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Oito perguntas sobre: como uma startup driblou a pandemia com o "YouTube médico"

Por| 06 de Setembro de 2020 às 14h00

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Uma pesquisa realizada pelo Sebrae, em parceria com a Finep, entre 28 de maio e 03 de junho deste ano, mostrou que a crise do coroavírus atingiu em cheio empresas de todos os portes, especialmente as menores. Enquanto 87% dos pequenos negócios registraram queda em suas receitas na pandemia, esse número foi um pouco menor entre as startups, mas igualmente pesado: 68% delas tiveram diminuição em seu faturamento. E, em alguns casos, o golpe foi ainda mais duro.

Que o diga a Makadu. Há cinco anos, a startup desenvolve aplicativos para eventos científicos que, com a pandemia, foram cancelados ou adiados em massa. Com isso a empresa viu seu faturamento quase zerar, com uma queda de 90% em suas receitas. Ou seja, a falência estava batendo na porta.

No entanto, nesse cenário, surgiu entre as sociedades médicas uma demanda muito grande por conteúdo online de qualidade, que pudesse suprir o vácuo deixado pelo cancelamento dos eventos presenciais. E foi aí que a Makadu viu a oportunidade de "pivotar" - ou seja, mudar o rumo de um negócio que não está dando certo e criar um novo modelo.

Com essa demanda em mente, a companhia criou o makadu.live, uma espécie de "YouTube médico", com controle de acesso restrito somente a profissionais da saúde e conteúdo 100% produzido e supervisionado por instituições de saúde, como sociedades médicas ou hospitais, como CFM e ANVISA.

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E, ao que tudo indica, a guinada parece estar dando certo. A empresa afirma que desenvolveu a primeira versão da makadu.live e fez a primeira transmissão uma semana depois do lançamento. Desde essa primeira aula, em abril deste ano, a plataforma já conta com 17 mil usuários, 55 instituições parcerias em todo o Brasil, 36 mil visualizações de lives e 32 mil visualizações de vídeos.

E para explicar os bastidores dessa virada de jogo o "Oito perguntas sobre" conversou com Eros Carrasco, cofundador e CEO da Makadu. Ele vai falar como foi o desenvolvimento do "YouTube médico", como é a interação dos profissionais de saúde com a plataforma e o que a empresa vê pela frente.


Confira como foi o papo:

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CT - Qual era o core business da Makadu antes da pandemia e, na sua análise, por que houve essa queda de faturamento, considerando que os apps para eventos científicos são produtos digitais?

O principal produto da Makadu sempre foi um aplicativo para interação entre palestrantes e o público de eventos de médio e grande porte. Através do nosso app, os participantes conseguiam acompanhar a programação atualizada, fazer perguntas, avaliar as atividades ou visualizar os slides, por exemplo.

A área de eventos científicos é conhecida por passar por um período de baixa de dezembro à março, quando retoma fortemente suas atividades. A pandemia chegou no Brasil exatamente no início dessa retomada. Como ninguém sabia quanto tempo iria durar, o mercado entrou em um movimento de adiar todos os eventos e pausar qualquer negociação que não fosse a locação de centros de eventos, ou seja, nossos contratos existentes entraram em renegociação e os novos foram cancelados, praticamente zerando qualquer receita ou projeção de receita para 2020.


CT - Como surgiu a ideia de criar o "makadu.live"? O que diferencia a plataforma dos concorrentes, como, por exemplo, o Zoom?

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Quando nossos clientes começaram a cancelar seus contratos, também começaram a nos perguntar se tínhamos alguma solução para eventos online. Como isso nunca esteve no nosso radar (ou mesmo do mercado de eventos científicos), passamos uma semana pesquisando ferramentas de live, já que nossa primeira ideia era construir uma.

Ao descobrirmos que existe todo um mercado extremamente bem estruturado de eventos online, desistimos de concorrer com o Zoom, GotoMeeting, entre outras. Passamos então a analisar a forma como instituições médicas tratam conteúdo, e geralmente é como benefício interno para associados ou funcionários. Também vimos que o Conselho Federal de Medicina diz em seu código de ética, que médicos não podem transmitir conhecimento médico para não-médicos e que a comunidade médica estava acostumada a aprender com conteúdos mais estruturados, como cursos e congressos.

