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Análise | Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy é a coletânea definitiva da série

Por| 09 de Abril de 2019 às 20h30

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Capcom
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Vista seu terno e gravata e prepare-se para o julgamento, pois Phoenix Wright: Ace Attorney está de volta! Lançada em 2001 para o Game Boy Advance, a série de visual novels da Capcom está quase completando 20 anos e as comemorações parecem já ter começado com o lançamento de Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy, uma coletânea digital que reúne os três jogos principais da franquia em um só pacote para PC, Playstation 4, Switch e Xbox One.

Curioso relembrar que o sucesso da série parecia improvável no começo da década passada, quando o título e suas sequências estrearam exclusivamente no Japão e passaram despercebidos por muita gente. A chegada ao Ocidente só ocorreu em 2005, quando o primeiro título foi adaptado e relançado no Nintendo DS em todo o mundo.

Não demorou muito para esse movimento de expansão se mostrar acertado: Phoenix Wright: Ace Attorney se tornou uma das séries mais aclamadas e adoradas da Capcom e seu personagem principal, o advogado novato que dá nome à série, ganhou status de celebridade, sendo vendido como boneco e pelúcia e fazendo participações em jogos como Professor Layton vs Phoenix Wright e no hall de lutadores de Marvel vs Capcom 3.

A narrativa bem planejada, o enredo muito bem escrito e os personagens muito, mas muito carismáticos e cativantes foram os principais ingredientes que fizeram de Phoenix Wright: Ace Attorney não só referência, mas um dos ápices do gênero de visual novels. Agora, tudo isso está de volta para quem não pôde experimentá-lo no GBA ou no Nintendo DS ou quem quer reviver essa experiência em alta resolução.

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Melhorias bem-vindas

Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy reúne os três jogos principais da série da Capcom em um só pacote. Isso significa que o bundle (disponível exclusivamente no formato digital) inclui Phoenix Wright: Ace Attorney, Phoenix Wright: Ace Attorney − Justice for All e Phoenix Wright: Ace Attorney − Trials and Tribulations, totalizando 14 casos únicos e nada menos que cerca de 60 horas de gameplay.

É verdade que todos esses títulos já foram disponibilizados em plataformas como o Wii, 3DS e dispositivos móveis iOS, mas, à exceção do primeiro relançamento para Nintendo DS, nenhum deles é realmente digno de nota e conta com alguns defeitos que foram bastante criticados pelos fãs da série. Agora, entretanto, tudo muda e a Capcom mostra que rolou um carinho todo especial para fazer de Trilogy a ediçao definitiva da série.

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A primeira prova disso é literalmente jogada em nossa cara quando iniciamos o primeiro caso do game. Em vez de gráficos pixelados, o que vemos são sprites retrabalhados, com contornos perfeitos e cores mais vibrantes do que nunca, lembrando muito pouco (na verdade, absolutamente nada) os pixels estourados da versão original e das que foram relançadas posteriormente. As animações também ganharam atenção especial, já que deixaram a desejar e foram taxadas de "preguiçosas" na versão em alta definição para smartphones e tablets da Apple — agora, elas são muito mais fluidas e naturais, mantendo-se fiéis às originais.

Além disso, a produtora japonesa teve todo um esmero para adaptar a interface do jogo para as telonas e garantir uma jogabilidade de qualidade. Tomando a edição do DS como exemplo, tudo ali foi pensado para funcionar com a canetinha e até com o microfone do portátil da Nintendo. Provas, arquivos, perfis... Absolutamente tudo estava a um ou dois toques, ou até mesmo um berro, de distância do jogador. Apesar de isso ser possível de replicar, pelo menos em partes, no PC e no Switch, a Capcom optou por um padrão universal que favorece também os consoles da Sony e Microsoft. Portanto, o que vemos aqui são interfaces totalmente adaptadas aos joysticks e que pedem o pressionamento de um botão uma, duas ou no máximo três vezes até concluir a ação desejada.

Outro elemento que também foi ajustado e que pode parecer bobagem foi o texto do jogo — dos menus aos dos diálogos. É bem possível que você já tenha reclamado dos jogos atuais trazerem legendas e textos de menu ingame muito pequenos e quase ilegíveis até mesmo em telas de 55 polegadas, mas isso não acontece em Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy. Como absolutamente todo o jogo depende da leitura de texto, a Capcom tratou de colocá-lo em uma fonte grande e forte e, nos diálogos, dentro de uma caixa de texto que tem três opções de opacidade para ajudar na leitura. Um detalhezinho que pode passar despercebido por muitos, mas que impacta diretamente na experiência e gameplay do jogo.

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Take that!

Fora os ajustes feitos pela Capcom para tornar os jogos palatáveis em telas maiores, Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy traz de volta todos os elementos que consagraram a série nas últimas duas décadas.

