Análise | Saints Row IV chega ao Switch com desempenho ruim e controle bagunçado
Por Wagner Wakka |
Quando Saints Row IV foi lançado lá em 2013, a Volition (então empresa comprada pela THQ) tentava tirar um último suspiro da fórmula em mundo aberto da franquia. A proposta era ser um GTA com cheats ativados. Ou seja, uma extrapolação das leis físicas do mundo real.
Ele foi lançado no início da atual geração de consoles, saindo para Xbox 360 e PlayStation 3; e dois anos depois ao Xbox One e PlayStation 4. Isso faz dele um título já antiquado.
Bem, se Saints Row IV não era bem o game mais bonito de seu tempo, a idade lhe tornou ainda pior.
O jogo foi lançado na sua versão Re-Elected, com todas DLCs e conteúdos extras para Switch em 27 de março, com pouquíssimas melhorias ao game original.
Que raios é isso?
Saints Row IV: Re-elected começa com a transformação de um dos agentes superpoderosos do grupo Saints em presidente dos Estados Unidos. Uma adição deste título da série é que, agora, você pode fazer seu próprio personagem, com cor de pele, fisionomia e trejeitos que prefere.
No caso, para esta review, foi recriado o Hulk com a mecânica do jogo. Para um game completamente escrachado, por que não?
A trama carrega toda piada dos outros títulos, tirando sarro com praticamente tudo, inclusive o jogador. Em uma das primeiras cenas, quando se está prestes a morrer em um míssil nuclear indo ao espaço, o jogo inicia a trilha I Don't Wanna Miss a Thing do Aerosmith em uma clara alusão (com frases) ao filme Armageddon.
Este exemplo é só para dar o tom da trama, que não se leva nem um pouco a sério. Nisso, o mundo é invadido por alienígenas, que prendem as pessoas mais inteligentes do planeta em uma simulação (agora, a referência passa a ser Matrix).
O jogo se passa basicamente todo dentro deste espaço no qual existem leis físicas como no nosso mundo, mas elas podem ser quebradas se você criar bugs dentro da simulação.
Em resumo, isso coloca o jogador em uma grande cidade, em estilo GTA, com prédios, naves extraterrestres e muita neblina (para ajudar a esconder as falhas de processamento). Um enorme parque de diversões para as peripécias do jovem amante de games.
Desempenho
Saints Row IV: Re Elected brinca com a ideia de extrapolar a física. Embora pareça uma missão fácil, ignorar as leis que regem nosso universo não é assim tão simples. Dentro de um título, as limitações de velocidade, altura de pulos e corridas ajudam os desenvolvedores a colocarem o jogo dentro das amarras que o hardware consegue aguentar.
Um exemplo clássico disso é Mario Kart, game que traz karts no lugar de carros de corrida, pois o Super Nintendo não dava conta de processar algo mais rápido.
A Volition parece ter ignorado este ensinamento em Saints Row IV e colou o personagem principal com velocidades exorbitantes, pulos altos e escaladas velozes que nem o Xbox 360, nem o PlayStation 3 conseguiam processar.
Este ponto é importante, já que estamos falando agora de uma versão para Switch, console que, em tese, é mais potente que seus concorrentes mais antigos. Contudo, os problemas permanecem.
O game chega um pouquinho mais bonito no híbrido da Nintendo, mesmo assim, não cai bem na resolução em 1080p quando está no deck. A recomendação aqui é jogar na mão mesmo, já que os 720p ajudam a esconder as imperfeições gráficas.
Contudo, a “beleza” é um quesito que necessita de contexto aqui. Novamente, estamos falando de um game lançado inicialmente em 2013. Logo, é de se esperar que o visual não seja atualizado.
Dito isso, voltemos o foco para desempenho. O Switch não conta ainda com o famigerado SSD como armazenamento, uma das grandes mudanças para a nova geração de consoles. Com isso, não é capaz de carregar todos os elementos na tela na velocidade que o personagem anda na tela.
