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TRENDOU | Por que você não deveria fazer sal usando água do mar na sua cozinha

Por  • Editado por Melissa Cruz Cossetti | 

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Faran Raufi/Unsplash
Faran Raufi/Unsplash

Nas redes sociais, vídeos de pessoas tentando produzir sal a partir da água do mar vêm chamando atenção. A prática parece simples e até sustentável, mas especialistas alertam que ela pode trazer sérios riscos à saúde e não compensa em termos práticos ou econômicos.

Nos vídeos, os internautas coletam água do mar e levam para casa, onde colocam para ferver até que sobre apenas o sal:

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A primeira coisa que precisamos pensar é que a água do mar não é apenas sal e pureza natural: ela pode carregar diversas impurezas invisíveis a olho nu. Em entrevista ao Canaltech, a nutricionista Vanessa Daufenback, doutora em Saúde Pública e professora do curso de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que a água do mar pode conter elementos indesejados, que vão além do sal.

“A água do mar pode conter impurezas do tipo microplásticos e/ou coliformes fecais. Neste último tipo de contaminação microbiológica, a ingestão pode resultar em doenças gastrointestinais e outras infecções”.

Além da contaminação microbiológica, há também os riscos químicos.

Como explica Daufenback, a água do mar pode acumular “resíduos industriais e metais pesados, além de um alto nível de sal”. Isso significa que, dependendo do ponto de coleta, o líquido pode estar repleto de poluentes vindos de esgotos, acidentes ambientais ou até despejos de navios.

Os riscos do sal caseiro

Produzir sal em casa a partir da água do mar pode até parecer uma forma artesanal de resgatar tradições antigas, mas os riscos à saúde são consideráveis. O farmacêutico Edvaldo Antonio Ribeiro Rosa, professor de Microbiologia da Escola de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), alerta.

“Se a água não for processada imediatamente após a coleta, ocorrerá proliferação de microrganismos (bactérias, fungos e algas) que irão liberar várias substâncias tóxicas”, explica.

Outro problema grave é a ausência de iodo no sal caseiro. Rosa lembra que esse sal não recebe a adição de iodo, comprometendo a disponibilidade desse oligoelemento, levando a quadros de hipotireoidismo e bócio. Reforçando que o processo caseiro não conta com controle de qualidade para evitar impurezas químicas e biológicas, tornando o consumo inseguro.

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Como o sal é produzido de forma segura

O sal que chega à nossa mesa pode ter duas origens: sal-gema ou sal marinho.

No Brasil, a maior parte do sal marinho é produzida no Rio Grande do Norte, especialmente em Mossoró, onde as condições climáticas favorecem a evaporação natural da água em lagoas rasas. Esse método, além de econômico, dificulta o crescimento de microrganismos.

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“As empresas produtoras devem enriquecer o sal com iodo na proporção de 15 a 45 miligramas por quilo, conforme legislação vigente”, explica Rosa, citando a Lei nº 6.150/1974 e a RDC 604/2022 da Anvisa.

Já Daufenback reforça que “a ingestão de sal mais indicada seria a do sal produzido industrialmente e que utilizamos no dia a dia, que além de passar por boas práticas de fabricação, está sujeito à fiscalização dos níveis de iodo”.

Por que não vale a pena fazer em casa

Além dos riscos à saúde, o processo caseiro é pouco viável economicamente. Para produzir apenas 1 kg de sal seriam necessários quase 29 litros de água do mar, o que exigiria alto consumo de gás ou energia elétrica.

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“Para evaporar 28,57 litros de água do mar, seriam necessários ao menos 1,315 kg de GLP, cerca de 10% de um botijão de 13 kg”, calcula Rosa.

Com isso, além do gasto financeiro, há a pegada de carbono gerada pelo processo, tornando-o ambientalmente desfavorável. Considerando que um quilo de sal refinado custa entre R$ 2,00 e R$ 7,50 nos supermercados, a produção doméstica não se justifica.

A conclusão: não produza sal em casa com a água do mar.

Não importa se é trend

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