Publicidade

Como Final Fantasy 7 Rebirth tira o impacto de um dos maiores momentos do jogo

Por  • Editado por Durval Ramos | 

Compartilhe:
Divulgação/Square Enix
Divulgação/Square Enix

Antes de qualquer coisa, pode ficar tranquilo: este texto NÃO tem spoilers de Final Fantasy 7 Rebirth.

Final Fantasy 7 foi um divisor de águas para a então Squaresoft, já que era o primeiro título da franquia a ser desenvolvido em 3D e representava novas possibilidades narrativas para a série. O jogo também ficou bastante conhecido por um momento bem específico, que assombrou os jogadores por muito tempo: a morte de Aerith.

Depois de 27 anos do lançamento do jogo original, não é nem mais spoiler dizer que a simpática moça morre após ser empalada pela espada do vilão Sephiroth. Essa cena e as repercussões dela para a trama marcaram (e traumatizaram) uma geração inteira de fãs de RPGs, seja por ser bastante gráfica em uma época que o público ainda estava se acostumando a essas cenas mais cinematográficas ou pelo simples fato de que muita gente se apegou à personagem.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Porém, Final Fantasy 7 Rebirth, segunda parte do projeto que está recriando o jogo da Square Enix, usou bastante a possibilidade de a personagem morrer ou não na nova versão, o que acabou mudando completamente a forma como esse momento é visto pelos jogadores. E, pior, acabou tirando muito do impacto que a morte deveria ter dentro da trama.

A surpresa no lugar do impacto

A conclusão de FF7 Remake apresentava uma possibilidade muito interessante para o projeto, que era a de que nem tudo precisava seguir a risca o que aconteceu no jogo original. Isso por si só era motivo para se empolgar bastante com a sequência, mas também levantou questionamentos sobre como isso poderia impactar a experiência do game.

Como comentamos, o momento da morte de Aerith é uma virada na narrativa do título original, já que ao jogar sem saber o que vai acontecer, o jogador a trata como uma personagem comum. Sua importância na trama faz com que você invista seu tempo para melhorar suas habilidades, para desenvolver melhor o relacionamento entre Cloud e ela (apesar de a Tifa estar logo ali).

Quando aquele cabeludo malandro mata esse quase literal anjo, tudo muda. O impacto é impressionante, já que o jogador passa por uma enxurrada de reações. Você passou horas evoluindo uma personagem que morreu e não importa o quanto você use Phoenix Down, ela não vai voltar. 

Você não consegue salvar a personagem que claramente o jogo estava querendo empurrar como par para o herói da história. Tudo isso acontece e você só vê ela caindo e o Sephiroth sorrindo. Não importa o quanto você treinou a moça, ela vai morrer. Na verdade, isso é até pior: quem dedicou muitas horas para treiná-la criou um vínculo a mais com ela, o que torna a morte ainda mais brutal.

Continua após a publicidade

O impacto que esse momento tem para a história, para a franquia, e até mesmo para os games em geral, é imenso. Como jogo, é onde a trama realmente se transforma em algo especial. Ninguém está a salvo e depois de aparecer como um vilão como qualquer outro, Sephiroth é alçado a outro patamar. 

Ele deixa de ser um cabeludo maluco para se tornar um dos vilões mais memoráveis de toda a série, principalmente por causa desse momento. As motivações do grupo ganham mais contornos e força, e tudo por causa da morte da Aerith e o que ela representa para o jogador.

Continua após a publicidade

Então, vemos como isso é abordado no projeto do Remake. Sephiroth é colocado desde os momentos iniciais do primeiro jogo como esse grande vilão, sem demonstrar exatamente por que para quem nunca jogou o original. Um enorme “Confia” por parte da Square Enix.

O final da primeira parte levanta a possibilidade de Aerith se salvar em FF7 Rebirth, algo que, confesso, me deixou muito empolgado em 2020. Não traremos spoilers sobre o que acontece no jogo que foi lançado para o PlayStation 5, mas sim, da maneira como a personagem é retratada em todo o marketing e no game, que mudam completamente a forma como a vemos.

Mudanças deixando as coisas sem graça

Mencionamos alguns motivos para a morte de Aerith no jogo original ter tanto impacto, sendo eles a impossibilidade de trazê-la de volta, o tempo investido na evolução da personagem e a própria surpresa com que tudo isso acontece. Muitas dessas coisas ainda estão no novo jogo, mas há algumas que são muito importantes que acabam se perdendo no caminho.

Continua após a publicidade

A começar pela própria decisão da Square Enix de dividir Final Fantasy 7 em três jogos distintos. Como dito, parte do peso da morte de Aerith no RPG original era que você passou mais da metade do jogo treinando a garota de laço no cabelo para, de repente, ela ser empalada para uma espada gigantesca por um maluco sádico de madeixas platinadas. É uma virada de roteiro que, de certa forma, trai o jogador. Afinal, todo o esforço que ele fez até aquele momento evoluindo a personagem não serviu de nada e, a partir daquele ponto, você vai precisar rever seu time e criar novas estratégias com quem restou.

Só que, quando as novas versões de FF7 dividem a história em jogos distintos, parte desse impacto desaparece. Como o save não é transportado de um jogo para o outro, pouco importa se você dedicou tempo e recursos para evoluir Aerith, pois o terceiro game começará um progresso do zero e todo aquela sensação de vazio que o RPG original tinha deixa de existir. Não há mais o peso de que você a treinou para nada ou, o que é pior, de que parte importante do seu time lhe foi roubada. Em Rebirth, ela é apenas mais uma aliada e isso tira muito do peso que a simples expectativa da morte pode trazer.

Continua após a publicidade

Além disso, há a própria mudança na mecânica de experiência que a Square trouxe. O sistema de Final Fantasy Remake e Rebirth permite que todos os personagens evoluam juntos, até mesmo aqueles que não fazem parte de sua party. Essa é uma escolha excelente para não ter que ficar indo e voltando para evoluir cada um dos personagens para que, eventualmente, possa usá-los em um momento chave do jogo. Todo mundo evoluiu junto, mas isso torna a vontade de jogar com a Aerith quase negativa.

Existem personagens que conseguem cobrir com tranquilidade tudo o que ela faz na campanha. Durante os nossos testes para o review, em dado momento, ela só era usada quando o jogo obrigava, pois todo o marketing de “Vai, não vai” em torno da morte da personagem leva o jogador a ficar sempre desconfiado do que pode acontecer com ela.

Sephiroth é bastante afetado por essa escolha, já que o jogo parte do princípio que ele é o maior vilão da história da franquia, sem que demonstre de verdade isso. A morte de Aerith “cria” Sephiroth como principal antagonista de FF7.

Continua após a publicidade

No nosso review, comentei como em vários momentos, a história de FF7 Rebirth parecia um pouco sem foco, com Cloud e seus companheiros viajando e participando de loucas aventuras, interrompidas com “A gente precisa deitar esse cabeludo na porrada”.

Desde o Remake, a importância que o vilão deveria ganhar simplesmente é dada a ele desde o começo porque todo mundo já sabe quem ele é. Porque todo mundo sabe que ele fez Aerith virar uma camiseta de saudade eterna. Em vez de deixar o jogador decidir as coisas, os desenvolvedores chegam na frente e falam como ele deve se sentir.

Ao brincar com a possibilidade de a Aerith morrer ou não na nova versão, a Square Enix acabou matando só a graça desse momento.