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Análise | Onimusha: Warlords envelheceu mal, mas diverte gamers mais nostálgicos

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(Captura de Imagem: Rafael Arbulu/Canaltech)
(Captura de Imagem: Rafael Arbulu/Canaltech)

O início dos anos 2000 foram marcados por uma série de lançamentos de jogos de ação para o PlayStation 2. E ainda que as mecânicas de jogabilidade daquela época sejam hoje nada mais do que relíquias sem a menor chance de competir com as produções milionárias que vemos hoje, há ainda um sabor — ao menos, para nós mais velhos — de revisitar com mais idade um jogo com desafios que lhe causavam dores de cabeça, apenas para perceber novas perspectivas e abordagens que nos fazem passar por trechos de maneiras completamente novas.

Onimusha: Warlords é um destes raros casos em que “o ruim, é bom”: tudo o que os mais velhos, que passaram a adolescência de 2001 fatiando demônios com espadas em pleno Japão feudal, se lembram, está lá. A câmera fixa, os movimentos de combate meio “quebrados” e o incessantemente irritante pirralho do Yumemaru, nenhum detalhe foi esquecido pela Capcom.

E talvez seja esse também o seu maior problema: enquanto pessoas que já passaram dos 30 (como eu) são capazes de jogar Onimusha com um sorriso no rosto, mesmo diante de tamanha simplicidade, gamers mais novos certamente farão cara feia por causa das mesmas razões citadas. Particularmente, não vejo muito sentido em um remaster se ele não se apresentar como uma jóia antiga para gerações mais novas. Spyro: The Reignited Trilogy fez isso muito bem (dadas as devidas diferenças: Spyro é um remake completo); Onimusha, sequer tenta essa sorte.

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A dose certa de “antiquado”

Para um jogo com quase 20 anos (Warlords foi um dos títulos de estreia do PlayStation 2, lançado em 2001), Onimusha traz uma simplicidade ímpar, notavelmente ausente até mesmo nos blockbusters de hoje. Com menos de um minuto de jogo, você já está travando espadas com inimigos, sem nem mesmo um tutorial. O jogo não faz nada para guiar você pela mão aos primeiros minutos e, a cada item adquirido, é melhor que você perca uns segundos lendo a descrição — ou arrisque não saber o que ele faz.

E isso é ótimo.

Tudo em Onimusha: Warlords parece ter sido feito na dosagem correta: inimigos se repetem, mas não a ponto de ser algo nauseante e enfadonho. A variedade de oponentes dentro do mesmo cenário também é de se elogiar, já que na mesma tela, você pode enfrentar ninjas ágeis, esqueletos samurais de combate corpo a corpo, monstros lentos, mas com muita resistência e até mesmo oponentes que disparam projéteis. Sem falar que as lutas com chefões exigem um mínimo de estratégia — o mínimo suficiente para que não seja nada complicado, mas o mínimo entregue para que não seja só mais uma lutinha besta.

Aliás, enfrentar grandes grupos (e chefões acompanhados de grandes grupos) é um show à parte: você vai ter que derrubar de seu caminho alguns adversários “da ralé” para chegar perto do grande malvadão que pega dois terços da tela, tudo isso, se perguntando se vale a pena ou não atacar oponentes caídos com uma espadada finalizadora que, embora seja garantida de matar um inimigo, deixa você aberto para o ataque de outros.

Ah, e há elementos de RPG presentes na exploração por itens secretos (os malditos “Fluorites”) e até a área secreta do “Dark Realm” (“Reino da Escuridão”), que segue o estilo dos antigos pagodes japoneses (o tipo de templo da era feudal, não a música do Katinguelê) onde cada andar traz várias ondas de inimigos cada vez mais fortes até o final, onde a vitória lhe dá um prêmio secreto. É uma pitadinha bem leve de Final Fantasy, mas sem mundos abertos, horas de side quests ou diálogos secretos com personagens imperceptíveis.

Ao todo, você tem três espadas mágicas disponíveis (quatro, se você for esperto e descobrir alguns segredos): uma katana média com o poder do trovão, uma espada longa de duas mãos com o poder do fogo, e uma naginata (um tipo de lança com lâminas nas duas pontas) que invoca um minifuracão. Todas elas contam com três níveis de evolução onde a moeda de troca são as almas de demônios que você derrota, coletadas com a luva no braço direito do protagonista Samanosuke Akechi.

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O uso de cada uma destas armas, bem como a ação de absorver as almas em si, remetem novamente à questão estratégica de combate: ao derrubar um oponente, vale mais à pena parar para absorver sua alma e ficar aberto a ataques dos outros? Ou você continua o combate e arrisca que a tal alma desapareça sem coleta?

