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Gamescom | Flight Simulator, suas cidades, histórias e um olhar para o Brasil

Por| Editado por Bruna Penilhas | 24 de Agosto de 2021 às 14h18

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Divulgação/Microsoft
Divulgação/Microsoft

Em agosto de 2020, Jorg Neumann, chefe da franquia Flight Simulator na Microsoft, tinha uma viagem marcada dos EUA para a Alemanha. Ele visitaria os pais, já idosos, em um momento de celebração, afinal, o fruto de seu trabalho de anos havia finalmente chegado às mãos dos jogadores. A pandemia do novo coronavírus fez com que os aviões tivessem de ficar no solo, mas virtualmente, ele decolou, pousou ao lado de casa e telefonou a eles para contar que, apesar de sentir muito não poder visitá-los fisicamente, isso não significava que ele não estava ali.

A história extremamente pessoal do produtor é a mesma de muitos de nós. Flight Simulator chegou inicialmente aos PCs em um momento no qual percebíamos que a pandemia era mais séria e duradoura do que imaginávamos; agora, um ano depois, o jogo chegou também para Xbox Series X e Series S, de forma a permitir que as viagens que não acontecem há meses pudessem ser feitas, pelo menos, de forma virtual. Prova disso é que, de acordo com Neumann, 70% dos jogadores voaram para a casa assim que colocaram as mãos no game.

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“É algo bonito, se você parar para pensar, mas também triste. Ninguém imaginava que seria desse jeito”, explicou Neumann, em um momento mais emotivo da entrevista concedida ao Canaltech. O que nasceu como o retorno de uma franquia clássica dos jogos para computador e como um simulador que disseminaria entre os mais jovens o interesse pela aviação, rapidamente se tornou algo a mais. “Quando o mundo fechou, nós ajudamos a abrir pelo menos um pouco.”

O trabalho não parou com a chegada das versões PC e Xbox, muito pelo contrário. De acordo com Neumann, a equipe está em ritmo total desde 2019, ainda que em regime remoto, e já trabalha em conteúdos que chegarão apenas em 2022 ou 2023. Na Gamescom deste ano, mais uma grande atualização foi apresentada, assim como ideias de, novamente, transformar Flight Simulator em mais do que apenas um jogo ou um simulador de voo.

O principal anúncio do momento teve a feira europeia como palco e também o Velho Continente como mote. O sexto Update de Mundo, como é chamado, traz novas cidades da Alemanha, Áustria e Suíça com trabalho dedicado, que inclui monumentos, locais históricos, parques nacionais, pontos de referência e outros marcos modelados em 3D, proporcionando uma verdadeira viagem virtual por locais como Viena, Frankfurt, Hamburgo e Dresden, entre diversas outras regiões.

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“Queremos mostrar a beleza destas regiões, então falamos com organizações turísticas e governos locais para entender qual a alma destes locais e o que precisávamos fazer para reproduzir isso”, explica Neumann, apontando também para os aeroportos, que não poderiam ficar de fora de uma atualização deste tamanho em um simulador de voo. Ele mostra um carinho especial por Heligolândia, um arquipélago alemão que traz uma das pistas mais desafiadoras do título, com muitos ventos e uma área estreita para pouso, que, claro, será o foco de um desafio especial para os jogadores.

Imagens de satélite, pesquisas e dados topográficos são apenas o começo do trabalho de reconstrução das cidades em Flight Simulator. Quem joga títulos de mundo aberto sabe o esforço hercúleo que é necessário para reproduzir um único município em escala reduzida; imagine, então, fazer isso com diferentes capitais e cidades históricas ao redor do mundo, de forma que elas apareçam de maneira integral em um título que preza pela simulação. Voos de reconhecimento, que fotografam a cidade de cima uma vez por segundo, e câmeras infravermelhas que detectam as alturas de edifícios, montanhas e monumentos, ajudam nesse trabalho.

“Como resultado, tivemos uma reprodução fiel de Frankfurt em um dia no verão de 2020”, continua Neumann. As imagens foram essenciais para um trabalho de cerca de um ano e meio, que trará as cidades a Flight Simulator em 7 de setembro, acompanhadas dos respectivos voos de descoberta, focados na pilotagem de aviões específicos sobre marcos de destaque, e também os desafios para testar a habilidade dos pilotos virtuais.

Aviação para todos

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Ao lado das reproduções fiéis de cidades e aeronaves, a acessibilidade é um dos grandes focos de Flight Simulator. Desde o PC, o game já é completamente jogável apenas com um joystick, enquanto teclado, mouse e manches podem ser utilizados para criar uma experiência ainda mais profunda. Tudo isso também está disponível nas versões Xbox do título, um trabalho impressionante de otimização que fez com que o jogo, notoriamente exigente nos computadores, rodasse muito bem até mesmo no Series S, bem mais modesto que seu irmão maior, o Series X.

