IA na saúde pode criar "jogo de culpa" juridicamente complexo em falhas médicas
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

A inteligência artificial (IA) está transformando o setor de saúde. Ferramentas baseadas em algoritmos já auxiliam médicos na interpretação de exames, diagnósticos e até na gestão hospitalar, otimizando leitos e cadeias de suprimentos. No entanto, à medida que essas tecnologias ganham espaço, cresce também a preocupação com suas implicações legais e éticas.
Um relatório elaborado por especialistas de instituições renomadas, como a Universidade de Pittsburgh, Harvard Law School e Stanford Law School, destaca que a expansão do uso da IA na medicina pode gerar desafios significativos quando ocorre uma falha médica.
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Um dos maiores problemas apontados é a dificuldade de identificar o responsável em casos de erro. Quando uma decisão médica é influenciada por um sistema de IA, a culpa pode recair sobre o médico, o hospital, a empresa desenvolvedora do software ou até sobre os reguladores.
Como esses atores costumam ter contratos que redistribuem responsabilidades, o processo jurídico pode se tornar um verdadeiro “jogo de culpa” nos tribunais.
Além disso, provar falha no design ou funcionamento do sistema é complexo. Muitos algoritmos operam como “caixas-pretas”, dificultando o acesso às informações necessárias para comprovar a origem do erro. Essa falta de transparência cria barreiras para que pacientes consigam responsabilizar empresas ou instituições de saúde que sejam clientes dessas plataformas.
Falhas na avaliação e regulamentação dos sistemas de IA
Outro ponto preocupante é a ausência de supervisão rigorosa sobre a eficácia dessas ferramentas. Diversas tecnologias médicas baseadas em IA não passam pela aprovação de órgãos reguladores, como a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos. Isso significa que nem sempre há garantias de que um sistema realmente melhora os resultados clínicos.
Especialistas alertam que os testes prévios nem sempre refletem o desempenho do software em ambientes clínicos reais, que variam em pacientes, contextos e níveis de habilidade dos profissionais. Assim, um modelo de IA considerado eficiente em laboratório pode apresentar resultados imprevisíveis na prática médica cotidiana e submedito a situações de estresse.
O desafio de equilibrar inovação e segurança
Apesar dos riscos, a IA na saúde oferece benefícios indiscutíveis, como diagnósticos mais rápidos e suporte à tomada de decisão. No entanto, especialistas defendem que o avanço tecnológico precisa ser acompanhado por investimentos em infraestrutura digital, transparência nos algoritmos e mecanismos claros de responsabilidade.
Sem uma base legal e regulatória sólida, o uso da IA em hospitais pode gerar mais incertezas do que soluções. O futuro da medicina inteligente dependerá da capacidade de equilibrar inovação com segurança jurídica e ética, garantindo que o progresso tecnológico venha acompanhado de confiança e responsabilidade.
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Fonte: The Guardian