São minúcias e pequenas anedotas de pensamento que auxiliam você a ajustar sua estratégia em tempo real, algo que, se minha memória de velho não me falha, não víamos nem veríamos com frequência até bem o final daquela geração de consoles, anos depois.

Isso não vai atrair os “9vinho”

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Justamente a simplicidade e o sustento em conceitos antiquados de gameplay que tanto elogiei acima, são o que pode afastar Onimusha: Warlords do público mais jovem. O motivo disso não poderia ser outro senão os aspectos técnicos do jogo: avaliando criteriosamente, Onimusha é muito, mas muito feio.

Os visuais deste remaster, segundo prometido pela Capcom, possuem uma demão extra de retexturização em HD, mas ora eles são imperceptíveis, ora eles expõem erros grotescos ausentes da visão no PlayStation 2. Em essência, não estamos falando de um remaster completo, apenas um “tapa” no visual de um jogo de duas décadas de vida — e rapaz… essas duas décadas são bem aparentes. Em alguns momentos, os personagens na tela estão de olhos tão arregalados que parecem ter um “tique” nas vistas, adicionando à estranheza; e as cutscenes limitam-se aos personagens...abrirem a boca quando falam, mas seus dedos não se movem, parecendo blocos com linhas desenhadas no lugar das mãos.

O áudio não melhora muito a situação: flutuações estranhas no volume fazem com que pedaços inteiros de conversas ora sumam, quase inaudíveis; ora gritem, a ponto de você diminuir o volume. E os diálogos…

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Os.
Diálogos.
São.
Muito.
Toscos.

Eu entendo que isso seja um remaster e que, evidentemente, estamos revisitando o mesmo jogo, e que esperar alguma alteração neste aspecto pode ser bem mais o trintão em mim sendo ranzinza e chato do que algo factualmente corrigível. Mas a linguagem empolada, os discursos bobinhos e motivacionais sem sentido, trazem de forma impiedosa aquela sensação de vergonha alheia. A falta de contemporaneidade e sentido em certas situações deixam você pensando em porque certas conversas acontecem quando tem um pandemônio infernal lá fora lhe esperando.

Finalmente, a câmera fixa: esse, penso eu, será o ponto que mais vai irritar os jogadores mais novos. Mesmo se tratando de um jogo de ação, Onimusha: Warlords tentou à época inovar o gênero de survival horror: fora as armas e zumbis, entram as espadas e demônios. Mas a disposição de elementos do cenário e as “esquinas” dos corredores contribuem — em demasia — para que você tome golpes gratuitos de um oponente que você sequer viu chegar, já que ele estava em um ponto que a câmera não pegou. Isso é especialmente irritante com arqueiros inimigos. Você não os vê, mas as flechas deles vão acertá-lo.

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A curtíssima duração também não vai ganhar pontos com ninguém: para fazer este review, terminei o jogo três vezes, uma vez em cada nível de dificuldade (Fácil, Médio, Difícil). O meu tempo total foi de… pouco mais de 10 horas. Sim, total. A aventura toda tem uma média de três horas, quatro se você resolver enrolar e explorar.

Tá, mas vale a compra?

Depende. Como disse no início do texto, este remaster de Onimusha: Warlords apela especificamente aos jogadores mais velhos. Não é possível dizer que isso foi intencional da parte da Capcom ou não, mas quem começou a jogar videogame no final da era PS2 ou mesmo pegou apenas a era PS3 em diante, tem grandes chances de não gostar.

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A exceção à regra é se o jogador mais jovem manter uma cabeça aberta e saber que este remaster é uma reprodução fiel de algo que foi lançado há quase 20 anos. É quase como tentar ouvir músicas digitais de alta qualidade em um MP3 player de 15 anos atrás. Naquela época, um aparelhinho para tocar músicas com 128 ou 256 MB (sim, “megas”) de armazenamento era o suprassumo da experiência para audiófilos. Hoje, ele não faria nem cócegas em uma indústria recheada de smartphones onde 32 GB não seguram nem suas selfies.

Ao menos, Onimusha: Warlords dá para jogar no console.

Espero de verdade que a Capcom tenha sucesso com este jogo, porém. O mercado precisa de um título com mais simplicidade e características até mesmo bobas. E “Onimusha” contou com quatro jogos em sua franquia, o que sinaliza o sucesso — e o potencial para continuar os remasters —, ainda que careça de uma ou duas correções.