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Conheça Internum, um jogo brasileiro cuja demo foi criada com apenas R$ 150

Por| 11 de Novembro de 2020 às 15h20

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Reprodução/Instagram Ugameworks
Reprodução/Instagram Ugameworks

Quando se olha a demo de Internum, é difícil acreditar que aquilo foi feito por apenas duas pessoas, com somente R$ 150, revezando o tempo de trabalho em um computador nada potente.

O jogo traz um personagem bem animado, andando em um espaço que parece uma prisão. Há salas com documentos, uma bandeira do Brasil, outra de Porto Alegre, e algumas mecânicas de exploração. Tudo que cheira muito bem a um título AAA.

Com fortes influências de Silent Hill e ResidentEvil, a ideia nasceu de dois irmãos de Porto Alegre, Douglas e Matheus Martin, em 2016, mas só foi chegar às mãos dos jogadores mesmo em 2018.

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Os dois, hoje, encabeçam a Unbelievable Gameworks, que, além do desenvolvimento de jogos, também vende projetos para outras companhias relacionados a serviços 3D. A empresa carrega quatro funcionários, contando com os irmãos, mas começou sem nenhum investimento, em um computador compartilhado.

A demo zero

Douglas e Martin são fãs de jogos de terror e colocaram na cabeça que gostariam de fazer o seu próprio título. Internum seria, então, um survival horror investigativo em 3° pessoa que se passa em 1985 e conta a história de Audrey Martins. A personagem é uma investigadora que precisa entender acontecimentos inexplicáveis na penitenciária de Monte-Castelo.

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Contudo, fazer um jogo no nível de Resident Evil ou Silent HIll é um desafio e tanto, até mesmo para as consolidadas Capcom e KONAMI, que detêm tais franquias. Imagine para dois irmãos com apenas um computador.

Em 2017, a dupla começou a montar o que será chamada aqui de “demo zero” de Internum. A proposta era testar mecânicas, cenários, motor gráfico e ver o que ambos poderiam fazer até retirar a ideia do papel. Para fazer o projeto, o computador que eles dividiam servia de ferramenta não só para desenvolver a demo, mas também para estudar as técnicas e apreender como se faz um bom game no estilo survival horror.

“Eu trabalhava um tanto e, quando ia dormir, o Matheus entrava no lugar e fazia a parte dele. 12 horas cada um mais ou menos”, explica Douglas, o mais velho, hoje com 23 anos.

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Eles conseguiram criar o material, o qual seria usado para uma campanha de financiamento coletivo. Em 2017, o cenário via grandes e pequenos estúdios conseguindo lançar seus games com apoio independente vindo do público. Segundo levantamento do IcoPartners, naquele ano, mais de 2 mil games foram financiados só no Kickstarter, plataforma que vivia um ápice. Era o que eles queriam.

Contudo, mesmo com uma boa dose de técnica e movimentação em 3D, a campanha não deu certo. Ainda assim, eles queriam levar o projeto adiante.

Os dois fundaram a Unbelievable Game Studios, com a proposta de desenvolver Internum e, quem sabe, mostrar o projeto para alguém que se interessasse em publicar. Vendo que o crowdfunding não foi um sucesso, perceberam que era preciso melhorar.

Demo um

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O vídeo citado no início deste texto não é uma referência à demo zero. Em meados de 2018, esta versão se perdeu. Os irmãos precisavam atualizar a Unreal Engine e, no meio do caminho, não souberam lidar com a questão. O resultado foi catastrófico.

“Eu estava dormindo. Era umas quatro da manhã, quando meu irmão me cutuca: ‘Douglas, eu acho que a gente perdeu tudo’. Levantei suando, as pernas até bambas. Vi que não tinha nada, só uma árvore que ficou no meio do cenário”, conta Douglas, em meio a risadas.

Isso mesmo, ele se lembra da história sorrindo. O problema, na verdade, foi a falta de experiência da dupla que não soube como adaptar tudo. O resultado? Eles recomeçaram tudo. Do zero.

“Hoje, eu penso que foi a melhor coisa. Foi um renascimento interno. A gente precisava desapegar um pouco de algumas decisões e essa foi uma boa oportunidade”, explica Matheus.

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Voltaram os irmãos para o computador compartilhado novamente, em regime de 12 horas. Assim, eles conseguiram refazer a demo, agora chamada de “demo um”, e que deu projeções para os dois.

