5 jogos que já foram proibidos no Brasil
Por Gabriel Cavalheiro • Editado por Jones Oliveira |

Os jogos foram alvo de censura inúmeras vezes no mundo todo, seja por sua violência gráfica, por temas delicados ou por qualquer outro tipo de elemento que, com certeza, já foi abordado em um longa-metragem de Hollywood.
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O Brasil não foi exceção a essa regra e coleciona vários episódios de banimento de jogos, principalmente antes da internet se popularizar de vez.
Na verdade, até hoje vemos discursos e reportagens pouco apuradas sobre uma suposta influência dos videogames na violência. Em 2023, vimos que essa percepção não havia cessado, já que o próprio Presidente do Brasil afirmou que games "ensinam crianças a matar".
Entretanto, esse movimento contra os videogames começou para valer nos anos 1990, com a evolução gráfica liderada, principalmente, por Mortal Kombat, que, para a época, era muito realista e também foi retirado das prateleiras no Brasil.
Pensando nisso, Canaltech lista 5 jogos que foram proibidos no Brasil, seja por temas violentos, por inspiração em casos reais ou até mesmo por questões de direitos autorais.
5. Counter-Strike
Um dos jogos mais populares de todos os tempos, Counter-Strike foi proibido por quase um ano no Brasil por um motivo inusitado. Em 18 de janeiro de 2008, o juiz federal Carlos Alberto Simões de Tomaz, da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais, decidiu pela proibição do jogo no país por causa de um mod que transformavam os cenários do jogo no Rio de Janeiro.
Como resultado, os órgãos estaduais do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) anunciaram na época que estavam recolhendo os jogos de lojas físicas do estado de Goiás. Segundo o órgão, "[Counter-Strike] reproduz a guerra entre bandidos e policiais e impressiona pelo realismo. No videogame, traficantes do Rio de Janeiro sequestram e levam para um morro três representantes da Organização das Nações Unidas. A polícia invade o local e é recebida a tiros".
Acontece que as afirmações se referiam a uma modificação criada pela comunidade brasileira que adicionava esses elementos ao jogo base. Em nota ao g1, a Electronic Arts, distribuidora de Counter-Strike no Brasil na época, explicou que elementos como "traficantes, a cidade do Rio de Janeiro, favela, trilha sonora funk e pontuação extra por matar PMs não fazem parte do jogo original". A companhia reiterou que as modificações eram feitas pela comunidade — portanto, não oficiais — e não tinham qualquer relação com o jogo.
Apesar de parecer um absurdo hoje em dia, Counter-Strike ficou proibido no Brasil por um ano e meio. Foi só em junho de 2009 que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, autorizou a comercialização do jogo em território nacional.
4. Bully
O ano de 2008 foi uma verdadeira caça às bruxas contra jogos polêmicos no Brasil. Se você achou que o tempo de proibição de Counter-Strike foi longo, o caso de Bully irá surpreendê-lo. Para quem não conhece, o game é popularmente conhecido como o "GTA na escola", tratando de temas como bullying e violência.
Se órgãos públicos e a sociedade como um todo já costumam condenar jogos violentos, a situação com certeza não seria diferente com Bully. Em abril de 2008, a JPF Magazine, importadora do título, foi proibida de importar, distribuir e vender o game no Brasil.
A ordem partiu do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que também exigiu que sites suspendessem a comercialização e as propagandas de Bully, além de ordenar o envio de listas com os nomes dos consumidores que compraram o jogo. Isso porque Bully contava com temas como violência escolar e bullying, algo impensável para a época. Justamente por conta dessas temáticas, dificilmente veremos um jogo da série tão cedo.
Bully só retornou ao país oito anos depois, em 2016, quando a versão Scholarship Edition foi submetida e avaliada pelo ClassInd (Sistema de Classificação Indicativa Brasileiro). O órgão do Ministério da Justiça aprovou o jogo para maiores de 18 anos e ele finalmente chegou ao PlayStation 4 e ao Steam.
3. GTA IV
Falando em Rockstar Games, GTA IV também foi banido do Brasil, mas por um motivo um pouco diferente. Era de se esperar que o jogo causasse polêmica por sua violência e temática adulta, mas, desta vez, o que motivou a ação foi uma disputa de direitos autorais.
Em 2013, a 3ª Vara Cível de Barueri (São Paulo) determinou que a Rockstar Games e a distribuidora Synergex do Brasil estavam proibidas de comercializar e distribuir a expansão Episodes From Liberty City de GTA IV. O motivo foi o uso indevido da música "Bota o Dedinho pro Alto" na trilha sonora do DLC, composta pelo brasileiro Hamilton da Silva Lourenço e interpretada por seu filho, MC Miltinho.