Surgiu então a ideia de criar um "YouTube" fechado para a comunidade médica. Um local com conteúdos em vídeos de altíssima qualidade, menor estrutura de produção e controle rigoroso de acesso. Ou seja, nós não somos uma ferramenta de lives e sim a plataforma de conteúdo como um todo. Inclusive permitimos que a sociedade utilize uma ferramenta de sua escolha para fazer as lives, mas se ela não tiver, poderá utilizar uma que oferecemos gratuitamente.

A grande diferença entre a Makadu e nossos concorrentes é no modelo de negócios. Somos os únicos e, até onde sabemos, os primeiros, a criar um modelo onde instituições de saúde produzem e disponibilizam seu conteúdo em um único lugar, de forma gratuita tanto para ela, quanto para o profissional.

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CT - Como foi o processo de desenvolvimento da "makadu.live" Quantas pessoas estiveram envolvidas? Vocês tiveram suporte de profissionais da área de saúde para criar o produto?

Somos em nove na Makadu. Eu lembro claramente que em uma sexta-feira todo mundo começou a nos ligar adiando ou cancelando seus eventos. Naquele mesmo dia, bem ao nosso estilo, botamos a cabeça pra funcionar e dividimos o time em focos de pesquisa: ferramentas de live, educação médica continuada, legislação e tecnologias para desenvolver algo próprio. Alguma solução teria que sair para a empresa não “quebrar”.

Como trabalhamos há anos na área de eventos científicos, depois que definimos que não faríamos uma ferramenta de lives e sim uma plataforma de conteúdo, começamos a conversar os nossos clientes para entender se estávamos no caminho certo.

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Nessa etapa percebemos que apenas indicar o que pretendíamos fazer tornava o projeto muito abstrato. Então, buscamos desenvolver a plataforma de forma simultânea com as pesquisas e processo de venda. Nesse processo caótico, de terminar a construção do avião com ele já decolando, eu entrava e saía de reuniões com clientes, intercalando-as com conversas com o time para discutirmos e aprimorarmos as ideias conforme os feedbacks que recebíamos.

A partir disso, todos saíam com novas tarefas para o desenvolvimento, design e processos de atendimento. No outro dia, quando reiniciavam as reuniões, já tínhamos outro produto ou modelo de negócio para oferecer, o que se seguiu até a primeira sociedade embarcar no nosso avião, dando o pontapé oficial no projeto.

CT - O "YouTube médico" da Makadu afirma que restringe o acesso ao seu conteúdo apenas a profissionais de saúde. Como a plataforma realiza esse controle? E como é feito o controle de qualidade do conteúdo apresentado?

Esse controle de acesso é um dos principais pilares do modelo. Desde o primeiro dia, nós definimos que não teríamos público leigo na plataforma, inclusive, inicialmente ela era exclusiva para médicos. Com o passar do tempo, vimos que fazia muito sentido trazer o restante da comunidade da saúde e acadêmicos.

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Por motivos operacionais, o tipo de controle de acesso depende da categoria. Para criar uma conta, médicos são verificados individualmente junto ao site do Conselho Federal de Medicina, sendo que estamos finalizando uma integração com o sistema deles para automatizar esse processo, enquanto outros profissionais e acadêmicos passam por um processo de envio de documentos adicionais.

E o controle de qualidade é outro grande pilar da makadu.live. Nós somente criamos canais de instituições da saúde que tenham notoriedade dentro da comunidade, como sociedades médicas, hospitais ou grupos de profissionais que tenham sido "validados" por sociedades parcerias.

Uma vez fechadas essas parcerias, 100% da produção e controle sobre o conteúdo é feita por essas instituições, sem necessidade de aprovação da Makadu. Assim, podemos garantir para os usuários que todo conteúdo disponível na plataforma é de qualidade, da mesma forma que ele teria em um evento presencial daquela instituição.

Além disso, o que estamos começando a fazer agora é sugerir conteúdos com base nas métricas de acesso e interesses reais dos usuários.


