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Campanha eleitoral no Twitter conta com bots para disseminar desinformação

Por| 24 de Setembro de 2018 às 19h00

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Campanha eleitoral no Twitter conta com bots para disseminar desinformação
Campanha eleitoral no Twitter conta com bots para disseminar desinformação

Na reta final para as eleições 2018, o Brasil vive um cenário político polarizado, onde os candidatos à presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), respectivamente primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de voto, antropomorfizam vertentes ideológicas opostas, mobilizando seus eleitores nas redes sociais. No Twitter, ambos os candidatos se relacionam com eleitores e postam sobre suas propostas governamentais, sendo bastante presentes.

Entretanto, eles também são os candidatos com maior porcentagem de perfis automatizados trabalhando em prol das respectivas campanhas: 43% para Bolsonaro e 28,4% para Haddad, de 3.198 contas suspeitas monitoradas em estudo realizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Dapp).

A presença de robôs em campanhas eleitorais nas redes sociais são um problema antigo, tendo influenciado até mesmo na eleição estadunidense de Donald Trump, em 2016. Após polêmicas envolverem diversas empresas de tecnologia, o Twitter chegou a divulgar que estava desativando cerca de um milhão de contas falsas por dia, no esforço de diminuir as fake news e espalhamento de desinformação como estratégia de marketing político.

Ainda assim, os cabos eleitorais robóticos vêm aumentando suas ações desde 15 de agosto, quando foi permitido pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) que os candidatos veiculassem suas publicidades nos espaços de convivência digitais. Segundo a pesquisa da FGV-Dapp, o ápice das atividades automatizadas em prol dos candidatos à presidência foi registrado entre 12 e 18 de setembro, quando 5,3 milhões de interações no Twitter foram analisadas, envolvendo mais de 712 mil perfis, e 12,9% desses retuítes foram apontados como oriundos de contas controladas por máquinas. No início das campanhas, as atividades de robôs não passava de 4,2%.

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As campanhas de ambos os candidatos negaram a utilização da técnica para angariar votos. "A gente não contrata nenhum robô. Se está tendo, as pessoas que estão fazendo aí", declarou o filho de Jair Bolsonaro, o também político Flávio Bolsonaro, na última quinta-feira (20).

Um dos autores responsáveis pela pesquisa da FGV-Dapp, o professor Marco Aurélio Ruediger, afirma que o contexto político é responsável pelo aumento da atividade de robôs no Twitter: "Você tem um crescimento repentino do candidato do PT, uma contraofensiva do campo à direita, e um terceiro campo buscando a terceira via, e aumenta a tentativa de influenciar as redes. A tendência dessa curva de acirramento é continuar crescendo", informou.

Robôs de quem?

A metodologia do estudo não permite a identificação de quem seriam os responsáveis pelo desenvolvimento ou atividade dos robôs. Apenas as interações são levadas em consideração, não sendo possível nem mesmo afirmar se as contas automatizadas fariam discursos contra ou a favor do voto em qualquer um dos candidatos. "Há vários parâmetros para determinar um robô, um deles é quando ele realiza disparos, um tuíte ou retuíte, em um curto período de tempo", disse Ruediger.

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Embora as campanhas dos candidatos neguem ter quaisquer responsabilidades sobre as contas automatizadas, a maior parte dos presidenciáveis se queixa de ataques nas redes sociais. A equipe de Marina Silva, por exemplo, informou que os perfis da candidata pelo REDE têm recebido comentários que associam seu nome ao número 17, visando confundir seus eleitores na hora da votação e com isso angariar mais votos para o candidato Bolsonaro. Segundo Lucas Brandão, coordenador de mobilização de Marina, "a gente conseguiu montar uma militância digital para combater isso. A orientação é tentar dar visibilidade positiva à candidata".

Já a assessoria de Álvaro Dias, candidato à presidência pelo Podemos, identificou na última quinta-feira (20) o que chamaram de "ataque violento", após Dias veicular um vídeo criticando propostas de Jair Bolsonaro. O coordenador de mídias sociais de Henrique Meirelles, do MDB, Daniel Braga, disse acreditar que as contas por trás dos ataques cibernéticos sejam de fato robôs, uma vez que seus registros são de fora do Brasil. O candidato à presidência do Partido Novo João Amoêdo também sofreu ataques virtuais, mas sua assessoria de campanha não soube afirmar se a ação teria origem automatizada.

Regras de Campanha

Segundo a Justiça Eleitoral, não é permitida "a veiculação de conteúdos de cunho eleitoral mediante cadastro de usuário de aplicação de internet com a intenção de falsear identidade". Se os robôs forem contratados diretamente pela assessoria de campanha, o ato passa a ser enquadrado como impulsionamento e rende multas de R$ 5 mil a R$ 30 mil ao candidato. Porém, o TSE informa que não fiscaliza ativamente o uso de automatização nas campanhas, atuando apenas em casos de denúncias do Ministério Público Eleitoral ou de algum partido que tenha se sentido lesado. É importante ressaltar que qualquer cidadão brasileiro pode se dirigir ao Ministério Público Eleitoral de sua cidade para dar entrada à denúncia.

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Segundo o ex-Ministro do TSE Henrique Neves: "A fiscalização não cabe, de fato, ao TSE. Se uma pessoa achar alguma publicação estranha, pode pedir para o MP investigar", disse Neves ao chamar a atenção para os conteúdos de desinformação publicados por esses perfis. "O que é importante pontuar é que todos nós temos de tomar muito cuidado com o que a gente compartilha ou interage. Nas eleições, as desinformações tendem a aumentar", concluiu o ex-Ministro.

A técnica de impulsionamento com o uso de robôs em redes sociais é relativamente recente e não há punições prévias estabelecidas para a prática, que é ilegal.

Fonte: Estadão