GTA IV: Episodes From Liberty City foi liberado posteriormente, mas a conclusão do caso não foi divulgada publicamente. Não se sabe ao certo se a Rockstar pagou para usar a música ou se a acusação desistiu do processo.
2. Carmageddon
Engana-se quem pensa que a proibição de jogos no Brasil começou apenas nos anos 2000. Em 1997, o Ministério da Justiça proibiu a distribuição, venda e promoção de Carmageddon em território nacional, que na época era disponibilizado pela empresa Brasoft.
Carmageddon é um jogo no qual os jogadores disputam corridas em alta velocidade e podem atropelar pedestres e destruir objetos — algo como um GTA. Segundo reportagem da Folha, o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) informou que o jogo "incitava a violência no trânsito", daí veio a proibição.
Em entrevista ao jornal, a fundadora do estúdio SCi Games (já extinto), Jane Cavanagh, mostrou-se desapontada com a decisão, afirmando estar "muito surpresa e desapontada que esta posição tenha sido adotada no Brasil".
Não foi apenas no Brasil que Carmageddon gerou polêmica. Para continuar em circulação no Reino Unido e na Itália, os desenvolvedores tiveram que substituir os pedestres por zumbis.
Um ano mais tarde, Carmageddon II: Carpocalypse Now também foi alvo de proibição no Brasil. Na ocasião, o então ministro da Justiça, Renan Calheiros, determinou ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) a proibição do jogo.
O ministro ressaltou que "as empresas deveriam desenvolver produtos que educassem e formassem nossos adolescentes para um trânsito civilizado, e não para a barbárie" e que os pais deveriam supervisionar o que compram para os filhos.
Apesar de todas as proibições e críticas à franquia Carmageddon, hoje é possível adquirir tanto os clássicos quanto os jogos mais recentes da série no Brasil, por meio de plataformas como o Steam. Isso aconteceu graças à reformulação do sistema de classificação indicativa do país.
1. Duke Nukem 3D
O caso de Duke Nukem 3D pode ter sido o estopim para a onda de cobertura negativa da mídia e opiniões inflamadas sobre videogames e violência.
O jogo foi proibido no Brasil em 1999 junto de outros cinco títulos por conta de um trágico episódio da vida real: em 3 de novembro daquele ano, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira entrou em uma sala de cinema no Shopping Morumbi, em São Paulo, e disparou contra a plateia com uma submetralhadora, matando três pessoas e ferindo outras cinco.
Durante a investigação, a polícia apreendeu três computadores na casa do estudante, além de mais de mil CD-ROMs piratas que ele vendia pela internet. Um dos jogos encontrados era Duke Nukem 3D, no qual, na fase "Hollywood Holocaust", os jogadores precisavam entrar em um cinema e atirar em demônios que estavam na plateia.
Nem é preciso dizer que o caso gerou comoção nacional e logo os videogames se tornaram alvo de críticas da mídia e das autoridades brasileiras. Iniciou-se um verdadeiro movimento para proibir jogos no país. A lista de títulos considerados violentos passava de 200, mas, no fim, seis games foram oficialmente banidos:
- DOOM
- Duke Nukem 3D
- Mortal Kombat
- Blood
- Requiem: Avenging Angel
- Postal
Vários desses jogos, e muitos outros, acabaram voltando ao mercado brasileiro graças a mudanças nos órgãos de classificação indicativa. De qualquer maneira, é possível afirmar que o caso ligado a Duke Nukem 3D foi o estopim para o banimento em massa de jogos no país, e a discussão sobre a violência nos games, apesar de unilateral na época, tornou-se pauta na sociedade.
Até hoje, não é difícil encontrar reportagens em redes de televisão abertas que, de alguma forma, culpam os games por casos de violência na vida real.
A verdade é que os videogames se tornaram um pretexto conveniente e uma muleta de ouro para a sociedade. Ao ser confrontada com a dura realidade da violência infanto-juvenil no Brasil, parte dela segue tentando mascarar os reais problemas que causam esses episódios, como violência doméstica, bullying, saúde mental e tantos outros fatores que são, de fato, gatilhos para tais acontecimentos.
Afinal, é muito mais fácil culpar os videogames do que olhar para os problemas da sociedade que, muitas vezes, nós mesmos negligenciamos e os causamos.
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