CT - Que tipo de ferramenta o profissional da saúde busca para se atualizar em tempos de pandemia? A procura por plataformas de vídeo para fins de aprendizado aumentou nesse período?

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Educação continuada é levada muito a sério dentro da saúde. Como esses profissionais lidam com vidas, eles se preocupam muito com a qualidade e a procedência do conteúdo, então a comunidade da saúde sempre focou muito em cursos e eventos presenciais. Existia até mesmo uma certa resistência aos conteúdos digitais.

Com a pandemia tudo mudou e eles passaram a perceber que o mesmo conteúdo de alto nível dos eventos presenciais poderia ser reproduzido também no digital, tanto que tivemos um pico de produção de lives nos primeiros meses. Essa produção vem estabilizando à medida que as instituições estão começando a entender quais os formatos e assuntos que mais interessam aos profissionais.

CT - Como funciona o processo de produção dos vídeos das instituições e profissionais de saúde no "makadu.live"? Como é o modelo de monetização da plataforma?

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Nós temos dois tipos de conteúdo: lives e gravações. As instituições fazem suas lives conosco e quando terminam, em até 24 horas, fazemos o upload dessas aulas em seus canais na plataforma. Esse conteúdo fica disponível para todos usuários assistirem onde e quando quiserem, gerando assim uma biblioteca digital riquíssima para estudos.

A sociedade não possui custo algum para produzir seu conteúdo e os profissionais também não possuem custo para assistir. Nosso modelo de receita se baseia em venda de patrocínios e comissão de eventos pagos divulgados no site.

Recentemente iniciamos testes de cobrança para emissão de certificados e, eventualmente, teremos uma mensalidade para acesso de parte do conteúdo da plataforma.


CT - A produção de conteúdos e a realização de cursos online na área saúde, ministrados via plataformas como a "makadu.live", serão mais utilizados mesmo com o fim da pandemia, diminuindo o número de eventos presenciais? E a "pivotada" da Makadu foi algo permanente?

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O mercado não acredita no fim dos eventos físicos ou mesmo que a onda de produção de conteúdo online seja passageira. Todos enxergamos que teremos uma integração desses dois modelos, já que esse novo formato trouxe benefícios claríssimos, como conforto para o participante, menor estrutura de produção e principalmente uma redução drástica de custos.

Neste momento estamos todos nos adaptando, mas a visão da Makadu é que teremos um processo de profissionalização do formato de lives, o que vai reforçar sua percepção como um formato "sério", a ponto de passarem a ser cada vez mais aceitas como parte importante da educação médica continuada.

Na questão da "pivotada", hoje temos duas empresas com modelos de negócio e produtos distintos. A Makadu aplicativos está "suspensa" até voltarmos ao ambiente normal, com eventos presenciais. Quando isso acontecer, analisaremos o novo cenário do mercado, para dar nossos próximos passos em relação a esse produto.

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Enquanto isso, a makadu.live está crescendo e se consolidando.Com 55 instituições e mais de 16 mil usuários em 4 meses de operação, a plataforma virou nosso grande foco de atenção por enquanto.


CT - E quais os planos de atualização do "makadu.live"? A empresa vai se manter apenas na área de saúde ou tem planos para expandir? E a plataforma pode agregar novos recursos no futuro?

Apesar do pouco tempo de existência, nos perguntam o tempo todo quando faremos um makadu.live do Direito, do Esporte e assim por diante, ou seja, plataformas de aprendizado focadas em uma área. Neste momento estamos focados na Saúde, queremos entender cada vez mais o que o profissional da Saúde quer e precisa aprender, e ajudar instituições a produzirem exatamente esse conteúdo. Mas assim como tivemos essa mudança radical em duas semanas, adaptação é algo muito natural pra gente.

Teremos novidades nas próximas semanas, como o lançamento de um fórum de discussão, onde os profissionais poderão compartilhar dúvidas de seu dia-a-dia e discutir com colegas da área, além de aprimorar a indicação de conteúdos com base no perfil do profissional. Começaremos assim a criar uma comunidade de aprendizado no site.

Com o tempo, nos tornaremos a principal comunidade de educação continuada da área da Saúde.