução bem-sucedida".

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Além do aquecimento global, a interferência humana nos habitais e áreas de reprodução das tartarugas também é um fator que impacta diretamente a espécie, ameaçando sua perpetuação. O Turtle Hospital foi o primeiro a cuidar de tartarugas com o objetivo de amenizar o problema, mas, “há uma necessidade em toda a Flórida”, disse Zirkelbach.

A proporção sexual desequilibrada de tartarugas não é um fenômeno observado apenas na Flórida. Um estudo de 2018 sobre populações de tartarugas marinhas verdes na Grande Barreira de Corais, Austrália, descobriu que apenas cerca de um por cento dos filhotes de tartarugas era do sexo masculino.

A combinação dos cenários observados mostra que as colônias de tartarugas verdes na Grande Barreira de Corais produzem principalmente fêmeas há mais de duas décadas. Um estudo publicado na época alerta que a feminização completa dessa população é possível em um futuro próximo, significando o possível fim da espécie.

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Jacarés, crocodilos e alguns lagartos também enfrentam o mesmo problema, já que a determinação do sexo de filhotes é semelhante. O estudo das tartarugas marinhas mostrou que o aumento das temperaturas está “afetando a biologia dos organismos em tempo real”, de acordo com pesquisadora Clare Holleley, da Australian National Wildlife Collection, em 2018.

Fonte: ReutersNOAA, National Geographic