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Carnaval e IA | Samba-enredo de escola do Rio recria voz de intérprete histórico

Por  • Editado por Melissa Cruz Cossetti | 

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Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil

A inteligência artificial (IA) chegou a uma das maiores celebrações populares do mundo: o Carnaval brasileiro. Pela primeira vez, os compositores do samba-enredo escolhido para embalar a Unidos do Viradouro na Marquês de Sapucaí (RJ) em 2026 utilizaram a tecnologia emergente para recriar a voz de Dominguinhos do Estácio, histórico intérprete da escola de samba.

Dominguinhos — que morreu em 2021, aos 79 anos, em decorrência de uma hemorragia cerebral — foi a voz da escola de samba de Niterói em 11 carnavais. E a decisão de usar a IA para reviver sua interpretação teve inspiração no mundo da música.

“A ideia da IA surgiu quando saiu o comercial da Elis Regina cantando com a Maria Rita, lá em 2023. Ainda não tínhamos uma ideia de como fazer e onde aplicar. Quando saiu o enredo da Viradouro de 2026, na mesma hora pensamos: é agora, o Dominguinhos”, afirmou Marcelo Bertolo, um dos compositores do samba.
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O enredo citado por Bertolo é “Pra Cima, Ciça”, uma homenagem à trajetória do mestre de bateria Moacyr da Silva Pinto, conhecido como Mestre Ciça.

Composição e integração da voz de Dominguinhos

A composição do samba foi feita no método tradicional, com todos os compositores compartilhando ideias e escrevendo a música. Mas, com a escolha de usar a IA, Bertolo explica que o trabalho foi diferente para estar à altura de Ciça, Dominguinhos e Wander Pires — que é quem vai interpretar a versão oficial na avenida.

“Sabíamos que, para recriar a voz do Dominguinhos, o samba teria que estar à altura da ideia. Um samba avassalador e emotivo”, ressaltou o compositor.

Com a letra finalizada, Marcelo começou a testar diferentes ferramentas de IA até encontrar a que reproduziu melhor os detalhes do timbre de Dominguinhos.

Segundo ele, foram cerca de duas semanas entre a escolha da tecnologia, o ajuste do timbre e a adaptação da forma de cantar para que soasse próxima à do intérprete histórico. Foram utilizadas diversas gravações de áudio de Dominguinhos, com autorização de sua família.

Com o timbre definido, o intérprete Pitty de Menezes gravou a música que seria reproduzida na voz recriada de Dominguinhos.

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“Quando colocaram a voz dele pronta na base do samba, o estúdio inteiro chorou. A filha dele, o Pitty, os compositores, familiares dos compositores... Eu esperava que fosse emocionante, mas não tanto”, disse Bertolo.

Da produção à escolha do samba-enredo de 2026

Apesar da emoção gerada pela reprodução da voz do intérprete, a disputa interna da Unidos do Viradouro seguiu as regras tradicionais. A recriação da voz não teve influência direta no julgamento, visto que os avaliadores consideram principalmente a conexão da música com o enredo e a apresentação ao vivo na quadra da escola.

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Ainda assim, Bertolo destacou que, quando o samba foi lançado, o mundo do samba abraçou a ideia de recriar a voz de Dominguinhos, além de valorizar a qualidade da composição. Isso, somado a uma apresentação sem erros na disputa da quadra, fortaleceu as expectativas de vitória.

“A final foi a confirmação da aclamação do samba. O Ciça subiu no palco durante a nossa apresentação, o que nos deu certeza de que havíamos vencido. Foi uma emoção absurda. Muita gente chorando”, enfatizou o compositor.

Além de Bertolo, o samba-enredo que vai representar a Viradouro em 2026 foi composto por Claudio Mattos, Renan Gêmeo, Rodrigo Gêmeo, Lucas Neves, Rodrigo Rolla, Ronaldo Maiatto, Silvio Mesquita, Marcelo Adnet e Thiago Meiners.

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