“Não tratamos [essas edições] como simples ports, mas olhamos para todos os seus aspectos novamente, pensando em aproveitar o melhor das plataformas”, explica Neumann, apontando que a integração com a nuvem, a partir da plataforma Azure da Microsoft, foi mais necessária do que nunca, ampliando o caráter de um título que, por si só, já servia como uma grande vitrine do que o processamento remoto é capaz de realizar. “Esse simulador seria impossível de rodar apenas localmente, então o trabalho foi de otimização máxima dos dados, com algumas descobertas e um investimento de um ano inteiro”, completa.

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O resultado se vê na prática, enquanto a equipe está satisfeita com o resultado. Agora, as duas versões andam lado a lado, tanto em termos do multiplayer conectado, com os aviões de usuários de PC se unindo ao espaço aéreo do Xbox, quanto em atualizações de conteúdo, que passam a chegar de forma simultânea para todo mundo.

Passado e futuro

Com as bases sólidas de um título que, para alguns, é um simulador tão complexo que o chamar de jogo seria errado, a ideia dos desenvolvedores é ampliar as fronteiras. Enquanto novas cidades e aeroportos seguem em desenvolvimento para futuros Updates de Mundo, a Microsoft também quer transformar Flight Simulator em um museu da aviação e uma vitrine para o futuro.

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Neumann conta que, após a revelação do game na E3 2019, mais de 50 companhias se mostraram interessadas em trazer seus modelos para o jogo. Não eram apenas fabricantes de aviões, mas também de helicópteros e drones de passageiros que, sim, também estarão no game, expandindo ainda mais as possibilidades de simulação.

Um dos primeiros exemplos a chegarem às mãos dos jogadores será o Volocity, um eVTOL (sigla em inglês para aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical) fabricado pela Volocopter que será usado em grande escala pela primeira vez em 2024, durante as Olimpíadas de Paris, na França. O modelo estará disponível em Flight Simulator até o final do ano e, na visão do chefe do game, vai permitir que os usuários tenham uma visão de como será o futuro do transporte aéreo de pessoas.

Também está a caminho do título uma parceria com a Associação de Corridas Aéreas de Reno, nos Estados Unidos, com um novo modo que vai permitir aos jogadores disputarem provas de velocidade sobre os cenários do game. “Esse é o esporte a motor mais rápido do mundo e será um novo campo para Flight Simulator”, afirma o diretor, também apontando para um lançamento até o fim de 2021.

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Antes disso, a promessa é de uma viagem ao passado com o JU-52, um clássico trimotor que voou pela Alemanha nos anos 1930 e foi uma das primeiras aeronaves de carreira da Europa. “Quase toda região do mundo tem sua própria relação com a aviação, por meio de companhias e modelos. Então, quando trabalhamos nos Updates de Mundo, pensamos que poderíamos fazer o mesmo com os aviões”, conta Neumann.

Novamente, para tornar a ideia em realidade, a equipe de Flight Simulator se voltou a organizações que trabalham na preservação da história da aviação e, também, à própria Junkers, fabricante do modelo, o que permitiu acesso a uma aeronave real, conservada e funcional. Assim, a partir de um escaneamento 3D que varreu cada milímetro do modelo, o time foi capaz de recriar fielmente o JU-52, com uma contraparte virtual que traz todos os controles, elementos internos e comportamento de voo para o game.

Sonhos aéreos

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Levando em conta a ambição de Flight Simulator em se tornar um museu da aviação global, com foco em diferentes regiões do mundo, não tínhamos como deixar de lado uma pergunta sobre o Brasil. E a resposta do chefe do game passou longe da protocolar, com a indicação clara de que, ainda que uma previsão não possa ser dada, a equipe está pesquisando a história brasileira neste momento.

“A comunidade pede por uma atualização focada no Brasil [desde o lançamento] e isso, definitivamente, está na minha lista”, afirma Neumann, indicando que a região pode ser parte de uma atualização de mundo ainda maior, focada na América do Sul. É uma vontade, por exemplo, fazer com que a Cordilheira dos Andes esteja reproduzida de maneira fiel em Flight Simulator, enquanto ele deixa claro que um avião clássico nacional pode mesmo chegar ao título — entre o 14 Bis, o Tucano ou um modelo da Embraer, nenhuma decisão foi tomada ainda. Apenas saber que ela deve vir, porém, já faz os olhos brilharem.