O grande barato dos três games são as histórias que ele conta. Para quem não é familiarizado com eles, você controla Phoenix Wright, um advogado de defesa novato cujo primeiro caso é o assassinato de uma modelo em que o principal suspeito é um atrapalhado e azarado amigo de infância. Cabe a você colher provas, ouvir depoimentos de testemunhas, argumentar e apontar contradições para salvar a pele do seu cliente.

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Esse primeiro caso serve de introdução às mecânicas do game e o que vemos dali em diante é a introdução de alguns novos elementos e uma crescente no nível de dificuldade e complexidade dos casos, que são divididos em dois momentos distintos. O primeiro deles são os dias de investigação, em que Wright vai à rua investigar a cena do crime em busca de provas e interrogar pessoas para construir sua defesa em torno dos acontecimentos. É uma tarefa que exige muitas idas e vindas para compreender exatamente o que rolou e chegar preparado no próximo momento: o julgamento.

Todo o julgamento ocorre na corte de justiça diante do juiz, do promotor de justiça, audiência e testemunhas. É aqui onde as coisas realmente pegam fogo e exigem atenção do jogador. Isso porque o seguimento do julgamento depende da análise dos depoimentos para encontrar contradições baseadas nas provas e autos que você tem à sua disposição. Faça objeções infundadas e você vai perdendo "credibilidade" com o juiz e eventualmente o julgamento será encerrado com um veredito desfavorável, exigindo que você retorne tudo de um checkpoint.

Falando assim, tudo pode parecer muito simplório e até mesmo tedioso, mas é a forma como tudo é contado e os "elementos acessórios" utilizados pela Capcom que tornam os desdobramentos empolgantes, sombrios e muitas vezes hilários.

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Embora cada caso funcione muito bem como capítulos isolados, é muito legal seguir a sequência proposta pelos jogos e perceber que há uma "macrohistória" sendo contada ali, com todos os acontecimentos ligados uns aos outros de alguma forma. O roteiro e os diálogos são todos muito bem amarrados e dão uma sensação de seguimento à história que nos ajuda não só a entender a psique de cada personagem, suas motivações e dificuldades, como também nos tornarmos íntimos deles.

Apesar dessa sensação de pessoalidade com cada personagem, há momentos que o roteiro nos faz duvidar da inocência ou culpa de alguns deles, traduzindo muito bem aquele ditado de que o conceito de Justiça é uma gigantesca "zona cinzeta". Também há momentos em que nos enfiamos em situações que parecem sem saída, com provas dificílimas de serem achadas e depoimentos que parecem intransponíveis de tão bem montados que são. Quando isso acontece, entra em cena o mais importante "elemento acessório" que citei dois parágrafos atrás: a trilha sonora. Embora ela não tenha sido remasterizada e soe praticamente igual à versão do GBA e DS, ainda assim é decisiva para compreendermos a que pé anda a investigação, se estamos próximos de fazer alguém "abrir o bico" ou de encontrarmos uma prova decisiva, e se conseguimos encontrar um furo em algum depoimento, por exemplo.

Além disso, há situações de total desespero que rendem momentos hilários de fazer chorar de rir. Um deles ocorre em um caso de assassinato em que o acusado não colabora nem um pouco para provar sua inocência e uma das testemunhas se recusa a falar. O que resta a Phoenix Wright? Interrogar o papagaio da testemunha, que aparentemente também sabe o que aconteceu. Tudo isso sob juramento, claro. Não precisa dizer mais nada para saber que isso não dá em nada a não ser em muitas gargalhadas.

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Veredito

Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy traz o que há de melhor em uma das melhores séries de visual novel de todos os tempos. Todos os elementos que consagraram o título original e suas continuações no Game Boy Advance e no Nintendo DS estão aqui, mas cuidadosamente repaginados e adaptados para proporcionar uma experiência ímpar a novatos na franquia e fãs de longa data que querem reviver tudo isso em telas maiores.

Mesmo após tantos anos, o texto de Trilogy continua inteligente, empolgante e desafiador, reforçando a ideia de que esses jogos são atemporais e envelheceram muitíssimo bem. Porém, a única objeção é em relação a esse aspecto da coletânea: tudo está em inglês ou japonês, sem qualquer traço do português brasileiro. Para três jogos que se apoiam quase que única e exclusivamente apenas em texto, isso pode ser uma barreira e repelir jogadores que não têm tanta familiaridade com um dos dois idiomas. Olhando pelo lado positivo da coisa, basta um entendimento básico e vontade de aprender mais para conseguir avançar na história, já que seus diálogos não são rebuscados nem complexos, bastando o auxílio de um dicionário ou do Google Tradutor para se sair bem.

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Deixando esse contratempo de lado, Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy é obrigatório para os fãs do gênero. Muito mais do que isso, ele pode ser o pontapé inicial para o relançamento dos spin-offs da série para consoles de mesa da atual geração e, quem sabe, de um novo jogo da série principal em 2021, quando ela efetivamente completará 20 anos. Vamos torcer!

Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy está disponível para PC, PlayStation 4, Switch e Xbox One. No Canaltech, o jogo foi analisado no Xbox One X com cópia gentilmente cedida pela Capcom.