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Plano brasileiro de IA pretende reduzir hiperdependência estrangeira

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Pexels/Tara Winstead
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O Governo Federal apresentou a versão inicial do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) com a proposta de investir R$ 23 bilhões para acelerar o desenvolvimento, a implementação e o uso da tecnologia no Brasil. Além de aquecer a indústria nacional, fortalecer a educação e avançar na evolução do setor público, o professor Filipe Medon, da FGV Direito Rio, destacou outro grande potencial da iniciativa em entrevista ao Canaltech: a redução da hiperdependência de soluções de outros países.

“Não se trata de uma tentativa de tornar o Brasil completamente autossustentável e sem qualquer relação com a IA estrangeira. Mas se trata de trazer ao Brasil uma maior autonomia e evitar a hiperdependência do estrangeiro”, explica. “E é claro que a soberania também tem a ver com a própria discussão de ataques cibernéticos. A soberania está diretamente relacionada à cibersegurança.”

O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ainda ressalta que não se trata de uma soberania no contexto político, mas sim uma soberania tecnológica. 

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“Isso não significa que o Brasil não vá dialogar ou manter cooperação e desenvolvimento, com outros países, ou a só favorecer o desenvolvimento da indústria interna”, acrescenta.

Inovação e infraestrutura

A observação faz parte dos pontos principais da proposta, que visa apoiar o desenvolvimento de modelos brasileiros e prevê a construção de um supercomputador para atender centros de pesquisa e a iniciativa privada.

Ao todo, a versão inicial do PBIA anunciada nesta terça-feira (30) tem cinco eixos: infraestrutura, desenvolvimento de IA, melhoria dos serviços públicos, inovação empresarial e regulação e governança. 

Diante dessa proposição, o plano pretende alcançar alguns elementos para garantir uma maior autonomia para o desenvolvimento tecnológico brasileiro em diversas esferas, sem se limitar apenas à inteligência artificial. 

Entre eles, a consolidação da infraestrutura de serviços necessários para a operação, como computação na nuvem para armazenamento e processamento de dados, um fator que também tem importância pela ótica da cibersegurança, especialmente quando se trata do tratamento de informações sigilosas relacionadas à questões estratégicas nacionais.

Esses sistemas também garantem benefícios para as repartições, fator que já foi até mapeado em um relatório recente do Governo Federal que mostra um panorama do uso de IA no poder público.

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“[O relatório mostra que] o ganho de eficiência é muito grande na prestação de serviços públicos, na racionalização das decisões e no próprio emprego da destinação da verba pública. A inteligência artificial é extremamente positiva nessa abordagem”, comenta.

Contudo, os riscos não devem ser descartados. Além da discriminação reproduzida pelos modelos, a automatização excessiva, que pode tirar o poder de revisão, é outro fator que merece a atenção e cuidado.

Investimento em educação

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Se o uso da IA no serviço público é positivo de um lado, do outro, a questão da qualificação ainda é uma preocupação. Ainda citando o relatório do Governo Federal, o professor da FGV aponta para a existência de um grande déficit na capacitação no setor.

“Foi dito nesse relatório que o Brasil, hoje, tem muitas soluções tecnológicas, mas pouca qualificação técnica no serviço público para lidar com isso”, disse. “Agora, em relação à qualificação dos profissionais em IA no Brasil, fora do serviço público, há um crescimento notável.”

Como exemplo, Medon cita o curso de graduação em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás, que já forma jovens nesse campo.

“É claro que precisa investir mais, mas o Brasil já começa a dar os primeiros passos para um investimento na educação, também, que é um ponto fundamental, já que não adianta investir em infraestrutura, disponibilizar um supercomputador, sem ter uma força de trabalho capacitada para lidar com essas ferramentas”, observa.

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O professor também reforça a importância da requalificação de quem já está no mercado de trabalho.

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