Crise dos chips atinge a Nintendo, derruba ações e ameaça preço do Switch 2
Por Jones Oliveira |

A escassez e o aumento indiscriminado do preço das memórias na indústria agora fez uma nova vítima. A Nintendo viu suas ações despencarem cerca de 5% nesta semana, acumulando uma perda de valor de mercado estimada em US$ 14 bilhões. O motivo é um velho conhecido de quem acompanha a indústria de hardware: o encarecimento abrupto dos chips de memória e armazenamento que equipam computadores, celulares e o Switch 2.
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Segundo dados de inteligência de mercado da TrendForce, a gigante japonesa enfrenta um cenário desafiador na cadeia de suprimentos. O preço que a Nintendo paga pelos módulos de 12 GB de memória RAM LPDDR5X no console híbrido saltou impressionantes 41% somente neste trimestre. Para piorar a equação, o armazenamento NAND — essencial para o espaço interno do console — ficou 8% mais caro. Esse aumento coloca em xeque as margens de lucro da empresa e acende um alerta sobre a viabilidade comercial de manter o preço do console competitivo a longo prazo — hoje o videogame tem preço sugerido de R$ 4.499,00 no Brasil.
O impacto não se restringe apenas aos relatórios financeiros da companhia, mas ameaça atingir diretamente o bolso do consumidor final. Com a pressão inflacionária sobre o hardware, analistas temem que a Nintendo precise rever sua estratégia de subsídios e promoções, ou pior, repassar esses custos em acessórios e serviços. A situação reflete um "efeito dominó" causado pela demanda voraz dos data centers por componentes de IA, que drenam a disponibilidade de chips e elevam os custos para o mercado de eletroeletrônicos.
Margens esmagadas pelo custo do hardware
A Nintendo sempre operou com uma filosofia diferente de suas rivais, muitas vezes lucrando na venda de hardware desde o primeiro dia. No entanto, o Switch 2 foi lançado com margens apertadas, e a atual volatilidade dos preços torna a situação crítica.
Para se ter uma ideia da gravidade, fabricantes de PCs como Dell e Lenovo já alertaram sobre aumentos de preços devido a custos de componentes sem precedentes. No caso da Nintendo, absorver um aumento de 41% na RAM e 8% na NAND reduz drasticamente sua capacidade de financiar promoções ou oferecer bundles agressivos como vemos com frequência no varejo nacional.
Como já explicamos anteriormente aqui no Canaltech, fabricantes de memória como Samsung e SK Hynix têm elevado os preços trimestre após trimestre e priorizado o lucro em vez de ampliar a oferta ao mercado. O problema é que esses ajustes coincidem com a explosão da Inteligência Artificial, que criou uma demanda sem precedentes por memórias rápidas. A Nintendo, assim como a Sony fez com o PS5 Pro, está sentindo na pele o custo de competir por silício em um mercado saturado.
Custo oculto para o gamer: armazenamento de luxo
Se o preço do console permanecer estável por enquanto, o custo real de propriedade deve subir através dos periféricos. O analista Pelham Smithers aponta que o aumento nos preços da NAND está impactando diretamente os cartões de memória, vitais para o ecossistema do Switch 2.
- MicroSD Express mais caros: Um cartão de 256 GB de alta velocidade já está custando cerca de US$ 89,99 (aproximadamente R$ 530 em conversão direta)
- Jogos "mais caros": Com o espaço interno limitado e jogos de terceiros exigindo downloads gigantescos, o jogador é forçado a comprar armazenamento extra
A dependência de mídias externas caras pode frear novos compradores, justamente em um momento decisivo para a consolidação da base instalada do novo console híbrido.
Dilema das metas de vendas
Os números de vendas até agora são sólidos, mas há muita incerteza em relação ao futuro. A Nintendo reportou 10,36 milhões de unidades do Switch 2 vendidas até novembro de 2025, com uma meta ambiciosa de alcançar quase 19 milhões até o fim do ano fiscal em março de 2026.
Para atingir esse número, a plataforma precisa se manter atraente. O dilema que a diretoria da Nintendo enfrenta agora é uma escolha de Sofia:
- Proteger o preço de varejo e aceitar margens de lucro minúsculas (ou inexistentes), apostando tudo na venda de software
- Aumentar os preços ou reduzir o conteúdo da caixa,removendo acessórios ou jogos inclusos e arriscando desacelerar a adoção do console
Historicamente, fabricantes de consoles absorvem custos para ganhar participação de mercado. No entanto, com uma perda de valor de mercado de US$ 14 bilhões em poucos dias e ações no nível mais baixo desde maio, a pressão dos acionistas por rentabilidade pode forçar a mão da gigante japonesa. Resta saber se a força de franquias como Mario e Zelda será suficiente para convencer o público a pagar a conta dessa crise.
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