Assim, há vários momentos em que o jogador está correndo pelo mapa e os assets (prédios, ruas, carros e etc) ainda não foram carregados. Este fenômeno traz um gosto ruim de game da geração passada para um console tão atual como o Switch.
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Junte isso ao fato de que o jogo realmente tem uma estrutura de movimentação mais veloz, o que, junto à demora de carregamento, causa constantes quedas de taxa de quadros. Essa derrubada nos FPS é algo ainda mais perceptível quando você sai do mundo aberto para uma área fechada e o jogo momentaneamente dá uma elevada na frequência de quadros.
Assim, espere andar pelo mundo de Saints Row IV Re-elected sem muita visão em longa distância e com uma velocidade aparente “mais lerda” que comum por conta da taxa de quadros.
Como um jogo baseado em bagunçar tudo dentro de uma simulação, também não são raros os momentos em que muita coisa acontece ao mesmo tempo na tela. Essa junção de mundo exagerado com vários elementos sendo processados em conjunto também dá certa lerdeada ao título.
Controles
Outro problema sério do game é também a desatualização dos controles, somada aos problemas ergonômicos que os joy-cons têm. Parte da jogabilidade de Saints Row IV é pular por prédios, subir nos lugares mais altos e ir atrás de coletáveis. Contudo, outra fatia está em combate. É aqui que está o pior dele.
Assim como em GTA, no qual é uma delícia andar pelo mapa e péssimo de atirar, Saint Row IV peca e muito em sua mecânica de tiro. O jogo traz uma câmera no ombro em visão de terceira pessoa, com gatilho no ZR e mira no ZL e controle em ambos analógicos. Comandos básicos de um game de tiro.
Contudo, os ajustes não estão nada adaptados para um controle mais sensível, como o do Switch, o que faz com que mirar seja um eterno pesadelo. Os desenvolvedores sabem muito bem disso e colocaram um sistema de mira com sensor de movimento do console da Nintendo. Assim, quando você está com o botão ZL apertado, pode mexer levemente o joy-con para refinar a mira. Essa mistura ajuda bastante, mas causa confusão, principalmente nos momentos mais ágeis de combate.
Outra melhoria de vida que poderia ter sido implementada aqui e não foi é a da trava de mira. Sim, o jogo não tem nenhum sistema do tipo. Assim, quando você está enfrentando inimigos mais ágeis, precisa também brigar com o sistema de câmera que não tem a mesma velocidade. Péssima decisão.
Em resumo?
Saints Row IV: Re-elected é feito para duas coisas: ficar pulando de prédio em prédio no melhor estilo Homem-Aranha e participar das batalhas de tiro em meio às missões. Sinto dizer, mas nenhuma das duas coisas não bem definidas nesta versão de Switch.
É possível entender o motivo que levou a Deep Silver a lançar o título para o console da Nintendo. O modelo híbrido é ideal para games de complecionismo, com missões curtas e que aceitam paradas recorrentes sem que se perca o fio da meada. Ou seja, parece uma boa ideia para o console.
Contudo, nem mesmo a versão original, lá no PlayStation 3 e Xbox 360, era o melhor de seus tempo, chegando ainda mais defasada à atual geração. De quebra, a empresa não teve o trabalho de adicionar mecanismos de melhoria de vida, como a trava de mira ou ajuste de sensibilidade do controle.
A trama engraçada, mas pouco significativa, atrelada ao texto bem-escrito e divertido são o melhor que Saints Row IV: Re-elected pode oferecer.
Entretanto, é preciso deixar o registro de acessibilidade do game. É sempre importante quando uma empresa lança um jogo antigo para uma plataforma atual permitindo que mais gente possa ter acesso a ele. Este é um ponto louvável da Deep Silver.
Saints Row IV: Re-elected foi lançado em 27 de março para Nintendo Switch. No Canaltech, o jogo foi analisado com uma cópia gentilmente cedida pela Deep Silver.