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Review No More Heroes 3 | Um desafio que veio do passado

Por| Editado por Bruna Penilhas | 08 de Setembro de 2021 às 19h04

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Divulgação/Nintendo
Divulgação/Nintendo

No More Heroes III é como uma ponte para o passado e o criador Goichi Suda, conhecido como Suda51, sabe disso mais do que ninguém. Ele é um jogador das antigas, como muitos de nós que já passamos da casa dos 30 anos de idade, e também nome renomado por, entre outras coisas, essa que é uma das séries clássicas do Wii. Suda está voltando com uma sequência propriamente dita depois de mais de 10 anos, para mostrar que a nostalgia pode servir para o bem, mas também para o mal.

O terceiro título da série principal serve, na realidade, como uma sequência mais direta de Travis Strikes Again, spin-off lançado originalmente em 2019 para o Nintendo Switch. O personagem principal, após alguns anos de aposentadoria e aparente bom senso na decisão difícil de abandonar sua família pela proteção dos filhos, tem agora a responsabilidade de salvar o planeta. Ele é o número 1 do ranking de assassinos terrenos e, como tal, deverá encarar os alienígenas invasores, de forma a impedir o avanço de Fu.

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Há muita história pregressa envolvida, mas logo de início, No More Heroes III faz questão de mostrar aos jogadores de primeira viagem que a ideia, aqui, como no passado, é apenas embarcar nas maluquices. Entre referências a filmes como E.T. O Extraterrestre para contar a origem do antagonista e games fictícios do passado, pelos quais Travis ainda é obcecado, vai se compondo o ensejo para a matança e o derramamento de sangue digital do game, enquanto o diálogo bem colocado e rápido preenche as lacunas para aqueles que estiverem interessados em saber como chegamos até aqui.

Ao mesmo tempo, como alguém que acompanha a série desde o início, não dá para deixar de lado o pensamento de que este é um game feito mais para os fãs de longa data e menos para os novatos. Isso vai além apenas das referências, dos personagens do passado e da própria estética, passando também pela jogabilidade e mecânicas que, apesar de interessantes e intuitivas, soam repetitivas na progressão de Travis pelo ranking dos alienígenas invasores.

Repetir para mudar

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O título se divide em blocos, com cada um dos oponentes tendo seu próprio mundo, características e, claro, trejeitos característicos que só poderiam sair da salada de referências que é a cabeça de Suda51. No More Heroes III nos coloca em um passeio por gêneros e estilos, nos permitindo viajar por jogos de terror, visual novels e games de luta oitentistas, sem falar nos robôs gigantes dos tokusatsus e antigos clássicos de navinhas e mechas.

Falar assim passa a impressão de um game variado, e isso seria plenamente verdade, não fossem os caminhos que nos levam a cada um destes segmentos. Antes de chegar aos combates derradeiros, Travis precisa passar pelas batalhas classificatórias, que também jogam o usuário em um mundo aberto vazio e com objetivos secundários como cortar grama, catar lixo, desentupir vasos sanitários e enfrentar jacarés. São parte da loucura do criador, sim, mas também elementos que se repetem de uma forma que se torna cada vez menos interessante.

O game até tenta trazer frescor aos combates contra os inimigos comuns, introduzindo diferentes estilos de combatentes que exigem abordagens que consideram as diferentes habilidades do protagonista. Entretanto, rapidamente o jogador perceberá que se trata mais de um jogo de agilidade do que de estratégia, com as vulnerabilidades rapidamente descobertas sempre se traduzindo em golpes de espada e controle de grupos, enquanto o uso da transformação do personagem em mecha pode acabar rapidamente com qualquer um deles.

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Nestes segmentos mais abertos, também ficam evidentes os gargalos do Switch. Suda51 faz bom uso das capacidades do console em termos artísticos, entregando elementos criativos e inspirados em cenas de corte e momentos de andamento da história. Mas não dá para ignorar que os passeios pelo mundo aberto também denotam que a ideia de trazer um game com o estilo de 10 anos atrás passa, não apenas, pelas ambições visuais do criador, mas também pelo fato de a plataforma estar sofrendo um pouco para comportar o que está sendo proposto.

As ruas sempre vazias, com poucos elementos e transeuntes, abrem pouco espaço para a exploração além dos objetivos indicados no mapa, que também são poucos. E no caminho entre eles, o jogador encara uma queda nas taxas de quadros por segundo e tempos de carregamento maiores do que deveriam ser, fazendo pensar que nem mesmo existe um propósito para esse mundo aberto sem tantas possibilidades. Ele acaba sendo mais um exemplo de ideias do passado que não funcionam tão bem nos dias de hoje, com a nostalgia justificada por ela mesma não sendo uma desculpa suficientemente boa.

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As mecânicas repetitivas de acesso aos chefes de fase e os passeios pelo ambiente desinteressante acabam compondo um inconveniente para chegarmos ao que realmente brilha em No More Heroes III. Pelo menos, fazemos isso ao som de uma ótima trilha sonora, que está tocando o tempo todo e referenciando ao bom e velho tema da franquia, mas não dá para deixar de lado a vontade de ir direto ao ponto, mesmo que o título nem sempre nos deixe fazer isso.

Prato principal

É quando deixamos essa fase de preparação que chegamos à real proposta do título e ao puro creme da obra de Suda51. Como dito, cada mundo e oponente principal tem o seu próprio estilo. Com isso, acabamos seguindo por um game fragmentado como a própria personalidade de Travis Touchdown, e também as bases que trouxeram o criador até aqui e se tornaram característica fundamental de seu trabalho.

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Vamos de Star Wars à filmografia de Takashi Miike, de clássicos deixados de lado como Fatal Frame a uma amizade próxima com a Devolver Digital, que pode ser, inclusive, estampada no peito do protagonista. O título também trafega de referências obscuras e cabeçudas a piadas da escola “banana na bunda”, intrigando o jogador o tempo todo com a ideia de que nada do que está acontecendo na tela faz muito sentido, mas ao mesmo tempo, parece apresentar uma coesão que funciona de maneira absolutamente estranha.

É o que leva o jogador adiante, principalmente aqueles que já estão acostumados com o trabalho de Suda51 e querem saber o que mais ele reservou no game. A resposta nunca é a esperada, mas também nunca falha em surpreender, transformando No More Heroes III em uma sequência digna de um clássico cult como muitos dos filmes citados pelo criador. Isso também explica porque tanta gente comemorou quando ele foi anunciado, há dois anos.

Ao mesmo tempo, e mesmo para os fãs mais felizes com esse retorno, a sensação de que temos um game defasado não deixa de rondar. Em um mundo de plataformas de nova geração e títulos mais bem acabados em muitas das propostas trazidas neste (ainda) exclusivo para o Switch, há de se questionar algumas das escolhas feitas pelo designer, principalmente, no que toca a jogabilidade.

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Não é uma decepção, muito pelo contrário — este é o game que muitos estavam esperando desde 2010, quando No More Heroes 2 foi lançado. É, também, um retorno às origens após uma tentativa nada bem aceita de criar algo diferente em Travis Strikes Again, o que também, por si só, é algo a se elogiar. Velhos truques ainda funcionam, mas o sentimento é de que eles se tornaram menos efetivos — há valor, claro, em apelar à base de fãs que manteve o sonho vivo por tanto tempo, mas um pouco de olhar acima disso também faria muito bem à marca.

No More Heroes III foi testado em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Nintendo.