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Análise | Nioh 2 encanta e confunde com novos elementos de gameplay

Por| 10 de Março de 2020 às 19h00

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Sony Interactive Entertainment
Sony Interactive Entertainment
PlayStation 4

Desde que Dark Souls II caiu no gosto dos jogadores em 2014, muitas empresas tentam imitar a chamada fórmula soulslike. Uma foi Nioh, que usava todas as características do jogo da FromSoftware e as mesclava com alguns toques particulares. O game não foi exatamente um sucesso de crítica, mas trouxe um bom tempero para o gênero.

Talvez por isso que a continuação, Nioh 2, fosse tão aguardada. A expectativa era de que a equipe avançasse no experimento do jogo original lançado em 2017, trazendo ainda mais toques para as características de um soulslike. De fato, o time assim o fez, adicionando mais profundidade à gameplay de Nioh 2, mas renegando a história a um pano de fundo de porradaria.

A primeira grande mudança para quem jogou o primeiro título da série já está no personagem principal. Se no primeiro título jogava-se com o samurai ocidental William, agora o jogador pode personalizar seu “boneco”. A lista de faces e modificadores é extensa, com a possibilidade de fazer praticamente o personagem que quiser, dentro de uma estética oriental.

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Com isso, a Team Ninja também lançou mão da ferramenta do protagonista silencioso. Veja bem, esta é uma técnica feita para que o jogador se sinta um personagem inserido dentro da trama, porém como ele não fala nada, o resultado é um protagonista insosso, sem carisma. Como em vários outros jogos que utilizam da mesma ferramenta, a consequência disso é que as ações do protagonista se perdem por falta de profundidade dele.

O primeiro game é sobre a tentativa de William o Japão feudal. Nioh 2 segue com essa ideia, contando a história de Toyotomi Hideyoshi, o daimô que precedeu a Nobunaga como um dos grandes líderes do Japão de 1500. Embora ele não seja efetivamente citado conforme a história, há construções inspiradas nos fortes que ele fez, bom como em suas tomadas de decisão. Isso dá à Nioh 2 uma ambientação bastante interessante.

Contudo, o game não quer contar uma história real. Aliás, longe disso. A continuação se permite ser mais fantasiosa — prova disso é o emprego de yokais, que funcionam como demônios que conseguem transitar entre o reino dos homens e o inferno. Inseridos na mitologia japonesa, eles aparecem aqui como grandes monstros, inimigos mais fortes que seu personagem tem que enfrentar.

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A parte interessante é que o personagem principal também é um yokai, podendo se transformar em uma forma monstruosa em vários momentos das batalhas.

Essa também é uma nova mecânica de Nioh 2. O jogador pode absorver as habilidades dos inimigos mais fortes depois de vencê-los. Há um yokai parecido a um macaco, por exemplo, que atira uma lança no inimigo. Quando você o vence, também pode ter a mesma habilidade de jogar uma forte lança no adversário. Outro evoca um grande martelo e dá na cabeça do adversário, também retirando bastante vida ou vigor.

Entretanto, não pense que isso é simples, afinal estamos falando de um soullike, então pode esperar que a mão da morte o visitará várias e várias vezes pela jogatina.

O que tem de souls aqui? 

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Muitas características do gênero souslike estão presentes em Nioh 2. Por exemplo, é preciso passar por um mapa com inimigos estrategicamente posicionados para que você crie a sua modalidade de avanço. A dica é: cair em cima deles de uma vez, mesmo com os mais fracotes, nunca é uma boa ideia.

O mapa traz pequenos pontos de salvamento pelo caminho, em altares de oração. Quando se reza, a energia é recuperada, mas todos os inimigos ressuscitam, colocando peso à escolha.

Assim como nos games da série Souls, os ambientes de Nioh 2 apresentam cortes de caminho que, assim que abertos, tornam toda jornada bem mais rápida. Há poucos itens de cura e alguns modificadores para ajudar no trajeto. Além disso, a morte também significa perder a sua experiência, sendo necessário ir até seu cadáver para reaver seu progresso não salvo.

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Em suma, Nioh 2 mantém todo traço do que se espera de um game souslike.

Nada de diferente? 

Um dos principais temperos de Nioh é seu combate mais aprofundado. Muito mais aprofundado. O jogador conta com uma gama de armas que impressiona, chegando a nove modos de equipamentos distintos. Ou seja, a Team Ninja investiu em quase uma dezena de jeitos de enfrentar os inimigos, sendo que a escolha da arma realmente modifica bastante a gameplay. Para cada uma delas, é possível escolher três tipos diferentes de posturas: com a arma acima, em altura média ou abaixo do corpo.

Basicamente, essas três posições significam uma relação de força, velocidade e vigor. Dar um golpe, correr ou se defender gasta uma barra de energia, aqui chamada de Ki. Assim, o lance da batalha é pesar agressividade e defesa de acordo com a barra de Ki.

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Quando a postura está mais alta, os golpes tendem a ser mais fortes e lentos, gastando mais Ki. Já mais abaixo, acontece o contrário, com ataques velozes, que gastam menos Ki, mas que não são tão efetivos assim. A posição mediana equilibra um pouco essas duas características.