Contudo, esta versão de demonstração ainda é pequena, traz pouco da história. Não conta ainda com a personagem principal, Audrey, nem um contexto. A proposta é mostrar algumas mecânicas de exploração, além da capacidade de criar um ambiente bonito e fluido para Internum.

Aqui, já é possível ver as referências principais da dupla. A movimentação do robô-teste lembra Resident Evil, com a câmera bem colada ao ombro. Nos momentos de acionar botões e interagir com objetos, a câmera fica em primeira pessoa. Eles adicionam detalhes em quadros e paredes para garantir uma gameplay mais imersiva. Tudo com muita inspiração das principais franquias de survival horror dos últimos anos.

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Vale ressaltar: isso feito com apenas R$ 150, sem contar o investimento de tempo de ambos e o computador que dividiam. “Isso foi para comprar assets, cenários, texturas. A gente não era rico, e nem é, na verdade. Então, tivemos que escolher bem a dedo”, comenta Douglas.

Investimento

Apesar de ainda não ser o jogo que ambos querem colocar no mercado, a demo um de Internum se transformou no portfólio dos irmãos. Veja bem: imagine chegar para qualquer empresa e dizer: “fizemos isso com um computador compartilhado e R$ 150”.

Foi assim que, em 2019, a Unbelievable Game Studios virou Unbelievable Gameworks, uma mudança de nome que refletia também na postura. Os irmãos conseguiram pegar projetos que permitiram uma entrada de dinheiro, logo, novos investimentos.

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“Depois da demo um, muitas pessoas viram nosso trabalho e a gente conseguiu pegar alguns projetos para fora. A gente não queria depender de uma publisher. Assim, a gente fez dinheiro girar e financiar nosso projeto” pontua Matheus.

Foi só em meados de 2019, três anos depois da idealização de Internum, que eles pararam de dividir o mesmo computador e puderam ir para um potente PC extra.

Com isso, hoje, eles contam com quatro pessoas na equipe, além de eventuais contratações quando precisam de algo específico.

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E Internum?

Bom, melhor estruturados, eles conseguem concentrar mais forças no jogo que fez nascer tudo isso. Além do game, também se concentram em outro projeto que preferem não divulgar.

O trabalho principal, contudo, é fazer a demo dois de Internum. Agora, não há mais só o aspecto técnico, mas grande parte das mecânicas do jogo final. Esta demo já vai contar com Audrey, criada com captura de movimentos. O ambiente também já deve ser o final, com esta versão já pincelando mais sobre a narrativa do game a ser lançado.

Douglas fica focado nos personagens e desenvolvimento da história, enquanto Matheus cuida de toda ambientação. A dupla ainda conta com Anderson Morales, perito que foi chefe da Seção de Perícia de Local de Crime em Porto Alegre e é consultor para dar veracidade ao universo de Internum. Por fim, Guilherme Padilha colabora na programação de tudo.

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“Não queremos só um jogo com mecânicas jogadas assim, sem motivo. A gente quer um ambiente que faça sentido para o jogador entrar, mesmo”, explica Matheus.

Portanto, a demo dois já não é mais desenvolvida com R$ 150. Aliás, vai muito além disso. A companhia já investiu R$ 20 mil neste projeto. A proposta é tentar lançar a demo dois ainda em 2020, com o intuito de apresentar o projeto para mais gente.

Os irmãos estão apostando todas as suas fichas nisso. A expectativa é de que eles ainda precisem de, pelo menos, mais R$ 30 mil para lançar um jogo com 6 a 8 horas de campanha. Para um título AAA, R$ 50 mil reais de investimento não é nem o começo.

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Quando Internum vai chegar?

Quanto a essa pergunta, os irmãos ainda não conseguem precisar uma data. “O jogo completo vai depender da demo dois. Assim que a gente tiver uma demo dois, podemos ter mais investimentos e terminar o jogo em um ou dois anos. Mas se a gente tiver que autofinanciar o projeto, vai demorar mais”, finaliza Douglas.

O time ainda carrega uma campanha de financiamento coletivo no Apoia.se. Eles buscam uma meta de R$ 1 mil por mês, mas contam com menos de R$ 400 mensais.

Caso você queira experimentar a demo um, já publicada, bastante entrar no site da Unbelievable Gameworks.

Fonte: IcoPartners