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País está sendo reconstruído no metaverso para fugir das mudanças climáticas

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 17 de Novembro de 2022 às 12h08

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Reprodução/Wikimedia Commons
Reprodução/Wikimedia Commons

A pequena nação de Tuvalu, localizada no meio do Oceano Pacífico, é o primeiro país a criar uma versão inteira de si próprio no metaverso. O governo decidiu fazer isso em razão da ameaça real de desaparecimento do conjunto de ilhas, caso haja o aumento do nível dos mares.

O ministro da Justiça, Comunicação e Relações Exteriores de Tuvalu, Simon Kofe, fez o anúncio por meio de um discurso aos líderes na Conferência COP27. Kofe disse que o plano é uma solução para o pior cenário enfrentado pelo país-arquipélago, famoso por suas praias paradisíacas, clima tropical e rica cultura.

A versão digital de Tuvalu no metaverso ajudaria a preservar esse imenso patrimônio do povo local. Caso o lugar seja inundado pelas águas, Tuvalu pode ser a primeira nação a existir apenas no ciberespaço. "Mas se o aquecimento global continuar sem controle, não será o último", alertou o ministro.

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Este cenário um tanto apocalíptico é uma maneira justificável de preservar a identidade da ilha em uma eventual inundação. Desde quando os cientistas alertaram sobre o aumento do nível dos oceanos, causado pelo derretimento das calotas polares, vários locais ao nível do mar vivem na iminência de desaparecer.

Com a recriação no metaverso, Tuvalu poderia funcionar plenamente como um "estado soberano", ainda que seu povo seja forçado a viver em outro lugar. Este seria um curioso caso de preservação da nacionalidade por meio da tecnologia, criando um país 100% digital e com imensos desafios para o Direito Internacional resolver.

Tuvalu no metaverso

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Kofe sugere que três aspectos da nacionalidade de Tuvalu poderiam ser recriados no metaverso:

  1. Território: a beleza natural de Tuvalu seria retratada, com as belas praias, vegetação nativa e pontos turísticos que podem ser visitados digitalmente;
  2. Cultura: a capacidade do povo tuvaluano interagir uns com os outros de forma a preservar sua língua, normas e costumes compartilhados, onde quer que estejam;
  3. Soberania: se houver uma perda de terras físicas, os terrenos virtuais poderiam se tornar uma área sob comando do governo de Tuvalu.

Não dá para saber se isso seria viável de fato nem mensurar os impactos da virtualização de um Estado na organização mundial. Sob o ponto de vista tecnológico, não é difícil renderizar cenários com bastante precisão e riqueza de detalhes, mas há várias outras questões econômicas, sociais e políticas ainda em aberto.

Como considerar um país que não existe fisicamente como um Estado-nação soberano, com direito de participação em decisões do mundo real? Esse ambiente digital é totalmente dependente da eletricidade e da internet para existir, além ser suscetível a ataques hackers, acesso não autorizado e até modificação de códigos-fonte.

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Tuvalu tem apenas 12 mil habitantes, mas garantir que essas pessoas estejam imersas em um mundo virtual persistente é um baita desafio técnico. É preciso oferecer internet de qualidade, computadores com processamento gráfico adequado e formas de imersão virtual. Headsets de realidade virtual são geralmente usados para isso, mas nem todos se adaptam (há o cansaço visual e as náuseas) e ainda existe o custo elevado.

Desafio vai além da tecnologia

Há, ainda, o aspecto de meio-ambiente ligado à iniciativa. Uma pesquisa publicada na Nature prevê que a internet consumirá cerca de 20% da eletricidade mundial até 2025. A ilha sofre em decorrência das mudanças climáticas, mas o consumo energético de servidores, data centers, roteadores, dispositivos e monitores também traria impacto nocivo para a natureza.

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A ideia de construir uma "nação metaversa" pode ajudar a preservar um país ameaçado, mas traria consequências para outras nações. Imagine se todas as regiões costeiras possivelmente alagadas decidirem seguir pelo mesmo caminho?

Kofe está bem ciente de que o metaverso não é uma resposta para os problemas de Tuvalu. O político lembrou que ainda dá tempo de agir para minimizar os impactos das mudanças climáticas, como a redução no uso de combustíveis fósseis, a diminuição na emissão de poluentes na atmosfera e a preservação das florestas nativas.

Com seu vídeo curioso, o ministro conseguiu o que queria: chamar a atenção da comunidade internacional para um grave problema humano."Sem uma consciência global e um compromisso com nosso bem-estar compartilhado, podemos encontrar o resto do mundo se juntando a nós online enquanto suas terras desaparecem", concluiu.