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IA vai afetar até 60% dos empregos em todo o mundo; o seu é um deles?

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 19 de Janeiro de 2024 às 17h16

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charlesdeluvio/Unsplash
charlesdeluvio/Unsplash

O velho dilema da máquina substituindo o homem ganhou nuances muito mais complexas — e, para alguns, assustadoras — com a chegada da inteligência artificial. Agora, um estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou que até 60% dos postos de trabalho de todo o mundo devem ser afetados de alguma forma pela tecnologia.

Os totais variam. Em países emergentes, pelo menos 40% dos empregos devem sofrer os impactos da adoção da inteligência artificial, enquanto esse total sobe para 60% nas nações desenvolvidas. O Brasil, aliás, aparece como uma das peças centrais do levantamento, com o FMI apontando nosso país com um nível de exposição de 41% à influência da tecnologia no mercado de trabalho.

O foco da pesquisa apresentada pelo fundo é mostrar alternativas, já que o órgão considera a adoção da IA inevitável. Vem daí, então, um tom menos apocalíptico do que se esperaria. Enquanto pondera que a adoção destas inovações deve levar a salários menores e até à extinção de cargos, inclusive em postos de liderança e trabalhos especializados, a ideia é que a substituição dos tempos da era industrial não deve se repetir de forma tão dramática.

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O estudo vem para indicar caminhos que garantam que essa transformação beneficie a humanidade, gerando maior produtividade e livrando os seres humanos de tarefas repetitivas, para que haja mais potencial de criação. E nesse sentido, a ideia geral é de que a IA servirá mais como um acessório a trabalhos já desempenhados, em vez de tornar os funcionários dispensáveis.

Quem não quiser ficar de fora dessa tendência geral, porém, vai precisar se adaptar. “Toda vez que um segmento de mercado encara uma novidade tecnológica como um problema, ele sai perdendo”, afirma Plínio Tomaz, consultor de negócios e especialista em empreendedorismo e inovação, em entrevista ao Canaltech. “As pessoas precisam entender como podem se beneficiar da inteligência artificial e a encarar como um instrumento de trabalho, não um substituto.”

Trabalhos intelectuais e criativos podem estar na mira

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Ao contrário do que aconteceu no passado, os trabalhos que exigem presença humana, atividades braçais e realizações físicas estão menos no radar da inteligência artificial do que os setores intelectuais. Tomaz cita profissões como advogado, arquiteto, nutricionista e personal trainer como alguns exemplos de setores mais impactados pela IA.

Como aponta a pesquisa do FMI, entretanto, há sempre dois ângulos para a mesma questão. Na visão do especialista, enquanto uma inteligência artificial pode ser capaz de indicar leis, realizar contratos, preparar projetos, dietas ou treinos de academia, o elemento humano ainda é fundamental para a confiança dos clientes.

“Atividades que requerem precisão, análise ou algum tipo de controle manual, por incrível que pareça, estão mais seguras”, explica Tomaz. Enquanto pondera que um neurologista, por exemplo, poderia ser substituído pela IA em um diagnóstico ou cirurgia, ele aponta que a confiança humana faz a diferença, com o que chama de “realização física” mantendo sua alta importância.

O levantamento do FMI concorda com essa visão. Enquanto evita citar profissões ou setores específicos, a pesquisa aponta que o segredo que diferencia complementação e substituição está no tamanho da influência exercida pela inteligência artificial nos postos de trabalho. Com isso, velhas desigualdades também retornam à mesa.

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Os pesquisadores apontam que funcionários mais velhos podem ter maior dificuldade para se adaptarem do que os mais jovens. Enquanto isso, profissionais em início de carreira podem utilizar o auxílio da inteligência artificial para acelerar o entendimento das próprias profissões e a trajetória das próprias carreiras; a desigualdade, também, deve ser maior nos países emergentes, onde os salários já são baixos.

Há outro teor negativo aqui, com os mesmos trabalhadores que usarem a IA para acelerar os próprios trabalhos também possuindo uma tendência a assumirem demandas adicionais. Novamente, postos de liderança e com maiores salários têm menor tendência a cair nesse ciclo.

“Com o uso da IA, vamos ter mais desigualdade. Principalmente em países emergentes, há menos gente prestando atenção e sendo capacitada para utilizar [a tecnologia] em atividades empresariais e comerciais”, aponta Tomaz. “Com a atividade intelectual sendo substituída, milhares de pessoas passam a ter seus postos questionados.”

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Nesse sentido, o FMI aponta a importância governamental na criação de “redes de segurança” para os trabalhadores atingidos pela IA. A sugestão é o investimento em programas de capacitação para os trabalhadores mais vulneráveis aos avanços da tecnologia e programas sociais que protejam salários, garantam moradia e redução da desigualdade social.

Regulamentação e capacitação

De olho em todos esses pontos dissonantes, o FMI disse estar trabalhando no chamado “Índice de preparação para IA”, que dará pontuações a 125 países de acordo com o impacto da tecnologia em cada economia. Os números específicos não foram divulgados, mas o estudo coloca o Brasil com um dos índices de preparo mais altos da América Latina, enquanto Singapura, Estados Unidos e Dinamarca lideram a lista global.

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O levantamento do FMI também vai servir para que os governos trabalhem, ao mesmo tempo, na inovação e integração da inteligência artificial, mas sem perder o foco na regulação. “O marco zero para isso precisa ser um padrão internacional”, complementa o especialista, indicando a necessidade de união entre o mundo corporativo e os setores públicos.

“A gente tem pessoas extremamente envolvidas com essa tecnologia, mas elas estão trabalhando ‘na raça’. Precisamos ter um plano e uma política governamental, com incentivo e capacitação de profissionais”, complementa Tomaz. “No formato atual, o Brasil está ficando de fora bem rapidamente.”

O especialista completa afirmando que a tecnologia, em si, não deve ser controlada, mas sim o seu uso. Enquanto isso, aumentam as discussões sobre quem precisa ser chamado à mesa para discutir essas normas, entre governos e a iniciativa privada. “O dilema é bem complexo, mas precisa ser pensado e definido de forma urgente”, finaliza.

Fonte: FMI