Toda essa longa explicação serve para dizer que a batalha da franquia Nioh é tão complexa que envolve ao menos 27 estilos de combate com diferentes armas (9 delas, cada uma com 3 posições).

Como se isso já não fosse o bastante, ainda há uma gigantesca árvore de habilidades para cada uma das 27 combinações, além de características gerais de cada tipo de arma. Ou seja, entender completamente o combate de Nioh 2 é para poucos. E ainda há um elemento extra adicionado pela Team Ninja: os golpes especiais da forma yokai. Eles são variados e podem ajudar na defesa e ataque conforme a necessidade do jogador em dois botões diferentes, além de um fixo.

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Se você ainda não perdeu a conta, estamos falando de 9 armas, com 3 posições cada, além de outras 2 opções de especiais somada a um botão fixo. Assim, (9x3+2+1) são basicamente 30 combinações bem distintas para o jogador evoluir e aprender.

Dito isso, fica claro que o objetivo da Team Ninja era dar ao jogador muito mais um game que pega pela jogabilidade que por uma história realmente envolvente. Mas será que isso funciona?

Excesso 

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Nioh 2 é um jogo difícil. Não somente porque não traz uma opção de modo mais fácil, mas devido a sua complexidade. Diante de tantas possibilidades, os desenvolvedores se veem obrigados a iniciar o título com um tutorial. Não se trata de algo orgânico que faz parte da trama, porém de uma arena completamente destacada do resto para ensinar todas as combinações de golpes.

Além disso, o game é uma sucessão de menus e escolhas. Após fazer o seu personagem, é preciso pegar o seu animal espiritual (Baleia, Dragão, Macaco ou outro), que representa elementos como água, fogo, trovão e assim por diante.

Veja bem, para alguém que nunca colocou a mão em um game da série pode parecer complicado, com razão. Já na primeira área somos apresentados a uma série de conceitos, um atrás do outro, sem muito tempo de assimilação entre eles.

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Junte a isso um menu típico de RPG, que coloca especificações para cada uma das armas e pede que você analise cada característica de seus equipamentos para seguir adiante. Tudo sem a mínima vontade de simplificar para o jogador.

Assim, é possível que uma pessoa menos experiente na série caia em Nioh 2 e se sinta completamente perdido diante de sua imensidão. Ou seja, ter tantas variações se mostra uma excelente diversificação para o gênero, mas traz uma execução questionável que só torna toda jogabilidade ainda mais confusa.

Colher de chá 

Nioh 2, contudo, tem algumas facilidades que ajudam a progredir no jogo, sobretudo na hora de encarar os chefões das fases: ele é um game de “grind”. A quem não está familiarizado com o termo, trata-se da possibilidade de treinar seu personagem, aumentar suas habilidades e características, e buscar armas melhores para conseguir sobrepor um inimigo.

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Diferente de Sekiro: Shadows Die Twice, em que você tem uma espada com poucas possibilidades de melhoria, o objetivo de Nioh 2 é caçar os melhores itens e subir de nível com seu personagem. Essa pode ser considerada uma vantagem, já que o jogador que está preso e não consegue matar um determinado chefe pode procurar outros inimigos, comprar itens e buscar melhorias para então voltar mais poderoso, dependendo menos de habilidades manuais.

Nioh 2 também traz outra novidade nesse aspecto. Ele conta com multiplayer para até três pessoas em uma mesma fase. Só de poder se juntar a amigos para seguir pela trama já é um excelente alívio para quem não tem tempo ou disposição de fazer seu personagem ficar tão mais poderoso.

Entretanto, não é preciso nem que seus amigos estejam online para que você receba alguma ajuda. O jogo conta com um espaço chamado "túmulos benevolentes", em que você pode invocar o espírito do personagem de outro jogador e utilizá-lo com auxílio da inteligência artificial.

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Claro que a movimentação e escolhas não são exatamente as mesmas de alguém de carne e osso, mas a inteligência artificial criada pelos desenvolvedores faz o seu trabalho de modo convincente e suficiente.

Nioh 2 vela a pena?

Se você é um amante do gênero souslike com uma bela pitada de loots misturando elementos de RPG, provavelmente este é um título para você. Entretanto, não vá para ele esperando uma jogabilidade guiada pela narrativa. Nioh 2 segue os mesmos elementos de fase do primeiro. Ou seja, há uma missão, que presume passar por um mapa e eliminar um chefe, fazendo isso em looping até o final do game (com algumas variações).

A adição do elemento multiplayer, mesmo sem a necessidade de colegas online, colabora bastante para um ritmo mais gostoso e menos penoso. Fora disso, ele é tão complexo, mas tão complexo, que pode afastar aqueles que não estão nem um pouco animados em mergulhar de cabeça em tantas opções e possibilidades.

Nioh 2 tem lançamento marcado para o dia 13 de março de 2020, exclusivamente para o PlayStation 4. Ele foi desenvolvido pela Team Ninja e publicado pela Koei Tecmo em parceria com a Sony. No Canaltech, o jogo foi analisado com uma cópia gentilmente cedida pela Sony.