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Suíça produz primeiro chocolate artificial cultivado em laboratório do mundo

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 19 de Julho de 2021 às 18h07

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Reprodução/Research Gate
Reprodução/Research Gate

Pesquisadores da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW), na Suíça, desenvolveram uma técnica capaz de produzir chocolate em laboratório. Essa é a primeira vez que os cientistas conseguem recriar o desejado doce de forma correta dessa maneira.

A equipe é liderada pela professora Regine Eibl, que chefia a divisão de cultura de células no ZHAW. Eibl trabalha com Tilo Hühn, um conhecido cientista alimentar no mundo do chocolate e do vinho, que teve a ideia de tentar extrair culturas de células de grãos de cacau para produzir polifenóis, um composto saudável para o coração abundante em chocolate amargo.

É claro que uma invenção como essa só poderia vir da terra do chocolate, afinal os suíços são famosos por seus incomparáveis produtos. O país é pequeno, possui território montanhoso e clima frio durante parte do ano, condições estas que inviabilizam o cultivo de cacau na região.

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Como é produzido o chocolate artificial 

O chocolate de laboratório é feito a partir do fruto do cacau. É realizada a extração da semente da plantada, a qual é repartida em quadro pedaços. Cada segmento desse é incubado em um ambiente completamente escuro, em temperatura de 29 °C, desenvolvido pelos cientistas para essa finalidade.

Embora pareça improvável algo nascer neste local, o ambiente faz surgir uma espécie de crosta na parte cortada da semente, fruto da proliferação celular. Cerca de três semanas depois, o material é raspado e colocado em um biorreator para ocorrer a multiplicação.

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Concluído esse processo, o produto é drenado e o material dentro dele é seco e torrado, transformando-o em pó. Essa é uma etapa usada para produção do chocolate regular, mas a diferença aqui é que ele foi gerado a partir de ¼ da fruta. Nesse ponto, você tem um pó que pode ser misturado a outros ingredientes para produzir barras de chocolate.

O processo de multiplicação no biorreator pode ser repetido indefinidamente a partir desse primeiro pedaço de material. Assim, é possível ter matéria infinita para a produção de chocolate sem precisar de novas extrações ou de cultivos imensos.

Ainda faltam ajustes

Para quem já estava se deliciando com a novidade, saiba que o chocolate cultivado em laboratório ainda não está pronto para as prateleiras das lojas. Ele ainda precisa de melhorias para deixá-lo exatamente como o produto consumido aos montes em praticamente todo o planeta.

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Quem experimentou o chocolate artificial disse que o sabor ainda não está igual ao chocolate tradicional, pois ele é doce e frutado demais, enquanto o produto natural é amargo e mais intenso. Segundo os pesquisadores, o aroma também não está idêntico ao do chocolate comum, por isso serão necessários mais estudos para aprimorar o processo.

O valor, por enquanto, ainda é muito elevado, tendo em vista o complexo processo de criação. Cada 100 gramas do “chocolab” custa cerca de US$ 20 (cerca de R$ 100), muito mais do que o produto original, orçado em US$ 3 (R$ 15).

Problemas da indústria do cacau

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A produção em laboratório pode ser uma solução viável também para quem é contra o desmatamento e os demais impactos ambientais causados pelas indústrias. Se tudo avançar como o esperado, não seria mais necessário destinar milhares de hectares de terras para a atividade cacaueira. Cerca de 70% do cacau mundial é cultivado na África Ocidental, mas a crescente demanda por chocolate faz com que os agricultores desmatem cada vez mais terras para plantar novas árvores de cacau.

Além disso, existe o problema de uso de mão de obra infantil na indústria de extração do fruto. Estima-se que hajam até 2 milhões de crianças envolvidas em condições de trabalho perigosas ou análogas à escravidão em Gana e na Costa do Marfim.

O chocolate é uma indústria em constante expansão, com uma movimentação anual estimada em US$ 138 bilhões no mundo. Para se ter uma ideia, especialistas acreditam que o mercado poderá ultrapassar a barreira dos US$ 200 bilhões em 2028.

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Futuramente, ao que tudo indica, a indústria chocolateira deve se dividir entre produção artesanal, como é feita hoje, e produção laboratorial. Se o gosto for o mesmo, dificilmente alguém vai deixar de comê-lo apenas por sua origem ter a ver com jalecos e tubos de ensaio, ainda mais se souberem dos benefícios que essa nova cultura trará para a sociedade mundial.

Fonte: Research Gate, Swiss Info