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Cientistas explicam o aumento do metano atmosférico nos últimos anos

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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Dimaberlin/Envato
Dimaberlin/Envato

O isolamento forçado pela pandemia de covid-19 em 2020 acabou ocasionando uma redução na emissão de gás carbônico e uma melhora na qualidade do ar em diversas partes do mundo. Outro gás de efeito estufa, porém, não diminuiu — o metano teve aumento recorde. Três anos depois, cientistas estão entendendo o porquê disso.

Considerado o segundo gás do efeito estufa mais importante, o metano tem potencial de contribuir 28 vezes mais com o aquecimento do planeta do que o dióxido de carbono. Desde 1880, calcula-se que ele tenha sido responsável por cerca de 15 a 45% do aumento de 1,1ºC na temperatura média do planeta.

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A concentração do gás na atmosfera permaneceu relativamente constante entre 2000 e 2006, mas, entre 2007 e 2019, ela passou por um aumento médio de 9 partes por bilhão ao ano. Em 2020, o aumento bateu o maior valor desde o início das medições, que começaram em 1983: o aumento foi de15 partes por bilhão, valor este que ainda seria superado em 2021.

O que explica o aumento do metano na atmosfera?

Explicar a causa exata dos aumentos de metano na atmosfera vem sendo um problema para os cientistas pois o gás tem diversas fontes, tanto naturais quanto decorrentes de atividades humanas. Entre elas estão a decomposição de matéria orgânica em áreas úmidas, a queima de combustíveis fósseis e a digestão de animais ruminantes, além de incêndios florestais, aterros sanitários e até o degelo do permafrost.

Ben Poulter, cientista do Goddard Space Flight Center da NASA, diz que “não temos toda a capacidade de monitoramento e os dados necessários para obter uma resposta definitiva”. Com as informações disponíveis, porém, ele aponta possíveis culpados: “Estamos vendo fortes evidências de que o aumento em 2020 foi causado pelas emissões de áreas úmidas e, paradoxalmente, pelas diminuições de emissões de óxidos nitrogênio causadas pelos lockdowns, pois isso indiretamente diminuiu a remoção do metano da atmosfera.”

As áreas úmidas — do inglês, wetlands — incluem áreas permanentemente ou temporariamente inundadas, como as margens de rios, mangues e pântanos. De acordo com o estudo publicado pela equipe da qual Poulter faz parte, as wetlands ao redor do mundo foram “expostas a temperaturas extraordinariamente altas e a maiores níveis de chuva”, nas palavras de Shushi Peng, que liderou a pesquisa.

A outra parte do aumento

Além das áreas úmidas, a pandemia de COVID-19 contribuiu para o aumento da concentração de metano de uma forma inusitada: os óxidos de nitrogênio (NOx) sofreram uma diminuição em suas emissões, pois o isolamento fez com que as queimas dos combustíveis fósseis que liberam essas substâncias diminuíssem. Os NOx passam por uma série de reações na atmosfera que acabam produzindo o radical Hidroxila (OH) que, por sua vez, remove o metano do ar.

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A redução das emissões de NOx foi especialmente significativa em áreas densamente ocupadas na América do Norte, Ásia e Europa durante o primeiro ano da pandemia. Para Poulter, “nossa pesquisa sobre o surto [de metano] em 2020 também é um lembrete aos tomadores de decisão sobre não pensar em poluentes de forma isolada”.

Os dados de 2022 ainda não foram incluídos na pesquisa, mas 2021 mostrou mais um recorde de crescimento nas emissões de metano: 17 partes por bilhão. Os cientistas temem que esse seja o início de um novo ciclo vicioso, em que a temperatura e as chuvas aumentam constantemente as emissões, que por sua vez aumentam mais ainda os fatores que as influenciam.

Fonte: Nature, NASA Earth Observatory