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OPINIÃO | Caos em Iowa mostra por que devemos sentir orgulho do Brasil

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Agência Brasil / José Cruz
Agência Brasil / José Cruz

Definitivamente, 2020 é um ano importante para o Brasil. E novamente entramos em um ano eleitoral. Enquanto ainda vemos a todo momento discussões e brigas por causa da última eleição presidencial, o país já vai se preparando para escolher os prefeitos e vereadores que irão representar a população em nível municipal. E, assim como já ocorreu nas últimas eleições, certamente teremos nos próximos meses um movimento contestando o uso das urnas eletrônicas e pedindo um retorno ao voto por papel.

Essa aposta é praticamente certeira porque, nas últimas eleições, um dos grandes críticos da forma como ocorre o voto no Brasil foi o próprio presidente Jair Bolsonaro, e um dos motivos citados para retornarmos ao voto em papel seria o fato de que, nos Estados Unidos, eles ainda utilizam cédulas. Mas as prévias de Iowa que ocorreram esta semana mostram por que acreditar nesse tipo de argumento pode ser problemático.

Primeiro porque ele não é exatamente um argumento, mas apenas a constatação de um fato, e todo o esforço argumentativo dessa ideia está em a pessoa que está ouvindo já possuir uma pré-concepção de que os Estados Unidos são um país superior ao Brasil em literalmente todos os aspectos — e, por isso, ao afirmar que “nos EUA é assim e no Brasil é assado”, a pessoa automaticamente já compra a ideia de que o modo norte-americano é melhor, mesmo que em nenhum momento tenha se efetuado qualquer esforço para se explicar o porquê.

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E, apesar de em diversos pontos os Estados Unidos serem realmente melhores do que o Brasil, existem dois específicos sobre os quais não há qualquer dúvida de que nosso país está anos à frente da República de Trump: nosso sistema de saúde pública e nosso sistema eleitoral. Apesar de todos os problemas que vivemos diariamente em nossa realidade nacional, apenas o fato de o SUS fornecer tratamento completo de qualquer doença a pessoas falidas, ao invés de levar à falência pessoas que foram ao hospital para curar uma virose, já é um baita diferencial. Mas esse não é o assunto deste texto. Aqui, vamos nos concentrar na diferença entre os processos de votação dos dois países, cuja superioridade brasileira ficou exposta esta semana com o caucus de Iowa.

Urna eletrônica: um avanço brasileiro

E esse problema entre usar a tecnologia para facilitar uma eleição sem permitir que possíveis dificuldades com ela acabem atrapalhando ainda mais um processo já naturalmente complicado foi solucionado pelo Brasil ainda na década de 1990, com o desenvolvimento da urna eletrônica, uma caixa de votação que capta os votos de maneira simples e permite uma apuração muito rápida dos resultados após o fim do período de votação, e tudo isso de maneira offline. A solução para apuração é bem básica: a urna basicamente imprime um relatório geral de todos candidatos na disputa e quantos votos cada um deles recebeu naquela máquina em específico, que então são somados pelos funcionários responsáveis pela apuração. Mas todo o processo garante que, em questão de horas, saibamos já quem foi ou não foi eleito, sem qualquer tipo de contratempo.

Claro, isso não quer dizer que o nosso sistema é perfeito — nada é, tudo pode ser melhorado de uma forma ou de outra —, mas ele possui três características que o tornam um dos melhores sistemas de votação do mundo: é simples de ser utilizado, é relativamente seguro (já que, por serem totalmente offline, para serem hackeadas as urnas devem ser acessadas fisicamente e uma de cada vez, o que torna muito improvável a chance de uma grande manipulação de resultados) e é de rápida apuração, fornecendo resultados momentos depois do fim das eleições. E a maior comprovação disso está nos próprios críticos da tecnologia: mesmo os candidatos que abertamente são contra essas máquinas e reclamam do uso delas ficam em silêncio e aceitam prontamente o resultado quando lhes é favorável. Isso acontece porque eles não são burros: todos esses críticos sabem que o resultado das urnas é confiável, mas é preciso criar essa desconfiança na cabeça do eleitorado para, caso percam, terem motivo de continuar propagando a narrativa de que foram injustiçados pelos próximos quatro anos.

Assim, em épocas de dólar nas alturas, todo o caos gerado pelo caucus do estado de Iowa deve nos lembrar que, pelo menos desse problema, nosso país não sofre: ao invés de comprarmos o discurso de empresas que pouco se importam com o funcionamento de uma democracia e querem apenas levar para casa algum lucro nesse processo, nós desenvolvemos nossa própria tecnologia que, ainda que não seja das mais avançadas, resolve um problema que até hoje o todo-poderoso país do Tio Sam continua quebrando a cabeça para solucionar. E, numa época em que o patriotismo se torna uma palavra cada vez mais em voga, o funcionamento de nosso processo eleitoral é um dos motivos para que sintamos um orgulho real do Brasil.